«É disso que te arrependes?
Sim. Devia ter bebido uma garrafa de vodka em vez de três. Mas de qualquer modo, importa termos um bocado de respeito pelo organismo, porque ainda há século e meio a esperança média de vida das pessoas era 34 anos. Nós não fomos criados para andar aqui mais do que quarenta anos, no máximo, tudo o resto já é esquisito. Os órgãos não foram concebidos para durar sessenta anos, ou setenta, ou oitenta. A questão agora é procurar o tal equilíbrio de que falavas. Não a cobardia extrema de dizer “já não bebo mais, quero emagrecer, vou entrar na linha”, porque isso transforma-se num pavor da morte. E então é a mesma coisa que estar morto. Se tens o fígado todo fodido e estás a beber, é claro que está mal e que era melhor que não bebesses nada. Mas se vives nesse pavor, estás tramado.» MEC Frases curtas e incisivas. Regradas. Eficazes. Mecânicas. Ora viveste a vida, embriagado com o perfume. Agora negas que lhe devesses ter retirado um cheiro. Amaste até que te doesse, renegas agora a doação... que em ti se manifestou... Sob a capa de que, amo a vida e para desfrutá-la mais devia ter tido mais juízo. A vida é excesso e exagero. Se a alma não é de asceta, embriaguemo-nos nós pelos corredores do excesso. Se a alma é de asceta, que se embriague de ascetismo. A morte só ganha à vida através da ponte do arrependimento. Há um nó na garganta, não sei como se chama, que dá sempre que somos chamados a pagar o cheque da imaginação. Perante a morte, o regramento não passa de um cheque careca. Tudo em excesso é o meu lema.
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Abril 2019
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