As sirenes da Polícia rasgavam o ar pelas 17 da tarde. Os bravos deste lugar, passeiam nos seus BMW´s de curta duração, as portadoras de vulva que têm de ser continuamente embaladas numa canção de novidade, para que continuem a dar a sua escolha ao condutor do veículo. Só quem estuda o tempo, e não falo de chuva ou nuvens, percebe que o bicho humano se entrega a quem quer que seja que amenize a passagem cruel dos momentos, pelo nada do espaço. Não interessa a essência, mas a aparência. Nada há de mais ingrato que convidar uma mãe de três filhos de pais diferentes, para a ouvir dizer que nenhum problema há nela, que teve foi azar com três escolhas motivadas por «amor». Como se nenhuma responsabilidade tivesse no curso das coisas do mundo onde vive, a não ser as positivas. «-Conta-me, quais são os teus maiores defeitos.» , perguntei eu. O olhar de completo e integral espanto, pois nunca ouvira palavras que indicassem uma linha de pensamento tal, em que ela era responsável pelas suas escolhas. Ao ver o indivíduo, em curto-circuito, por uma suposta introspecção pouco simpática para as crenças anteriores, coloquei-lhe a mão no ombro, fiz uma festa na face e disse-lhe que não tinha de responder. Responder seria dizer que fez merda, e como se identifica demasiado com a sua opinião, fazer merda significa que se é uma merda, e significar que se é uma merda, por sua vez, significa que se pode morrer sós na tribo de primatas na savana, no nosso passado evolutivo. A mulher foi feita para não pensar nas consequências das suas acções, ergo, a mulher é incapaz de dar o braço a torcer. Aquela que se cuspia toda por causa da inaptidão do governo em reduzir o 5 G, que estava a matar a avifauna, perguntei quantos gatos tinha. 3. E deixá-los vir para a rua? Claro, que acreditava na liberdade de expressão e movimento dos felinos. Olhei para ela tentando perceber a facilidade com que esta professora de Biologia Marinha da FCUL, albergava duas crenças contraditórias acerca da realidade. Eu o gajo de Letras, tinha mais facilidade em ver a incongruência do seu método científico, que ela, uma suposta cientista da praça. Enquanto falava de todas as suas qualidades, eu ia pensando no que odiava e nunca perdoaria em todas as anteriores, incapazes de mea culpa. Não era a ruptura ou o abandono, mas a falta de coragem, ou incapacidade – sei agora, de reconhecer o erro na sua personalidade e me usarem como lenha para arder nos seus objectivos. Ou seja, critico as empáticas, pela filha de putice que as caracteriza. Somos incapazes de amar quem não respeitamos, e uma mulher perde-te o respeito quando se sente superior a ti, e depois clama por igualdade ante os sexos. Observo as pessoas nas ruas, o ar seco e frio de uma atmosfera de desconsolo, de ar frio e de saber que as aparições em forma de gente são irrepetíveis à escala do tempo geológico. Que tudo é senão um pormenor feito de palha no vento ciclónico do Tempo. O que critico não é teres ido à tua vida. O que critico é não te importares falar mal de mim a amigas e família, para que a tua imagem saia limpa no final da lavagem auto. Que partas para o próximo, fingindo novidade e excitação da mesma maneira que fingiste comigo e com os anteriores. Que me tenhas queimado no teu altar, apenas para te preservares a ti mesma. Isso não perdoo…isso significa que nunca me amaste, fui apenas um adereço que usaste na peça de teatro que finges para fazeres os teus pais felizes. Com falta de personalidade vão assimilando os gostos e expressões dos namorados sazonais, e chegam a determinada idade, sendo uma recolecção de almas, mas nenhuma aquela que podem dizer de si próprias. Mas o conas, supostamente sou eu, que me recuso a participar na pantomina de fingir que o tempo dela(s) é diferente de todos os outros, e que de facto o umbigo de carne branca de seu corpo é o centro de massa do Universo e da Atenção no geral. Se não fosse tão teimoso, tinha mais vulva, e se me risse mais. Supostamente quem quer cueca tem de as ludibriar, e o engodo está em pensar o contrário, mesmo quando lhe poisamos um terno beijo na face, quando nos mandam ao nosso caminho, porque sabem que outro as persegue.
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Porquê meter este álcool todo pa carola, entendo agora porque morreram alguns alcoólatras que conheci. Os primeiros instantes das sinapses turvas provocam a única sensação de euforia que consegues sentir. Agora que não amas ninguém, e por isso bebes, já não sentes palpitações de ansiedade com o tempo que não passa antes de ir visitar o teu amor, e estarem na fase de enamoramento em que o sexo ainda é uma celebração e não um ritual. Por instantes, suportas estar vivo e esquecer o pensamento constante das rejeições passadas, daquelas que te fizeram mal, na tua ideia, ou que caminharam desastrosamente pelo fino tecido dos teus sonhos walk gently sem qualquer arroteio de consideração quando deixaste de ser útil. Ou quando reavalias os erros do passado, e tens o dom de assumir alguma responsabilidade na pouca felicidade que agora tens. Mais um trago. Mais uma fuga, para longe do tratamento de ódio que acabas por dar a ti mesmo por não teres sido forte o suficiente nos momentos chave. Quando a tolice dela exigia O corte abrupto. Quando percebeste que já se havia retirado da relação pela qual continuavas a lutar sozinho, convencido que é isso que as pessoas dignas fazem. Toca o cabrão do telemóvel. Sempre nestas alturas. «-Vens ter comigo ou não?» Já me tinha esquecido dela. Tenho uma foto no Bumble, tirada no WC da FCSH, e não sei por que motivo, não me larga mandando mensagens. Estive para desinstalar a app, mas acabo sempre por a deixar, pois às vezes quero ver rostos bonitos ou gajas entrevadas que exigem o melhor do mundo, só porque ser mulher é um prémio. Sortudas. Até tenho que fazer, mas ficar aqui neste canto escuro a ler documentação polaca do século XV, que a nada levará pois o universo parece ter virado o rabo para mim. E eu não gosto do rabo de gajos. Há gajos e gajas que parecem ter nascido com o rabo virado para a lua…não aqui este teu amigo. A mim, é a lua que me vira o rabo. E logo a mim, que nem ligo muito a rabo. De modo que a seguir aos meus sonhos, só se seguem desilusões. Deixa lá ir ver se esta vale o esforço de sair do degredo, e fingir que me deixo ainda levar por aventuras meio amorosas de música pimba. Sou javardão na mensagem, mesmo a ver se a ofendo e me liberto da promessa de a encontrar ao vivo. Não responde à provocação e espera-me à hora que me tinha dito. Estou vinte minutos atrasado. Estaciono o carro debaixo da ponte e faço o bonito caminho a pé, mas noto que neste dia pandémico até o frio está desolador. Uma aridez no ar, e uma secura no coração das pessoas, que teimosamente não usam máscara no calçadão. Mensagens dela a dizer que se vai embora. Vejo-a ao longe, encostada a um pino de passeio, ao Sol, está a fazer bluff. Pergunto-me onde me vim meter, não quero relações com ninguém, estou emocionalmente indisponível, embora nunca negue as cavacadas que Deus me lança ao caminho. Se acontecerem acontecem. E também sei que para sair do torpor, é preciso jogar, não se ganha a sorte grande sem haver jogado primeiro. Manda uma segunda mensagem a descompor-me, mas consegui colocar-me atrás dela, tal como da tontinha da Sónia há uns 2 anos, e fiquei a mirar-lhe o rabo, a cumprimentá-lo telepaticamente ameaçando-o de todo o tipo de velhaquices futuras. Não gostei. Ou compensas com a personalidade ou não é pelo rabo que me encantas. Olha para trás e vendo-me continua a reclamação de a ter feito esperar 20 minutos, e que exigia uma desculpa. Exige para aí. Ah mas nunca um homem pode deixar uma mulher à espera. Para trinta anos, tem uma mentalidade atrasada, digo ao meu botão. Convido-a para tomar café na esplanada, e ela indica na direcção oposta. Tão cedo e já a exprimir quem ela quer que manda. Está mal-habituada, a gajos que lhe mentem, dizendo que não são casados, mas que a tratam impecavelmente, exageradamente bem, só para a aliciar na fantasia. E elas caem. Impressionante como caem. Caem que nem tordas. O que é que queres? Um chá. Peço um chá e um gin tónico, pago, pois, sei que cheguei atrasado á minha forma de pedir desculpa quando me exijam que peça. Sentamo-nos a falar e lembro que não havia nenhum esforço a fazer, eu já decidira que a não iria comer, portanto não tinha de desempenhar nenhum papel, apenas absorver informação para mais um texto, até que uma epifania goza em pleno no meio da minha cara, eu envolvo-me com mulheres, de forma indirecta, para poder escrever. Ou pelo menos para poder escrever de forma sincera. Tal como bebo, bebo para ascese a estados de consciência além das minhas determinações neuróticas. Não, não é só para esquecer, pensas que era só fuga? Não. É para arrepiar caminho além dos meninos e meninas dos dóidóis. Vês, ao crescermos vamos acumulando, de acordo com a nossa personalidade e sensibilidade, feridas psicológicas. Dos menos sensíveis, dos mais traumatizados e violentos, e implacáveis que nós. Ou tu pensas que a Susana é ‘normal’? Essas violências, entram na nossa psiqué, e alojam-se tomando conta do imóvel. Tomam conta da casa e com o tempo tornam-se a nossa voz interior. A vítima passa a ser a colónia do disfuncional agressor. Tu não és mau, ou má, foste foi colonizad@ por gente disfuncional. Gente que fingiu amor ou amizade, para se aquecer contigo ardendo na fogueira. Pensava nisto brincando com o cubo de gelo do gin, quando ela falou mais alto exigindo que eu estivesse presente. Perguntei-lhe porque não estava com os namorados passados e andava entretida com o Bumble, onde só os traumatizados de guerra persistem. Explicou que acreditou demasiado nos homens, e a mesma lengalenga do costume. Perguntei quais eram os seus defeitos, e só me enumerou qualidades, que se entrega demasiado e acredita nas pessoas, e etc. Perguntei-lhe de novo, quais.os.teus.defeitos? Não me soube enumerar um, e eu disse para mim, está o filme feito. Percebendo a ‘irrazoabilidade’ do que dissera, pergunta-me aceleradamente, se havia algo de mal com ela. Não, respondi eu, recriminas-te com 19 anos, quando começaste a namorar, com o que viria a ser o pai dos filhos, quando não tinhas experiência. Ah mas eu devia saber. Pára, disse eu, com essa exigência contigo mesma, não tens que ser perfeita, ama-te mais um pouco. Mas eu sei, diz ela, que tu achas que as mulheres são umas cabras sem introspecção. Foda-se. Como sabes isso? Perguntei. Havia cheirado o meu Facebook onde tenho os meus sites para a escrita. Aqui que ninguém nos ouve, eu não acho isso. Ou melhor acho, mas os homens não são melhores. Contei-lhe da minha experiência em Valenciennes, onde privara em contexto de trabalho, com homens de todas as origens sociais, especialmente malta que se encurralara em más opções de vida, e que só uma profissão assim, de levantar às 6 da manhã com o gelo a rugir no pára-brisas, e chegar às 18 pela tarde, meio bêbedo pois havíamos parado no Intermarché da zona… E que durante o trabalho, era uma luta a ver quem fingia trabalhar mais, e agradar aos franceses. E que certo dia levei cafés para toda a gente de certa tarefa, pois havia ido buscar para mim, e que ao oferecer café a cada um, boa parte deles me achou inferior, vergável ao peso da cortesia num mundo sem complacência. Foi algo de tão vívido que ainda hoje recordo. Não, Djan, nome angolano, os homens são também uns cabrões uns para os outros. Conheço alguns, que se as fêmeas dissessem que copulavam com eles, se me matassem, me matariam. Não, os homens são piores, ou pelo menos os homens com mentalidade de carência. Não te recrimines meu doce, não é ódio, apenas luto pela minha ilusão. Afaguei-lhe a mão e retirei-me dizendo que tinha de assistir a um seminário de zoom, onde recebi a notícia de que os meus esforços académicos ficavam atrás do networking das instituições. A tipa que dava o seminário em merdas 3d do património, era elogiada pelo docente responsável, e mal conseguia esconder o prazer da sua individuação, pelo tremer de lábios, só comparável, deduzo à superação de uma difícil tarefa como a conquista do Evereste. Deitei-me para descansar, não fui capaz de dormir, e mandei-lhe uma mensagem, para que não se sentisse rejeitada. Eu não sou o filho da puta que coloniza a alma de outros. Love bombing é um termo chique para uma dinâmica que durante alguns anos me apanhou de surpresa. A mim como a outros ingénuos que achavam que o amor vale por si. Ah João, quem te magoou e vais morrer sozinho ou ainda vai aparecer a tampa para a tua panela. Vai-te foder. Como se para olhar de frente para as coisas só por trauma emocional se afirmasse a verdade feia que acontece. Como se ter uma opinião contracorrente fosse sinal de trauma, ou seja, de determinação emocional que te tolda o juízo. Vai-te foder. Estou são e sóbrio. Love bombing é aquelas gajas que quando te conhecem, com meia dúzia de dias te dizem que és o melhor na cama e o homem da vida delas. Ligam-te a qualquer hora e fingem gostar quando as comes encostadas à parede numa noite em que te embebedaste com os amigos e vais a casa delas às 4 da manhã sem avisar. O love bombing passa por te fazer sentir que és o centro da religião de alguém. Para vencer a tua descrença, e convencer de que aquela pessoa realmente te ama. A Célia, como não tinha qualidade, investia na quantidade, enchia-me o telefone com mensagens e corações e o caralho a sete. Esta a Rita, faz o mesmo, modus operandi semelhante, mas já coloquei num servidor lá em casa, um relógio digital em contagem decrescente para o tempo em que a tentativa de convencer passará a exigir algo. Quando a oferta generosa passará a factura por serviços prestados. Vêm-se que nem uma doida e diz-me juras de amor suada, que não lembram ao Bocage. Rio-me e abraço-a, fingindo acreditar e apreciar as balelas do que diz. Não lhe quero magoar os sentimentos e às vezes até o fingimento é indicador que se ralam realmente connosco. Mas não perco a ideia de que por muito fofo que achem o leitão, se tiverem fome o assam em três tempos. De modo que para mim, é rir-me com os clichés e observar. Ver o pião rodar feito parvo em direcção ao centro de massa terrestre, convencido de que são os orbes celestes que rodopiam em velocidades estonteantes. Vi o Tozé ali perto do Areeiro. Eu andava meio bêbedo à procura da Hemeroteca e vi um cabrão aproximar-se do meu raio de visão. Eh pá tás bom e não sei quê. É comissário de bordo tem o seu duplex ali na Portela. Engata gajas mandando fotos de copos de vinho com fundo da sua lareira e com promessas de amor eterno, se deixarem os namorados. Safa-se bem o cabrão. Conforme ele diz, impressionante o quão crédulas e convencidas as gajas são. Nunca comeu tantas diz ele, reconhecendo o seu feitio sinuoso, mas que se foda, também não quer ficar com nenhuma. Eh pá anda ali ao Tangaroa, pago-te um copo, não acontece muito encontrar amigos colegas de há 30 anos atrás. Não tinha nada que fazer, estava meio bêbedo e pela hora já não teria trabalho útil a ler as revistas digitalizadas que alguém algures no tempo lera na casa-de-banho. Da cerveja passa-se para o gin, que o cabrão queria fazer-se de fino. Não só fica ele ébrio, como eu passo a Saturno. Baixando as inibições, começa ele as hostilidades, falando dos momentos da nossa infância que o marcaram. Eu escutei. Tal como as gajas que fingem te amar ao início, e que a vossa situação é uma excepção no repertório do espaço-tempo, também o bully te tenta convencer que o seu mo é natural e que tu afinal és normal, um sujeito inteligente e perspicaz nas coisas sociais. Ganha-te a confiança, e alimenta-se do teu sentimento de inadequação a partir do momento em que te oferece um pontapé no rabo ou um soco no estômago, para estabelecer por fim, a hierarquia na qual tu passas a ser o pasto e ele ou ela, o fogo. É essa hierarquia que é o visado, só se sentindo acima de ti, pode ele sentir-se bem com ele próprio. O tipo ou tipa, que para viver consigo, sacrifica os outros. Este cabrão fez-me isso. Em 1987, num visita ao centro comercial da portela de Sacavém, ao degustar um croissant de chocolate. Prega-me um pontapé no rabo, pois sabia pela auscultação anterior, não só que eu era manso, como não responderia à agressão. Da mesma forma como antigamente ficava a anhar, pelas cachopas deixarem de responder subitamente de forma a que eu as perseguisse, também este traumatizado aproveitava mo anterior, captando para si, mais um estado subsidiário do seu amor próprio, eu. O curto-circuito de ficar a pensar na justificação da agressão e das nossas acções era o mesmo que quando do nada a tua namorada de livre vontade te diz que as coisas não estão a dar, por tua culpa, quando na verdade é porque um colega de trabalho lhe promete um copo de tinto em frente à sua lareira. Antes que percebamos que o cabrão planeara tudo desde o início, já somos a bitch dele. Ou lhe damos logo nos cornos, ou passamos o resto da vida a fugir. Eu ouvia o gajo, e deixava-me calar para não lhe responder. Tentava compreender-lhe o lado humano e esquecer os agravos que o meu ego se queixava que me tinha feito. Até ao momento em que se gabou de ser o maior na secundária. Deixou de ser vitima para assumir a culpa. «-Eras o maior? Como assim?» Perguntei eu. «-Ah, sabes, os conas que havia na nossa escola, ainda dei nos cornos em alguns a ver se aprendiam.» Só pensei para comigo como negociar com o meu ego, esta confissão do seu opressor, sem me tornar desagradável. «-Tens noção que eu era um desses?» Ele parou de brincar com a língua e o gelo no copo e de correr os arquivos de memória à procura do meu papel na sua fantasia egóica. Isto foi o mais insultuoso, o saber que o cabrão nem se lembrava bem da minha história, tal como gajas que não se lembram que nos prometeram amor, quando nos falam por favor num qualquer concerto de música em que nos encontramos inadvertidamente. Finalmente lá se apercebeu da gaffe, de quem eu era e do que tinha feito. Mas não assumiu. Eu perguntei se queria repetir o que havia feito. Tentou envergonhar-me com a conversa do somos adultos e do ficou lá para trás, da mesma maneira que uma gaja te faz gaslighting quando lhe apontas erros passados, revertendo o seu, para ti. Por exemplo, quando há um gajo que lhe mandou uns sorrisos e innuendos e ela te diz que não a levaste a passear mais vezes, portanto tu é que falhaste. Porque não quer assumir a sua culpa, ou natureza humana, não se importa de te fazer arder pela própria responsabilidade. Outras mergulham de cabeça e assumem logo para acabar ali a discussão. Respeito mais essas. «-Olha, sou uma puta e perdi a tesão por ti, há um gajo melhor a rondar, portanto mete-te no caralho.» - como me disse a Susaninha. Fiquei a respeitar, não pela boçalidade, mas pela artimanha de quebrar logo ali qualquer esperança de dignidade dela. O problema são as que se fingem de dignas e são putas como as outras, deixando-te a ti na dúvida. Amiga, vai à tua vida, não faças é do outro responsável pelo teu carácter. Esse é o pecado. O gajo havia começado a bailar à minha frente. Eu já nem via bem o bar na Almirante Reis, que ele se gabara de frequentar quando tinha scooter e os outros andavam a pé. Ou da roupa de marca que vendia, gozando com os outros, eu incluído, por terem a roupa que o salário dos progenitores permitia. Dirijo-me para a porta e um cinzeiro é arremessado na minha direcção acertando-me por sorte apenas na orelha. O empregado de balcão fica olhar, habituado a cenas de bêbedos, e eu volto para trás, já não era eu. O Tozé mete-se na pose característica da esgrima, esquecido que não tinha florete. A perninha à frente avançada, foi raspada que nem manteiga, de tal forma que ainda tive tempo de lhe agarrar no colarinho e cabecear antes de chegar ao chão. O telemóvel dele voou para perto, e enquanto eu lhe dizia algumas palavras e imaginava arrancar-lhe o rosto no rugoso do soalho grés, vi o meu rosto reflectido no vidro do smartphone. Foda-se ando violento, eu não sou assim. «-Óh filho da puta, achas que me esqueci?» Disse estas palavras a olhar o meu reflexo e não gostei do que vi. Não sou como este cabrão nem como as putas que me passaram pela mão. Elas como ele, são iguais. Bullies. Gente que não tread lightly na vida alheia. Gente sem consideração pelo papel dos outros na sua vida. Gente incapaz de te aferir o valor sem ser através de uma hierarquia. Elas, eles. Larguei-o e fui para casa da Rita. Abriu a porta a contragosto e iniciou as recriminações e exigências. Acedi por sessão remota à minha rede de casa e parei o cronómetro no servidor. Ligou-me eram 23 horas certinhas. «-Ó filho da puta, estavas a referir-te a mim quando escreveste o texto…eu fodo-te a vida… tu não sabes com quem te meteste…» Desliguei-lhe o telemóvel na cara, mais preocupado com a dor de cabeça decorrente de 6 heinekens de penálti, que com as ameaças. Fui ler o texto, e nem o nome dela coincidia, porventura serviu-lhe o chapéu, e o homem amestrado que tinha em casa lia o blog. Merda antiquada essa dos blogs. Só assim se justificaria o pânico dela. Mas por que raio de motivo ele poderia ler o blog? Ou usavam o mesmo computador, ou ela havia usado a minha personagem para lhe fazer ciúmes, sujeitando-o cada vez mais numa chantagem emocional que o diminuía como homem, e que o fazia esforçar-se mais por aprovação…já dizia o outro, tudo tem a ver com sexo, menos o sexo…que tem a ver com poder. Ao insinuar que havia competição, manipulava o trongo a esforçar-se mais, a ceder, nos raros momentos em que se sentia tão diminuído, que o amor próprio o forçava a dar gritos de Ipiranga, a rebelar-se contra a dona tirânica, que lhe dava a vulva e uma razão para viver por via do sentir-se vencedor por ter acesso a um útero estéril. Um dos meus melhores amigos liga-me e diz: «-Óh boi, amanhã passo por tua casa de manhã para irmos tomar café.» Ao terminar a frase acabo por adormecer, e só acordo com o toque à campainha na manhã seguinte. Mijo, lavo-me e levo a cadela à rua, com o olhar incrédulo dele que me espera dentro do carro falando com outros amigos que lhe preenchem a vida com o placebo da presença telefónica. Vamos a uma pastelaria perto de onde ela mora. E eu, foda-se, isto pode dar merda. Bebo o café, e repito a mesma merda de sempre, que as sessões de cerveja visam afogar mágoas mas que estou a dar cabo da minha saúde férrea. Nem tinha acabado a minha promessa de sobriedade e ouço o impropério «- Óh filho da puta, estás aqui!» Tentam ofender a nossa mãe, porque sabem que na maior parte dos gajos bimbos tal é uma espoleta para desnorte, o objectivo é apenas provocar uma resposta emocional tresloucada que faça o ofendido perder as estribeiras, e assim, passar por bruto imbecil. Manipulação no seu melhor. Fingi que nem era para mim. A atmosfera ficou tensa, e sinto a minha cabeça empurrada para a frente por uma mão fria, que transmite a frustração do meu propositado ignorar da voz. Olho para trás e vejo-a com o animal de estimação bípede. Pronto fico com a certeza de que a merda bateu na ventoinha e espirrou para todos os lados. A dor de cabeça azucrina-me o raciocínio, e enterro o rosto mais na direcção da chávena vazia na mesa, a ver se o rodopio de poeira passa com o meu desprezo pelos sedimentos alados resulta. Uma mão com mais força que a de uma mulher zangada pousa-me no ombro. Pronto, já não há como escapar. A fraca figura de um gajo carcomido por dentro, dispõe-se à minha frente, contrariado nos olhos, por ter de enfrentar outro, mas tentando vencer essa contrariedade por via de uma clara crença de que os homens a sério mostram a sua validade às gajas, impondo-se a outros. Julguei até ver a esperança de uma foda esforçada e húmida nos seus olhos, como prémio de ter esmurrado outro, é que sabes, essa merda faz com que fiquem molhadas, go figure... Apoio o queixo na palma da minha mão e fico a encará-lo de frente, com ela passando para segundo plano, falando alto para que todos a ouvissem na esplanada de forma a justificar a justeza da violência que se preparava para acontecer. E eu pergunto, «-Dude, tás parvo?» «-Deixa de te meter com as mulheres dos outros, cabrão. Arranja mulher para ti, punhetas.» Mais que os contextos, tentei perceber o que fazia ele da situação, e que ela levara a manipulação demasiado longe, esquecendo-se de mencionar, que não só eu negara os seus avanços, como ela os iniciara. O meu amigo conhecendo os três, permanecia calado e de boca aberta, pois as várias vezes que faláramos de gajedo, ficara patente que a minha visão era realista, o que nos dias de hoje é sinónimo de ginecofobia. Ainda perdido na cogitação sobre quão fácil era manipular um homem menor, aquele que sabe que por não ter valor próprio, tem de se anular para poder procriar, senti um impacto forte no queixo, após o qual um sentimento de ardor se seguiu, e ainda sonhei ficar inconsciente, já que a cerveja e o vinho verde só me recordam do fosso entre os meus amores passados enquanto são, e o que eram para mim. Pequenas maravilhas da Criação, a meus olhos, que afinal se revelaram, humanos com feios defeitos de ausência de carácter e introspecção. Levantei-me para ir embora, mas a minha ausência de resposta fez com que acreditassem na minha culpa, e não no querer evitar algo doloroso para todos. Ela então deixou enfunar a sua vela de indignação, afinal a maior culpada, avançou na minha direcção e com a mão na minha cara arranhou-me a face esquerda com as unhas de gel merdoso, que são adorno para quem não quer ser objectificado sexualmente. Um diferente tipo de ardor, e aqui já nada podia fazer, estava cego, pela injustiça do tratamento. Avanço na direcção dela, e o tipo presenteia-me com um soco bem encaixado na minha maçã do rosto direita. Não me deitou abaixo, apenas ficou a doer. Afinal que fizera eu, para que estes dois canídeos achassem que a minha anulação reforçava o seu amor? O meu ego fervilhava pela injustiça, a adrenalina soltava-se lentamente, o medo e a raiva faziam amor, cada um virando-se para o seu lado na cama comum, à espera que o outro perseguisse. Olhei para o bacano e disse: «-Mano, eu nada fiz, nada provoquei, mas tu não tens problemas em agredir outro, apenas baseado na palavra da tipa que te tem pelo beiço?!» A tentativa de ser razoável apenas confirmava a minha menoridade e o carácter inofensivo a seus olhos. Um pontapé em cheio no meu quadríceps direito, fez-me a perna ficar dormente, pois quando avancei para ele e aterrei a minha testa no seu lábio, que se abriu como porta de banco às 9 da manhã, fui a coxear. Após o ver voar pelas mesas da esplanada partindo o vidro temperado da vitrina, dirigi-me a ela, que apanhada de surpresa duvidava que eu conseguisse ou me atrevesse a bater numa mulher, afinal a autora moral do crime. A minha canela esquerda varreu-lhe ambas as pernas do chão, e ao cair, o rosto bateu no balcão de mármore, de esquina. Inanimada no chão, dirigi-me ao potencial de resposta, que sacudia ainda vidro do pescoço. Agarrei-o pelos colarinhos, levantei-o, e projectei-o na direcção oposta, onde se encontrava a mesa intacta, que partiu facilmente com as costas. Ao abrir os olhos, grogues e cambaleantes, disse-lhe : «-Mas tu achas que me meto com as mulheres dos outros?» Do outro lado, uns olhos tristes e quase a fechar, não faziam caso do que eu dizia. Uma pena imensa tomou conta de mim, como se tivesse batido a um deficiente que não tem culpa da sua inadequação social. Deixara que a minha ira tomasse conta de mim, por causa de uma frustrada que manipulara o prémio de consolação que seus olhos determinavam. O tipo ensanguentado e desmaiado à minha frente funcionou como epifania que me trouxe as lágrimas aos olhos. Há uns minutos não se importaria de me sacrificar para melhorar a sua vida amorosa. Agora era eu que lamentava o seu destino. Pousei-o no chão, de lado, para que o desmaio não o sufocasse pela posição da língua, e preparava-me para ir embora quando a Polícia de Segurança Pública chegou. Vistas as filmagens CCTV, foi confirmado que agira em legítima defesa. Às vozes à minha volta eu só pensava no mísero destino daquele tipo. Ao como é difícil falar sobre a natureza feminina que não seja agradável e cor-de-rosa. Aparentemente os homens têm o monopólio de falhas de carácter. Ele acreditara que o navio havia finalmente chegado ao seu porto, quando ela se riu meia dúzia de vezes para ele. As manhãs intermináveis de levantar-se a horas cama, para ir trabalhar no armazém de peças auto, haviam finalmente compensado, garantindo uma vulva cuja dona sonhava com os badboys passados fazendo amor com ele. Ele contentara-se com o prémio de ser o prémio de consolação de alguém que se divertira enquanto o corpo permitira, e que finalmente se tornara acessível, não por ele, mas por falta de ofertas. Na mais profunda tristeza de lamentar este mundo cão em que todos partimos as vitrinas ao cair na realidade, lamentei a violência exercida sobre ambos. Felizmente ninguém se levantou por ter batido numa mulher. Antes levar mil murros na cara, que encarar a verdade. A mulher casada dos enta é um dos mais trágicos e cómicos temas de estudo para os primatólogos. A Sofia aborda-me assim do nada pelas redes sociais. Oi como estás e panhonhices do género. Ok, e como faço sempre, para terminar a conversa sem magoar os sentimentos da pessoa, torno-me vernacular, aludindo a expressões básicas de desejo pelo seu corpo e actividades lúbricas em comum. Chupa-me o pirulito e engole, e afins. Algumas terminam a conversa para manter a distância, outras continuam para obter o que realmente querem, validação. Vês, não querem a tua pessoa per se. Querem ter a certeza do teu desejo genuíno para se sentirem melhores consigo mesmas. Sim, é uma constante ao longo da vida, mas a matrona quarentona é alguém que se vê presa às opções das suas escolhas. Algures nos trinta ouviu o anúncio no megafone, de que o centro sexual fechava dentro de minutos. Atrás de si deixou n pretendentes, na senda de encontrar o ideal no amante que viesse a seguir. O grau de exigência aumentando na medida proporcional ao sentimento de merecimento, que como calculas, por causa do solipcismo, é já bastante elevado. Aos 30, já não exerciam o mesmo feitiço que aos 20, e por isso começam a perceber que o tempo está a acabar. Decidem então contentar-se com um prémio de consolação e não com a sorte grande. Escolhem um tipo, que corresponda ao mínimo da sua checklist, para a fase que se avizinha. Já não é a hipertrofia muscular a reinar nos critérios, mas a capacidade de trazer para casa os meios. O pobre diabo, sabe no fundo, que a única coisa que tem a seu favor, é essa capacidade de trazer para casa um ordenado. Mas, ei, sente-se um vencedor da vida, afinal uma portadora de vulva faculta-lhe acesso orgasmático, sente-se acima de todos os outros incels que a única acção horizontal disponível é a que conseguem por via do pornhub, acumulando papel higiénico amarelecido na mesa de cabeceira nocturna. Perante a escolha entre noites solitárias a espancar o macaco e uma tipa execrável que se contenta com ele enquanto meio e não como fim, adivinha o que escolhe ele? Claro e andará à porrada contigo pelo direito de poder pernoitar com uma gaja que não o respeita. Não se importará de te desfazer um maxilar numa manilha de esgoto se souber que isso lhe garantirá umas quantas noites de sexo sardinha, que é aquele em que ela jaz no leito ulisseano de perna aberta à espera que te despaches enquanto sonha com a sua paixão de juventude para suportar o teu bafo quente no seu pescoço e as tuas palavras de amor ao seu ouvido. Assim era o Hilário. Esposo não de facto, da matrona que me contactara, trabalhando num armazém de peças auto. Detesto saber quem são os gajos, das gajas que os encornam. Por motivos éticos, pois em 99% das vezes não encorno ninguém. Mas porque também sei que se souber quem são, já não posso chafurdar na carne morna das suas amantes. Ela metia-se comigo, apesar dos meus silêncios, e eu notava que a partir de determinada altura, me considerava tão abaixo de si, que não conseguia compreender por que motivo eu não queria foder com ela. O que acentuava o seu drama de validação, pois se eu, o mais baixo na sua escala, não queria lambuzar-lhe o ego com elogios, então é porque de facto, o seu tempo havia passado. Insistia comigo, para ir passear com ela, para me mostrar os leggings novos, e mandava fotos de si em ligas, como se anzóis lançasse para o elogio. Como não obtinha feedback, gabava-me os textos, que anuncio nas redes sociais, aliás, único motivo pelo qual as tenho. E eu perguntava-lhe: «-Tens noção que eu escrevo sobre esta merda? As tuas tácticas passam ao lado.» Podia perguntar-lhe o mesmo mil vezes, tal como as mil vezes que Susana dissera que me amava. Estava tão convencida da certeza da sua intuição, de que eu era apenas um macho beta, um subproduto evolutivo incapaz de reproduzir, de ter valor, que o quer que eu dissesse era ruído ante a sua certeza cabal. Às fotos tiradas ao espelho pandémico, eu dizia, que boazona, fantástico tenho de vamos x e y… Já lhe facultava todo o tipo de validação a ver se me deixava da mão. Claro que dizia a mim mesmo que se no passado se havia feito melhor que eu, passando por mim na rua e falando por favor, não era agora como náufraga que iria receber uma bóia minha. Sim, sou vingativo, e depois? Cristo é que dava a outra face. E macacos me mordam se morro agarrado a uma cruz. Ora pensava de mim que eu passava a existir de acordo com as suas necessidades. Amas de forma oportunista minha puta? Pois nem para depósito de esperma serves. Macerava-me a mim mesmo, por ter este tipo de pensamentos e lá ia aturando a postura de quem via o tempo perdido como o do Proust, ido de vez, e a avenida Morte aproximar-se a passos largos, sem dentes, sem forma de viver além do que sempre fora o seu maior bem, o aspecto físico. Fizeste a tua cama, dorme nela, eu durmo na minha. Meia dúzia de punhetas por dia, e sinto-me semi feliz. Já tu precisas da aprovação de outro para poderes viver contigo mesmo. Chafurda-te aí nas consequências das tuas escolhas, apodrecida e convencida de que és o centro de gravitação da Humanidade. A coisa ia apenas gerando textos, e alguns professores meus me ligavam dizendo que os meus textos estavam brejeiros, que tinham pena e esperavam mais de mim. E eu respondia, eu quero é que tu realmente te fodas, pois esta merda é o que de mais próximo existe do que está abaixo do verniz das coisas. Se te queres iludir com quimeras, não me arrastes para baixo contigo. Do outro lado da linha vinha o silêncio e a solidão que fazia vacilar e lá fui foder com ela, tinha os colhões cheios e sentia a falta de carinho humano. À sua preocupação sempre constante de saber todos os passos do marido oficial, afinal não queria perder o boi que a sustentava, saí da minha narcolepsia e disse na sua cara ofegante, não te fodo, somos bem mais que isto. A sua mão continuou massajando o meu joelho, sentia no seu toque uma espécie de vontade de me agradar e de apreço. Tinha de duvidar da minha intuição, afinal, também confundi por alívio a embriaguez nos bancos de jardim, quando só conseguia respirar se bebesse uma garrafa de vinho verde que me levasse a consciência do horror para longe como ela fora para sei lá onde, debaixo da terra, algures num sítio que nem imagino existir. Ela lutava contra mim, eu havia decidido que não queria mais mulheres, nos próximos anos, mas ela insistiu e perguntou-me: «- Credo João, que foi tão grave assim?» Desconfiado interpretei a pergunta como mais um ataque de vergonha que visava fazer-me inadequado, ou seja, alguém que dá demasiada importância a minudências da vida. Mas algo no seu tom de voz, fez-me pensar a sério na pergunta. Sim, afinal de que choro eu? Sim, afinal que grande mal do mundo é este sobre o qual escrevo? Posso inventar mil e uma desculpas, mas que de tão diferente é a minha experiência do mundo, que eu ache que tenho de devolver ruído ao mundo acerca do seu efeito em mim? Não é isso uma arrogância atroz? É, mas quem escreve é arrogante. Sente-se e com propriedade, acima dos conas e monhofonhas que passam pela vida, por via do seu plácido e serôdio bem-estar. A coisa chegou a um ponto, que um gajo que faça introspecção é considerado ‘artista’, se e somente se souber vender o peixe, ou seja, comportar-se de tal forma que a sua suposta vida interior seja respeitada pelos demais como expressão de uma parcela de essência divina. Respondi-lhe, : «-A bem dizer, tens razão, nada. Merdas, ou se calhar perdi a paciência…mas se calhar isso de perder a paciência é a única forma de perdermos o jogo e eu detesto perder.» Lembrei-me não sei porquê da miúda nórdica que não me larga e a quem resisto e dou para trás. Que o meu desencanto, é talvez essa a melhor palavra, me faz afastá-la, mas é se calhar por causa desse afastamento a que a forço, que me continua a perseguir por me achar o prémio. E esta merda é como as cerejas, após uma ideia outra se segue. Não há nada de errado comigo próprio, por surpreendente que pareça, rio-me de ainda pensar isto. Ou tenho conhecido pessoas de merda, Deus me perdoe, ou tenho esquecido uma regra de trânsito que não nos ensinam na escola : «Somos incapazes de amar o que não respeitamos.» Éh macacos dum cabrão. Está explicada a charada e o agir que observei em criança. As pessoas fingem e desempenham peças para serem amadas. Daí a minha obsessão com critérios de avaliação dos indivíduos. Porque é que a namorada que nunca trabalhara na vida, deixou de gostar de um filósofo que se arrastava por uns call centers? Porque querem olhar para cima. E porque era incapaz de olhar para si. Ou aquela que tinha dinheiro para as unhas e permanentes, porque não tinha de sustentar a casa, que os pais ajudavam, e a mim só a minha pobre mãe me ajuda. Não há nada de mal em mim, mas na incapacidade de introspecção de algumas. Olha o exemplo da nossa querida Susana. Escolheu o pai mais abonado para o seu filho, com o único critério de que ele pudesse pagar pensão de alimentos ao filho. Avaliou-lhe o carácter e o potencial de acumulação de dividendos. O caso da nossa Célia. Continua o mesmo trapo humano, mas cagando de alto agora que lida com médicos e já não com clientes do stand automóvel do marido. Leva umas cavacadas aqui e além, vai-se iludindo na sua imagem de si mesma, e até me contacta a ver se dou uma ideia para os trabalhos académicos da filha que também cursa Filosofia. Aproveito para a comprometer facilmente com a sua falta de personalidade. «-Não me digas que só me ligaste para obter alguma coisa de mim.» «-Achas?» «-Acho…mas dou-te o benefício da dúvida se formos jantar. Combinou-se e desmarcou como eu esperava. Sem qualquer pudor, ou vergonha. Como eu esperava que fizesse. Como sempre fez, mesmo quando me fodeu para provar a ela mesma que se vingava de mim por ter escrito sobre os seus atributos físicos. A instrumentalização do acto sexual, para fins de vingança ou amor próprio. O traste humano de nome Sónia, que aproveitou o peixe que veio à mão para castigar a cabra à solta do namorado, que de tempos a tempos a troca pelo círculo de amigos, para ao mesmo tempo, não ter de lhe olhar para a cara, e gerir a relação de forma a que ela revele por ele o apreço que nunca parece exprimir-se convincentemente. Não estou a falar mal das cachopas, é a condição humana, creio. Também tenho falhas de carácter, muitas. E isto que relato não é um episódio de gueto que vês nos movies. É o pão nosso de cada dia dos que estão acordados quando olham para as relações entre os sexos. E mesmo entre membros do mesmo lado da barricada. É o mundo de cão. E é por isso que escrevo, não para envergonhar as quadrículas que exponho, mas para mostrar o quão melhor que isto podemos ser. Mas ela continuava a massajar-me as têmporas enquanto me observava a pensar os caminhos mais que batidos destas minhas lucubrações, como se fosse algum anjo da guarda meu, divertido entre as minhas hesitações de como agir perante os dilemas morais…retribuo em género ou dou a outra face. Sem que eu dissesse alguma coisa ela retorquiu: «-Eu sei amor.», repetindo baixinho ao meu ouvido enquanto me festejava o cabelo e respirava quente nos lóbulos das minhas orelhas. «-Deixa isso.É passado. Só existimos eu e tu agora para a frente.» Sim, ela tinha razão, que lamento eu que relações de merda tenham acabado com atitudes medíocres das mulheres que não conseguiram ter qualquer respeito por mim, apenas porque as tratei como iguais. A maior parte das supostas rupturas ocorreram quando eu próprio já nem consegui olhar para as suas caras ou largá-las para ser mais feliz. É o meu único pecado a cobardia. Então João de que te lamurias tu? Se calhar o mesmo que elas, não consigo amar abaixo de mim. Preciso de um ídolo que me suplante e seduza para o Céu. Mulholland Drive - 2001 - David Lynch
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Faltavam 3 riscos brancos na mesa de vidro temperado. Um deles circulando bem-comportado pela minha traqueia abaixo, assinalando com euforia a sua presença. Se já falo para caralho normalmente, com neve colombiana pareço uma grafonola atómica. Quase todos os psicotrópicos para consumo humano implicam uma dose de esquecimento e relativização, apenas sobre estimulando capacidades sensórias. E ela havia estimulado as minhas, colocando a sua mão na minha perna e perguntado como eu estava. Não te sei dizer, mas toda o meu neocórtex interpretou a questão como um convite a explicar a minha vida inteira de um ponto de vista intelectualizado. Parte de mim sabia, a parte mais alta, digamos o alter ego, aquele reduto onde está a superior sapiência de que o cabrão do ego puxa os cordelinhos, mas é uma ilusão no grande esquema das coisas. Uma gaja boa meter a mão na minha perna, loiraça, com fato de trabalho profissional como se advogada ou bolsista, cabelo espartanamente apanhado, ligas pretas, e perfume aquecido pelo seu corpo firme, faz-me em condições normais tentar impressionar. Mas aqui, eu queria tanto fodê-la que usei o meu A game para impressionar a boazona e poder esquecer-me dos dóidóis no meio das suas pernas e de juras infinitas de amor interminável. Saia cinzenta, e ao falar que nunca mais me calo, o tal alter ego a avisar-me que já no passado perdera pito por tal verborreia incontida que apenas serve de escape emocional, racionalizando sobre as coisas que tenho dificuldade exprimir. Vês, quando falo, nem sempre é para impressionar o outro, é mais para vazar a emoção acumulada, a solitária observação do mundo que me fica na retina sem ninguém com quem partilhar. Vivo demasiado dentro da minha cabeça e acho que se o revelar, o outro se apaixona por mim, na certeza absoluta de que a minha vida interior daria um filme ou conto de fadas. Ou de fodas. Fácil ganho fácil perdido, e as lucubrações que ia tendo pareciam surtir efeito, com ela cada vez mais interessada ou fingindo interesse, pois se finge interesse também é bom porque o esforço de fingir implica que já decidiu foder connosco, porque senão não se submeteria ao tédio. Com um olho no burro e outro no cigano, ou seja, compreendendo que a euforia do meu ego sedento de sexo, era um estado emocional que podia não ter correlativo na realidade objectiva, não me deixei embandeirar em arco. O alter ego dizia para me calar, o interesse estava garantido, para a cueca bastava que me calasse. O ego dizia gritando que nada me determina muito menos uma cona e que portanto eu viveria no risco, arriscando a perda da vulva na minha catarse emocional, que se sobrepunha a todo o resto. Quem diria, aliviar as tensões, como acto de interesse por mim, sobrepondo-se à dependência vulvar. Estaria enganado em relação a mim e à opinião que tenho de mim próprio como dependente de sexo mesmo a expensas da própria dignidade? E subitamente parei, pois percebi que se de facto havia essa possibilidade e eu estava a pensar nela, então a gaja não era de facto, o mais importante. Eis que esta gaja boa estava aqui ao meu lado e eu estava a pensar em questões de moral ética e valor próprio em contexto metafísico, quando podia estar a mexer no soutien 36 que à minha frente parecia convidar a uma sessão de chavascanço ad absurdum, reparando ao mesmo tempo na respiração acelerada dela, por via das marés do seu peito, em ritmos rápidos inferiores aos de preia-mar. Nem te conto, uma onda de alegria percorreu-me o corpo, por perceber a ideia errada que tinha de mim próprio. Não sou dependente afinal, da cona, da validação de uma mulher, mas um filósofo que se conhece apenas no sabor da boca de quem vai amando pelos estágios da sua vida. A ideia pareceu-me boa e usei a ideia da boca, dizendo-lhe fora de contexto que queria saber a que sabia o cuspo dela. Parou de mascar pastilha elástica, engoliu a mesma e ficou a olhar para mim com olhar travesso e expectante. A força dos meus lábios esmagados nos dela era tal que toda a mariquice que uso normalmente para me sabotar, ficou de fora hermeticamente vedada, e só um gutural gemido de entrega telúrica enquanto lhe puxava a saia para cima da cintura se escutava no espaço do que parecia ser um concerto de alguma banda de música hipnótica. Era como se Deus olhasse para mim através de um daqueles momentos em que a vida parece tratar-nos por tu, e então sabemos que esta merda é pessoal. As únicas palavras dela foram «-João, já viste onde estamos?» Olhei em volta e vi muita gente, como se todos estivessem esperando. Respondi «-Sim, nas boas graças do Criador.» |
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Outubro 2024
Tori Amos - Professional Widow (Remix) (Official Music Video) from the album 'Boys For Pele' (1996) - todos os direitos reservados:
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