«Aquilo que eu escrevi era só um código secreto de mim para mim passando inutilmente por ti.
É que tu não tens nada a ver com isto. Tens tudo.Só que tu não sabes, nem vais saber, por isso são intrigantes, se alguém os leu, os meus rabiscos.» PPaixão, VTDC, Dias de 1995 Mar de Chumbo Caí do navio onde seguia, que seguia com ocultação de luzes, agora no lindo mar de chumbo, à noite, resta-me ver a sombra silhueta que se afasta deixando-me a esbracejar no meio de um mar onde as minhas mãos parecem tocar o céu prenhe de estrelas, se eu as levantar um pouco acima da água fria. Só Deus sabe, Deus e o sonho, o que jaz debaixo de mim. A profundidade em que não entro. Olho nos teus olhos à procura de amor eterno, como se a eternidade coubesse nuns olhos de um doce olhar relativo. Resta-me tornar cada toque, afago, carinho, miminho, atenção, cada momento em que estamos juntos em epifanias de absoluto. Só para mim. Só o consigo porque caí borda fora do navio em que seguia, e que agora já só vejo como sombra distante. Só agora, que vejo a minha vida como silhueta, posso fingir eternamente que o ternamente em que me dou e te beijo é apenas absoluto. Este fingimento é amor em acabar comigo entregando-me até que desapareço por completo. Mas é fingimento, não é?Não estou ainda aqui escrevendo para ti? Passo o dia pensando em ti, e é o Sal de um Mar Morto que me corrói a carne. Vou voando para junto dos braços que sonho serem teus, e é o calor do Sol que me derrete as asas. À noite, pela calada, tento nadar para terra, mas faróis de azedume denunciam-me na água, e afastas-me com os teus medos que patrulham a praia. Nos entretantos assim fico, vendo a minha vida passar, em ocultação de luzes...os teus faróis chamam-me para terra, para uma praia deserta de mim, onde sei que serei sovado. Resta-me esbracejar à deriva, olhando a Terra onde estás, que é para onde quero ir, apreciando a colina onde a miragem de ti se forma...Apanhas o cabelo... a tensão no teu corpo...a tua cara quando pareces dormitar, o teu toque no meu rosto, o teu cheiro no meu corpo. Não congelo no meio do mar de chumbo polvilhado de estrelas porque saudades de ti crepitam nas minhas fornalhas derretendo a água soltando o sal que arde nos olhos com que vejo o navio da minha vida afastar-se.
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Jurei ser teu, amanhecendo no fundo lago rodeado pelo castanho dos teus olhos.
Paixão, vendi-te a alma, uma vez de joelhos para sempre escravo servente, frágil andorinha consumida corroída pelo sal salgado do Mar Morto, e pelo Sol que Ícaro matou. Preciso só mais de um chuto. Só mais uma dose. Ó ironia divina que nos dás um vício de masturbar defronte do espelho. Sem ganhar nada, onde tudo se perde, a espiral é medonha e um homem aniquila-se em espiral no abismo. Só mais uma dose. Não há dealer a não ser a força pulsante que brota dos colhões até às têmporas, é o batimento cardíaco pulsar da vida cósmica. O indíviduo pouco mais é que um sorriso de escárnio no meio do Caos e da Forma, e do Imensurável inominável. Sabemos ser algo para sabermos no fim que somos algo pouco mais que nada. Arfa-me ao ouvido, respira para perto nas minhas narinas e cesso qualquer razão, exclamo o fim de meu corpo e de mim, na união suada e ritmada de dois corpos que mais não querem que deixar de serem unos mergulhando no caudal da dissolução corroídos por baixo pelo sal das lágrimas, por cima pelo Sol que cega, ilumina e derrete as asas de qualquer sonho. Puta.Puta que te pariu. Como te amo. Como me controlas. Como me submeto em grilhões de veludo, em sonhos do porvir, em promessas de amor feliz, só mais um chuto. E faremos birras e amor depois, e lirismos trágicos onde fingiremos profundidades e mensagens indirectas em títulos de janelas do messenger, ou despedaçando telemóveis contra a parede, em assomos de fúrias que nos arrependeremos quando velhos formos...e tanta vida pela frente e tanto amor por vir, dá-me só mais um chuto por favor, só mais uma dose de amor, para eu não ter que fugir. Pelo passar das nossas idades, o cinismo, o sal corrói, queimando-nos por baixo roendo as entranhas, e damos connosco tão sérios em coisas tão estranhas, levando já o peso da memória não feliz do passado. Sal, Sol, Amor. O chicote faz-nos dançar ao som do Bolero que nos embala. O amor é fodido, ou nós é que o fodemos? |
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Abril 2019
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