Viúva Profissional
  • Casa
  • Miguel Esteves Cardoso / Pedro Paixão
  • Susana Pascoal
  • Ad se ipsum
  • Casas
  • Galeria
  • Recursos

Coração de vidro

18/2/2009

0 Comentários

 
Esperei que a luz decadente me tocasse.
O Sol há muito que se havia desinteressado desta realidade aqui tão perto de nós.
É preciso o lombo de um animal de carga para olhar para a incontornável solidão. Amar é dar-me ao outro fugindo do infinito até ao infinito da solidão.
Viro a cara como malandra insegura quando me misturo aqui no corredor agora acessível, em frente a Anglísticos roubo fotões de luz ao chão à parede aos cacifos, às cadeiras. É parida uma sombra filha do meu assalto.
Disseste que ias para obras. Ias reconstruir tudo. Não sou tua dona.
Vim para aqui para estudar e tenho de andar a apanhar memória flácidas estéreis e secas pelo chão.
A ubiquidade toma um nome como se também ela tivesse direito à reencarnação.
O nome é ‘TU’.
As primeiras palavras judicativas que cuspiste da tua boca para a minha foram ‘És insaciável!’, fiquei tão magoada, porque não existe saciedade para quem ama.
E quando bamboleavas o corpo para o teu amigo, o porteiro do 7Mares…tu ali toda enrolada com ele e nós sabíamos que só dançavas para mim.
O cheiro forte a old spice fazia-me espirrar, prefiro o teu aroma a frutos silvestres, e o teu hálito a esferográfica molin.
Quantas vezes nos deitámos juntas e quando acordava tinhas sumido…
Quantas vezes meus amigos fingiam não te ver quando ias de braço dado comigo, mesmo até me deixaram de falar…
Nunca pagavas bilhete de autocarro e o revisor fazia uma cara estranha quando eu pedia e pagava dois bilhetes.
Linda barriga é a tua, ia até ao Inferno por ela.
Vi logo que gostavas do jogo.
As duas na cama, não consegui deixar de sorver nos teus seios.
O abraço que te dava, sentia-lo como meu à volta da minha própria pele.
Sempre foste a parte mais emotiva de mim, aquela que sonha quando ao cair da tarde o Sol faz festinhas no rosto e as cigarras se calam com a brisa fresca.
Sempre fui…
Com o cabo da escova partiu o espelho em que nos víamos, caí em pedaços estilhaçados com força pelo soalho.
Espalhada como memórias flácidas estéreis e secas elo chão, como as que tenho dela, eu sei, eu é que sou real.
0 Comentários

    Feed RSS

    Arquivos

    Janeiro 2021
    Dezembro 2020
    Novembro 2020
    Outubro 2020
    Setembro 2020
    Maio 2020
    Abril 2020
    Fevereiro 2020
    Janeiro 2020
    Dezembro 2019
    Novembro 2019
    Outubro 2019
    Setembro 2019
    Agosto 2019
    Julho 2019
    Junho 2019
    Maio 2019
    Abril 2019
    Dezembro 2018
    Novembro 2018
    Setembro 2018
    Abril 2018
    Janeiro 2018
    Junho 2017
    Setembro 2016
    Maio 2016
    Outubro 2015
    Agosto 2015
    Junho 2015
    Fevereiro 2015
    Janeiro 2015
    Novembro 2014
    Outubro 2014
    Setembro 2014
    Dezembro 2013
    Novembro 2013
    Outubro 2013
    Maio 2013
    Fevereiro 2013
    Janeiro 2013
    Dezembro 2012
    Agosto 2011
    Março 2011
    Junho 2010
    Julho 2009
    Fevereiro 2009
    Janeiro 2009
    Agosto 2008
    Julho 2008
    Junho 2008
    Maio 2008
    Fevereiro 2007
    Janeiro 2007
    Dezembro 2006
    Novembro 2006

Lado A