Passeávamos pela Nazaré, aguardando a chegada de uma amiga que nas semanas anteriores, encornara o marido pelos corredores da fábrica em que trabalhava. Metera o desgraçado a pedalar na bicicleta conjugal, isto se pretendia ir a algum lado ao colo de alguém, e apenas se o amante mantivesse a jura de ficar com a ninfeta decadente após a ruptura. Coisa que não fizera. Havia sido honesto, amiga damos umas cambalhotas mas nunca deixarei a minha mulher. A mão dela na minha produzia um suor mútuo, que para mim soava a filhos por nascer, e destino por cumprir. Era um desfecho pelo qual eu optava sem forçar ou ser forçado por ninguém. Finalmente a musa que me amaria pelo que sou e não pelo que posso dar. Mas não. Despejada pelo foco de emoção na vida, a amiga, ressabiada com a existência, castigaria o marido com exigências sacrificiais no altar do matrimónio. Eu pensava comigo, a lata. Mas não me dizia respeito, ergo não passava daí, da minha capacidade judicativa em surdina. O bumble tem destas merdas. Uma gaja que ontem te dizia que te amava por palavras escritas e por ser ‘sapiosexual’, e te desliga por dá cá aquela palha, é uma outra gaja que hoje te liga e diz que quer que vás a casa dela e a fodas sem lhe dizer boa noite. Ó amiga. Um gajo aproveita estas merdas que as damas estão loucas e não sabem o que dizem ou fazem. E assim lá vai um gajo ejaculando a maldade. Os três riscos brancos na mesa, assim que lhe entrei pela porta adentro, eram o pagamento adiantado ali para as zonas da Praça do Chile. Ó amiga, estás a meter-te com malta dos subúrbios. Acabadinha de chegar das alturas da Bretanha, tratara-me como qualquer pila ao domicílio. Três riscas de cocaína é o preço actual, mais fácil que dar dinheiro. À 3ª foda, isto é, à 3ª vez que as pernas dela me envolviam como que a pedir tréguas, parei e beijei-a na boca. Perguntei se era para continuar ou só queria foda. Fez cara de estrangeira com cara de parva. Ok amiga.São 6 da manhã e volto para o placebo de vida burguesa. E lá se acabou a cerveja.
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O seu olhar triste e vencido, que voava sobre o horizonte, exprimia uma profunda desilusão, daquelas que fazem perder a vontade de continuar.
Daquelas que mostram sem sombra de dúvida, que todas as nossas crenças anteriores, não passaram de logros em cima de logros, nos quais escolhemos acreditar. Abordei-o e perguntei-lhe se estava a gostar da pequena festa onde estávamos como convidados. Já o conhecia de vista, e o que sabia da vida dele resumia-se ao que alguns amigos em comum, bisbilhoteiros, resolviam partilhar se solicitação. Ao que parece era um assunto de rabos de saia, para variar. A expressão dele era de desespero, de obter uma 2ª opinião sobre um qualquer fenómeno que não conhecia e ao mesmo tempo rejeitava a evidência como resposta. Lá me contou que uma tipa lhe fizera ghosting, apesar de tudo parecer estar a correr bem, ele jogando as cartas todas bem, na sua ideia e avaliação. Eu disse-lhe que se fosse tentar interpretar todos os motivos plausíveis para o comportamento das gajas, iria durar pouco tempo nesta Terra. Provavelmente apareceu outro melhor, para a visão dela, na jogada. Se calhar estava apenas a sugar-te atenção, para se sentir importante e desejada, e ia-te convencendo que lá longe ao final do túnel, lá estaria uma promessa de ambos de mãos dadas. Se calhar até, está ressabiada com um outro qualquer, que a comeu e cuspiu fora, e agora vinga-se em quem nada teve com isso a ver, apenas pelo facto de serem homens. Sabem como ninguém o carácter lógico do nosso existir, e do quão impactante, são as acções inexplicáveis, para quem ainda cai na esparrela de lhes tentar compreender o comportamento. A arma é sempre a mesma, e dupla, com o ghosting, a gaja evita a frontalidade de ter de passar por ‘má’ que opera a ruptura, e enfia o punhal da auto dúvida na carne do moribundo, que assim pensará ad nauseam, que raio está na base de uma decisão e acção, de outro, a partir do seu comportamento. Boa parte delas, é até extra simpática e promissoras ao início, exactamente para isso, para jogar ao ‘pisa’, do género, mete aqui o pézinho, vá lá que eu não piso. Metido, desce o salto alto agulha, apenas visando esmagar os carpos. Bem, eu explicava isto, ele lá reconhecia algumas evidências, alguma lógica, mas negava. Estava demasiado preso à generalização positiva de todas as mulheres. Perguntei a idade da matrona. 38. Tens de ver também que o gajedo nessa idade tem pouca solicitação. As doses de atenção que as validam desde os 16, começam a reduzir-se, e com elas, a capacidade de viverem consigo mesmas. Vingam-se da vida então, com estes joguinhos de magoar, dando trela com o objectivo específico de a cortar mais à frente, para sentirem que ainda têm algum poder de decisão. Mas todos estes joguinhos, só os fazem com aqueles que claramente nunca são na sua mente, escolhas possíveis. Esquece tentar formar intimidade com alguma delas. É uma peça de teatro, onde te arranjam um papel de figurino, apenas para confirmar o guião prévio. Só há uma forma possível de lidar com isto. «-Qual é?» Perguntou ele, não por curiosidade, mas para mostrar de alguma forma que me agradecia o esforço verborreico por mim despendido para o animar. «-É rirmo-nos. Na cara delas, da sua natureza, na natureza deste mundo. Como Camus mete Sísifo a fazer montanha abaixo. Rir, a melhor vingança é ser feliz. Repara, é como tudo o resto. O que te prende, controla-te.» Ele não ficou convencido. Dei-lhe uma palmada no ombro e disse-lhe que o problema dele não era o comportamento estúpido das gajas, nem o constatar que boa parte delas avalia de forma infantil o seu valor como potencial parceiro de macacadas horizontais. Disse-lhe que o problema dele, é um investimento prévio, numa promessa de grande relação com alguém. Tu enamoras-te é pelo projecto efabulado, de teres finalmente uma relação que te preenche, com alguém que te deseja. E quando deixam de te ligar ou responder, não é a falta delas que te mói, é a obliteração da fantasia que animaste, apenas para poderes justificar a ti mesmo, o esconderes que a Dulcineia não passava de uma verrugosa taberneira. Tu estás viúvo de uma grande relação, precisamente porque tens andado sedento de uma. E vais continuar, porque não fazes tu mesmo o teu teatro. Queres uma gaja que goste de ti como gostas dela, que promova a relação de ambos com sexo constante e planos de actividades em comum, que goste genuinamente de partilhar actividades contigo, e não que persista em ti aquela suspeita que ela tenta apenas agradar-te, visitando um museu ou indo comprar uns livros, escondendo mal, o enfado e as trombas. Tu queres é uma relação feliz, que é cada vez mais uma promessa de miragem, porque as expectativas destas gajas, são a cova onde se enterram a si mesmas. E têm direito a votar, quando nem sequer percebem que a aparente melodia com que o marketing as embala, é afinal, uma travestida extrema unção, que coroa uma vida ilusória e infeliz. Elas rejeitam, elas magoam, elas aliviam a frustração existencial, nos outros. Que são mal vistos, porque são básicos, simples de espírito e se contentam com pouco. Deve ser bom, achar de nós mesmos que somos um mistério insondável, abençoado na natureza. Sei também que deve ser uma maldição, nascer com uma carinha laroca. O mundo lança gentilezas em todo o nosso trajecto, desviando-nos das frias realidades que os outros menos abonados, desde cedo conhecem. Mas para esta gajaria em 2024, os gajos são utensílios. Os gajos que não passam pelos critérios conducentes a ‘prémio’. A única forma de ganhar é não jogar. Tens mais utilidade, na rejeição, usada em benefício delas. Se não te rejeitam, têm para ti o papel de utensílio a médio prazo. Cabe-te a ti decidir, se procuras e não encontras, ou se te poupas e talvez possas vir a encontrar. Esquece isso e segue em frente. O jogo está viciado. É esta a pedra filosofal hodierna. Transformar um bloco de ouro, em pepitas de chumbo. Não sei se foi por estar farto de me ouvir, ou ser algo de racional que reconheceu no meu discurso. Levantou-se e foi dançar para a pista de dança ao som de músicas dos anos 90. |
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Outubro 2024
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