Viúva Profissional
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Opus

21/4/2019

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«Lúcia
Os homens são uns parvos. Não se conseguem entregar por completo ao amor. Têm um trabalho por fazer, um problema na caixa de velocidades ou uma desculpa do género. Preocupam-se com o que não estão a fazer. Acontece o amor para eles ser um inimigo, um perigo a correr sem seguro, pelo menos um risco que pode deitar tudo a perder. Os homens sofrem da vergonha de não terem a coragem das mulheres, é por isso que falam alto. Não têm mais ninguém que os possa socorrer. Mas calam-se. Os homens para serem homens deviam primeiro de ser mulheres.»

Caro Pedro, os homens não se conseguem entregar ao amor, dizes. Só como escritor te é permitido dizer tal coisa. Só a partir da ficção e da masturbação que qualquer escritor mete em prática pode uma afirmação dessas entender-se.

Que mulher corta a orelha para oferecer ao objecto de amor, que mulher constrói monumentos em mármore para honra do alvo do seu amor, que mulher compõe sinfonias, volumes de Filosofia, cantigas de amor, poesia, para entregar ao receptáculo da sua afeição? Pareces esquecer-te que a transmutação de dor em arte é feita pelo masculino desde o início, está gravado nas pedras rupestres.

O verdadeiro género romântico é o masculino, se que se imola aos pés das deusas mesopotâmicas. Está na antropogénese, faz parte do feitiço este total enamoramento por um objecto de amor idealizado do qual boa parte das mulheres tira partido e conhece em surdina. E depois passam a ideia de que o homem é um bruto tosco e não sofisticado, precisamente para que ele se convença disso e não perceba quão mais grandiosa é a sua forma de amar.

Como uns altifalantes de colunas Hifi com larga frequência, o amar masculino vai de uma pura materialidade visceral a uma idealização que quase agonia a mulher por ela visada… Eu, sei, fui campeão nas idealizações, nos sacrifícios e na entrega mais que absoluta do meu espírito.

Que caralho Pedro, dorme lá na ficção, mas escreve merdas com tomates, não estas panaceias para gaja ver. Quantas gajas se afogaram em heroína, bagaço, vinho ou chumbo em forma de bala, por não saberem lidar com corações partidos? As excepções confirmam as regras. Para uma Florbela quantos se espancaram até à morte?

Quantos preferiram idealizar gajas em sonetos por não se conformarem com a triste realidade? Achas mesmo que sendo o amor um perigo para os homens, que é por não se conseguirem entregar ao amor? Que merda de contradição é esta? Se não se conseguissem entregar ao amor, o amor nunca seria um perigo. Que coragem feminina é essa? A de esperar sempre o primeiro passo? A de saber que há sempre um número abundante de gente masculina capaz de se tornar madeira na fogueira do seu solipcismo?

Mostra-me uma tipa que diga amar intensamente e eu dou-te de mim exemplos que suplantam qualquer prova que ela apresente para esse medir de gónadas sentimental. E eu não sou daqueles, ainda, que se afogou no vinho para esquecer amores infelizes.
Ainda não espetei os cornos contra o Intercidades, por uma rejeição. Não levanto a pila na cama, deixo de ser um homem válido. Uma mulher na mesma situação, está, e bem, indisposta. Ou o gajo não chega lá. Fala lá em coragem.

Falas dessa vivência protegida no meio da urbanidade, dos bairros de bem onde passaste a tua vida. Essa é a sala onde dança o teu público. Um ambiente controlado.
​ Um ambiente efeminado, e num mundo onde as mulheres estão mais masculinas, naquela ideia de masculinidade que gostam projectar dos homens, vens tu dizer que os homens têm primeiro de ser mulheres. Continuas a espalhar amor pela tua prosa, é literatura eu sei, mas foda-se.

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Sal Gueiro

14/8/2011

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Vejo o castanho concêntrico nos teus olhos.
Nada vejo mas sinto-me em casa neles afogado.
O amor tornou-se metafísico.
Já quase me demito de perder-me na braçada forçada das ondas dos orgasmos.
Agora cada amor é só mais um motivo para tocar o sino das memórias tristes dos que o precederam, em missa de último dia.
Torná-los todos, ecos pelo tempo linear que se espalha como ancião esperando pela morte no leito lítico.
Elevar esse momento de angústia a todo o sempre como forma de unificar todos os meus amores...em um Único, diferente de tudo e dos outros, forma de me sentir escolhido e tocado além da individuação . . . um zilião de amores infelizes.

A mais profunda ironia é que me apaixonei pelo meu amor.
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Regurgitando

28/12/2008

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«Ele bem queria, mas travei-o a tempo. Ele queria parecer leviano, claro, mas a leviandade só fica bem às mulheres. Nos homens parece indiferença. O que nas mulheres é sinal de alegria, é neles um prenúncio de desprezo por tudo o que tem valor na vida. As mulheres levianas parecem ter tomado uma decisão positiva. Os homens parecem ter desistido.»

MEC, A vida inteira

I
Havia regurgitado sémen pouco tempo antes para o chão da sua cozinha.
Tinha observado a sua cara de fêmea dominadora insegura mascarada de submissa.
Olho agora o falo testemunho da cómica natureza humana. Inerte, flácido,adormecido, esquecido no vale das minhas pernas, sem desejo, saciado.
Quando amor não há, ejacular a nada sabe.

II
Tenho-me divertido a observar a dissimulação feminina.
Uma relação heterosexual é uma montanha russa de diversão.
Ambos fingimos. Eu finjo que sou um puro, por vezes um pensador, quase sempre um desconfiado, mas no fundo sou sempre um espectador necrófago e observante à espera de ser surpreendido.
Os olhares, as entoações de voz, as reacções faciais nas disputas lógicas, são as migalhas com que alimento a minha dissimulação, para conseguir o que quero
E eu quero quero tanto compreender o humano, o feminino, que é o que mais me interessa.

III
Agarro a minha glande impedindo-a de cuspir para o chão.
Tanta merda para isto. Até os desejos de luxúria venal se dissolvem.
Vazios, começa a clarear a nublina da mente, e já só quero fugir dali, dos mirrados gémeos das pernas.
Leva o amor grande dose de auto-hipnose, e não sabemos jogar connosco. Por isso nos nascem os amores tão infelizes. O cadáver que fica é só a lembrança do amante que partiu, não como corpo, não como malícia, mas como mais uma rosa que cheirámos na floresta.
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Das Ich

23/7/2008

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«Já vivi em pessoas que morreram sem que alguém lhes tenha dado uso. Isso sim, é causa de ressentimento contra Deus.» MEC, A Vida Inteira, p.28

Aninhados vivemos encostados a sombras na Caverna, receosos do Sol lá fora e das memórias de amores infelizes.

Os dias passam e com eles o fio de azeite da vida que tempera a existência, que arrefece a lume brando face ao gelo do esquecimento.
Damos sentido às nossas vidas através de projectos solicpcistas...conceber, ajudar a nascer e criar os filhos...Passa a pessoa humana a ser uma extensão de propriedade...a criança um humano de estimação.
E os filhos dos outros, não merecem também o teu amor?
Se dás valor universal aos teus filhos porque são crianças, ama-los mais porque apenas são teus?
Que tens tu de tão especial que só os teus filhos porque são teus, são tudo para ti, e de bom grado matarias tudo na Terra, se isso lhes garantisse felicidade?!?
Certos amores de certos pais e certas mães para certos filhos, enoja-me como sempre me enojou. Esses amores são amores de pais para extensões de pais. O filho a filha são apenas apêndices, nesses amores.
Não se ama a criança pelo que ela é, mas pelo que ela é em relação a nós.
Assim vamos sonhando o desenrolar das nossas vidas com o nosso centro fora de nós. Ninguém merece a dádiva da paternidade neste miserável estado burguês.
Como formiguinhas tomamos o casulo como a galáxia, e nenhum homem é digno de o ser, quanto mais ser pai, se não enfrentar os grandes demónios que dormitam no seu subterrâneo. Foi ele o homem, feito para ser superado, já diz a História com todos os seus nomes de Crucificado.
Somos o mais sublime e ridículo momento, animais de pelo com o tempo preso no pulso.
O abraço não é terno nem franco, apenas a caricatura de si próprio.
O beijo não sai do tempo, apenas se esmaga entre as dermes.
Vivemos aninhados, encostados a sombras na Caverna, receosos do Sol lá fora, e do Sal das lágrimas, que corrói as lembranças de amores infelizes, cá dentro.

Vivemos aninhados no casulo com medo desses grandes demónios, dos nossos subterrâneos, suplicando para que não nos vigiem.
Nos recônditos, apenas a árida aragem do silêncio nos aguarda, como sepulcro de mosteiro.

Vivemos.
Aninhados no próprio afecto, encerrados em nós próprios, na louca mistura de guerra civil e masturbação.
Vivemos...
Pelos sonhos da Caverna, maravilhados pelos efeitos das Sombras.

A mulher é tão melhor e com superioridade moral se for também ela a extensão dos teus sonhos e projectos, e parte da tua propriedade.
O amor é condicional pela mulher topo de gama, e existe sempre um modelo acima.
Outros homens são julgados por ti de acordo com a mulher que trazem na ponta do braço.

Também os voláteis amores das fêmeas vão além da imagem. Requerem uma atenta paragem nas paisagens passadas e futuras daquilo que se quer tirar da vida.
O sujeito é o invólucro da minha aspiração. E existe sempre a possibilidade de vir a gostar dele.
Como bolhas ascendentes numa caneca frígida de cerveja, aninhados vivemos nas bolhinhas de convencional segurança, portos de abrigo a prazo de conta-gotas...protegidos que estamos da noite escura que se abate quando entoas as palavras 'Sabes lá tu o que é viver...

22 Julho 2008
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Deriva

17/7/2008

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«Acompanho-a vinte e quatro horas por dia. Seja na forma de pessoas ou objectos. Ela tem uma vida interessante, mas não há interesse que aguente vinte e quatro horas de vigilância.» MEC, A Vida Inteira, p.11


Semi nú garatujo linhas pretas arrojadas para longe por um coração afogado em mágoa.
A mágoa magoa. Magoa mais que qualquer dor.
A mágoa é a alma do desespero.
Como transeunte esteta da vida, onde as estações passam ao ritmo dos orgasmos, vejo-me noutro dos meus desertos, olhando para toda a areia à minha volta.
Esmagado pela imensidão que me espera.
A busca pela vulva logo esmorece quando a encontro num qualquer oásis.
O oásis é só uma lágrima na cara seca do deserto.
No deserto ninguém quer permanecer.O oásis é ainda deserto.
O oásis é só ainda um ponto onde se passa para se prolongar isto do se estar vivo...
Permaneço ainda no deserto, de vulva em vulva. Que isto...já não é a mulher que me leva.
Oásis há, que pelo seu tamanho, pensamos que finalmente fugimos do mar de areia. Mas não.
Tantas almas e sem uma que chame minha.

A parte ética da vida também não me atrai.
Casar, constituir família...
A mágoa está tão dentro de mim, que desconfio que é terminal.
É Metafísica.
Hipermercado lista de compras, bicicletas tejadilhantes nos carros, grossas alianças estacionadas nos dedos...toda a liturgia não apresenta interesse para mim.
Estou cada vez mais só.
A palavra 'amor' sai cada vez mais impune pela minha boca, e nunca dela estive tão longe.

Foi-nos dada uma alma, e não fazemos a puta da mínima ideia do que fazer com ela.
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Miragem

10/8/2007

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«Fui a outras terras com essas raparigas mas as terras mudam muito quando lá não param os corações. Mal chegamos onde queríamos, descobrimos de onde precisamos de fugir. (...)O mundo inteiro é muitas vezes muito pouco, para quem não anda à procura de nada.»MEC, AF

Olho sentado no meu banco,
a baixa burguesia em que respiro
ao vómito toma a compreensão o flanco
viver é a corrida de que não se ouve o tiro.

Calma modorra que oculta
o caos que se anima debaixo

carro casa plasma e colecção dos Pink Floyd
pingo doce ao fim de semana
um terço do vocabulário em workinglês

camisas passadas fora das calças
sapatos da moda que trouxeram as brasileiras
tentam muito mostrar o tão casual que são

e acho que sinto o horror deste verniz,
só quando morre alguém, se divorcia alguém,
sem emprego se vê,
pensa esta gente no que é estar vivo.

Eu, como bom espectador,
tenho momentos de me banhar na água morna
e vejo agora que mais que desejada
a monotonia do burgo, é a fuga desesperada do medo.

Como muito amor se dá, porque se tem medo de vivermos sozinhos sozinhas, só com memórias de fracassos.
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Divórcio

23/7/2007

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«De facto, de um momento para o outro, eu começara a sofrer violentamente como há muito não mo permitia, porque me refugiava ora na melancolia ora na tristeza, duas dores doces e bem diferentes.» PP, PortoKyoto p.27

O absurdo é o sentimento de divórcio entre o homem e a sua vida. Não sou só eu que o digo.
Já faz algum tempo que adormecido havia, a minha intelectualidade. Essa monstruosidade socrática.
Tenho-me deitado no leito da inconsciência, mas nem a ignorância me deixa feliz. O mundo permanece surdo e indiferente às minhas questões, projectos, fórmulas e teorias. É e também não é, mas sendo só isso ao mesmo tempo que também o não é. Esta é a porta a que sempre chego.
Não há verdade. Não há caminho. Só caminhada.
Logo não podemos estar errados, façamos o que façamos?
Não há verdade, apenas arte na mentira.
Tenho caminhado. Apenas caminhado. Longe destes momentos só para mim. Até que começaram a chamar-me.
Tudo tem um preço. Eu paguei nove anos, mas quanto cresci nesse tempo. Agora apenas tenho a escolher os fios com que me teço.
Este texto é na primeira pessoa para a primeira pessoa.
Todo o mal que a mim fiz, foi tudo o que paguei. Hipnotizei-me em projecções no futuro de felicidade, como se o outro viesse suprir o que me falta.
O princípio da preguiça e da irresponsabilidade está aí.
Os meus brinquedos preferidos de pequeno eram um rato Mickey em tamanho grande, com quem brincava aos amigos devotos e a inimigo em cenas de porrada imaginária, e uma noção lírica de amor, onde a finalidade da vida seria a devoção total a uma alma gémea residente no porvir.
Atravesso agora o terrível deserto onde a lírica do amor desfeita pelo leão, já não me acompanha mais. Vagueio sozinho pelo mar de areia e já não espero chegar à Terra Prometida, contento-me em pernoitar em alguns oásis, que logo que passa o sono deixam de o ser e se transformam em miragens óbvias.
E gosto imenso.
Enquanto não chego ao oásis não descanso, para quando lá chegar me lançar de novo ao caminho, caminhando sem cessar, sem destino, auto iludindo-me que é no conforto de um oásis que encontrarei satisfação e paz, e não na ascensão mercerista na prisão do «Expresso da Meia Noite».
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Regramento

21/7/2007

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«É disso que te arrependes?
Sim. Devia ter bebido uma garrafa de vodka em vez de três. Mas de qualquer modo, importa termos um bocado de respeito pelo organismo, porque ainda há século e meio a esperança média de vida das pessoas era 34 anos. Nós não fomos criados para andar aqui mais do que quarenta anos, no máximo, tudo o resto já é esquisito. Os órgãos não foram concebidos para durar sessenta anos, ou setenta, ou oitenta. A questão agora é procurar o tal equilíbrio de que falavas. Não a cobardia extrema de dizer “já não bebo mais, quero emagrecer, vou entrar na linha”, porque isso transforma-se num pavor da morte. E então é a mesma coisa que estar morto. Se tens o fígado todo fodido e estás a beber, é claro que está mal e que era melhor que não bebesses nada. Mas se vives nesse pavor, estás tramado.»
MEC

Frases curtas e incisivas.
Regradas.
Eficazes.
Mecânicas.
Ora viveste a vida, embriagado com o perfume.
Agora negas que lhe devesses ter retirado um cheiro.
Amaste até que te doesse, renegas agora a doação...
que em ti se manifestou...
Sob a capa de que, amo a vida e para desfrutá-la mais devia ter tido mais juízo.
A vida é excesso e exagero.
Se a alma não é de asceta, embriaguemo-nos nós pelos corredores do excesso.
Se a alma é de asceta, que se embriague de ascetismo.
A morte só ganha à vida através da ponte do arrependimento.
Há um nó na garganta, não sei como se chama, que dá sempre que somos chamados a pagar o cheque da imaginação.
Perante a morte, o regramento não passa de um cheque careca.
Tudo em excesso é o meu lema.
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Apologia do sofrimento

13/7/2007

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"Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas.Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber.
Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo. O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão.
Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e é mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões.
(...)Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?(...)O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental".
(...)Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz.
Não se pode ceder. Não se pode resistir.
A vida é uma coisa, o amor é outra.
A vida dura a Vida inteira, o amor não.
Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."
MEC

Ora...
Tanto se fala do amor, como se fosse um passatempo dos ociosos e odiosos tempos modernos.
Falta de espinha no sofrer. A eterna questão perturbante do fado.
Como que se por maior o sofrimento, mais puro o amor. Ou o encaixe à dor é sinónimo de maturidade espiritual.
Como se a resignação seja sinal de sapiência. Acho que é mesmo ressabiagem emocional.
Quem menos ama controla, controlar para não repetir situações do passado, e tão alto foi o preço que se pagou.
Um desgosto de amor é uma morte em vida, e ninguém quer continuar a morrer.
Cantar a própria lama em que nos choramos, não a fará secar.
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Geração e corrupção

19/10/2006

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«Como um cão eu vivi com cada uma das minhas raparigas.
«Senta!» , «Dá a pata!» , «Morre!» Fui muito bem treinado.
A obediência era a minha única maneira de exprimir o amor que, por falha humana, não sentia por elas.
Mas não era por isso que deixaria de lhes dar a melhor reprodução que um coração podia comprar. Não que convencesse alguém.
Mas chegou a haver quem se dispusesse a duvidar.» MEC p.140 Cemitério de Raparigas



Como é a entropia uma ideia apaixonante para o pensamento.
Especialmente acompanhada por uma teleologia em forma de drama épico de subúrbio.
Os anos pesam mais a uns que a outros, e essa diferença sabe por vezes a vingança saloia. Como se pela maior decadência do outro, ficasse consumada a sua errónea decisão de nos rejeitar, aquela pessoa que tanto fascínio sobre nós exerceu.
Parcelas de mundo tornamos e tornámos absolutas, que se desfazem como castelos de areia, não sem antes deixarem perdurável memória em forma de rasto que persiste e nem se adivinha bem.
Há várias formas de estar no «mundo», há só uma forma de estar no «mundo».
O tremer das mãos, o falir das pernas, o tremer dormente da voz, são concebidos no chão profundo do inconsciente.
Tudo por migalhas de amor. Tudo por um toque meigo e uma partilha de suór.
Nem a águia prescruta a profundidade do coração alheio.
O meu, este agora, olhar, é o olhar do pôr do Sol. A luz do Sol posto é a luz que relativiza. A noite já lá vem, assobiando a sua calma chegada, mas ainda é de dia, ainda há vida a latejar em murmurinho, nas esquinas dos edifícios, em surdina nos cafés.
E todo um caminho agridoce que fica para trás como testemunho da nossa vida, e no ponto onde chegamos ficamos sem saber se somos nós ou a consequência da viagem.

A Vera que desde que me tirou os três não me sai da cabeça, levou duas fodas mal dadas, encornando levemente os namorados que eu desconhecia, está...
Um farrapo. Os anos e a vida que leva já pesam na carne e na pele. O casamento com que alegremente encornaria de novo o marido, também faz das suas aos olhos e às rugas. Emagreceu, ficou mais marreca, cresce-lhe uma verruga no queixo, e ainda pensei levas mais uma foda, de compaixão, pois parece que estou eu agora na mó de cima...Eu não recuso vulva a não ser quando não tenho os tomates cheios até às têmporas, e aí prefiro sonhar com a paixão por um corpo saudável um rosto bonito, e uma história de amor, que isto o homem não vive só de pão, um conduto apimenta as coisas.
Confinada nas memórias tive remorsos de não ter insistido para que se sentisse desejada. Estou-me borrifando para o marido. Não tenho pena dos cornos, e a bem dizer ela era minha, nunca dele. Que fique com ela.
Senti-me com pena, e depois confinei-me ao pensar...cum caralho, coração dum cabrão, apesar do que ela te fez sofrer ainda te preocupas com os sentimentos dela...e é por isso que choro de amor...por amor.

A Ana e tantas outras que a precedem, e heis que o cemitério se amofina, atracções que não duram mais que uma vela para mim, e elas que me velam a mim, por debaixo da terra, desejando a eternidade.

Neste momento, sou uma só caravela navegando no deserto mar deixando um padrão em cada ilha que me permite desembarque.

Puta que pariu esta merda.
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