Dou por mim vogando na Feira da Ladra, de forma recorrente…à procura de velharias seladas em plástico, virgem, nunca rompido por mãos humanas. Antenas de wifi de há 20 anos, cassetes de há 30. O que aparecer. Tudo para romper o plástico, e em movimentos rápidos, inspirar o ar há tanto tempo aprisionado. Pequenas e gasosas cápsulas do tempo, que numa crença infantil, desejo que me transportem para o tempo em que os meus amores eram vivos. Todos os que amei e amo, têm por tendência ou morrer ou ir embora, o que equivale entre si. E sempre que morre um dos meus é como se arrancassem um membro, aqui a mim, o centípede anónimo. Gosto de saber o ano da embalagem, e snifar o ar lá dentro assim que a rasgo, voltando atrás no tempo, etiquetando-o com este ou aquele marcador…o ano em que namorei com esta ou aquela, o ano em que este ou aquela morreu…o ano em que comprei este ou aquele carro… Mas geralmente, o que andava eu a fazer neste ano, com esta ou aquela. Provavelmente a escrever cartas de amor e nos transportes públicos a caminho de a comer. O de ser comido, o que não interessa. O que interessa é que penso nelas, e nisso a minha personalidade as suplanta. Sob qualquer perspectiva. São inferiores a mim por isso, que isto de ser humano é sentir, e como rasto de radar…no meu ainda aparecem, sem qualquer intenção minha de as comer, apenas porque quando se gosta de alguém, é para sempre ou até que se vão embora achando que arranjam melhor, do alto da sua tolice. E mesmo assim, ficamos a pensar nessas putas e no quão conseguiram trair um voto que tomámos como eterno. Ah putas efémeras e oscilantes como curto-circuito estelar. Sabem tanto como traça que marra em luz análoga à Lua. Há que lhes dar um desconto sem que percebam perder alguma dignidade pessoal. São as regra do jogo, e apenas difere a capacidade de auto engano de cada um de nós. E por norma este gajedo está plenamente convencido de si mesmo, habituadas, de os dois palmos de cara permitem, a achar que o mundo é um lugar belo e justo porque desde pequenas tudo vem fácil, sem falar dos encómios dos homens, que vêm à arroba. Mas as putas ressabiadas de hoje, apenas me resumem a um bicho violento e escravo dos seus desejos, um tonto apenas adorável se instrumentalizável. Há que lidar, a fome e a sede e a falta de carácter de tantos homens a isto conduziu. Elas querem mandar, ó amigas, mandem. E sejam felizes. Longe de mim. Eu finjo que sim. Só se estraga uma casa, e vos garanto que não é a minha. Comer gajas do tinder em barda tem o nefasto efeito de ter de usar óculos escuros para onde quer que vá. Como dizem os americanos,’spoiled for choice’. A sobreabundância de pretendentes e alegados admiradores, dá-lhes uma liberdade e leveza que desarmam qualquer um, embora os mais batidos percebam que é só miséria. Parecem porcos no chiqueiro felizes por rebolar na merda. O mundo à beira de um colapso nuclear, mas ainda circulam pelas ruas em manifestação por causa de uma suposta opressão patriarcal na qual os seus antepassados detentores de vulva, foram ao mesmo tempo sujeitos históricos, e vítimas sacrificiais de uma suposta mão masculina descida do Céu. Todos são filhos da puta, com excepção talvez dos pais e dos irmãos. E de um ou outro tio. Sentem em algum ponto de si, que não interessa o significado, que soa bem dizer-se que são ou foram maltratadas. Que algo há a ganhar por defender uma suposta verdade que convém. Mesmo que não seja verdade, soa bem, e todas têm um exemplo de um menino que lhes fez dóidói que pode ser esgrimido como prova para uma aniquilação de todos os outros que calham ter pila no meio das pernas. Fujo, disfarçado pelo anonimato, das dondocas que não conseguiram manter-se ligadas a um homem, das mães solteiras a quem os parceiros ganharam asco de vez, ou a quem a paciência acabou para tolerar os maus feitios, as birras, os innuendos e a manipulação psicológica. Nos bumbles e tinderes, julgam encontrar o último da ninhada, o desesperado, o despojado de amor próprio que se sujeita a tudo para ter um vislumbre de desejo genuíno por parte de outrem. Os mesmos incapazes de respeitar as ‘gajas’ por nelas reconhecerem um provincianismo de shadenfreude, onde a exultação é de ‘sê o que és, puta, o resultado vem a caminho’. É uma guerra civil mano. Vejo os vídeoclips de música dos 90, tocados pelos que ainda estão vivos, elas gordas e eles em playback. Vejo que a minha cova também me mira ali do canto. No problem, não vou a chorar. Vejo as bardajonas aqui da minha zona nas redes de engate à procura de mais uma dose de endorfina que as faça sentir bem consigo mesmas, um like, um elogio, um algo positivo que valide as decisões que tomaram. Bardajonas, porque situacionistas. Quando novas e com as carnes no sítio, tratavam-me a mim e a semelhantes, com desprezo. Só o brilho as atraía. Curioso como a atenção e valor que nos dão varia com a alteração das suas possibilidades de escolha. E por isso os homens detestam o feminino, parece-lhes despojado de ética. E tantos e tantos, que se ressentem por as querer amar como são, e não poderem porque o bicho não funciona assim. O bico, o demo, força-nos a ser maus, desapegados e até cruéis de forma que nos amem. Nem é certo que gostem de homens assim tanto. Seria irónico se não fosse trágico. Se o melhor e mais doce dos gajos se tivesse de transmutar em filho da puta para obter amor genuíno, ou o mais genuíno que a condição humana exige e permite. Só para que não o deixem. Só para ser amado. E se a condição masculina fosse essa, trair toda a sua essência de forma que uma gaja lhe desse um beijinho no senhor contente? Mexe-lhe, e dedico-te a vida, parece ser o mantra neste mundo de carência, de testosterona desprezada. Rio-me e bebo. Bebendo-me esqueço, e lembrando-me, rio-me. É a única forma de sobreviver. E elas lá continuam na vidinha de se refastelarem na mediocridade. Seja, ao menos são livres.
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