Viúva Profissional
  • Casa
  • Miguel Esteves Cardoso / Pedro Paixão
  • Susana Pascoal
  • Ad se ipsum
  • Casas
  • Galeria
  • Recursos

Tempo (tic)

17/12/2006

0 Comments

 
    A ampulheta, a ampulheta, a areia que escorre entre os dedos ao som de uma corneta
Corneta anunciante do fim, que se afasta do nascimento à velocidade de um alucinante cometa.
Escrevinhas, como na canção, os planos da tua vida em sonhos balbuciados na areia.
Matas o tempo em pequenos suicídios alheios à sombra que congeminas na tua teia.
Quando no tempo pensas é porque já passou demasiado e os teus planos falharam,
Saíram ao lado, ou tornaram-se no que não estavas à espera, até os fracassos fracassaram
E corres, corres corres à volta do teu antiquado crescente umbigo, viver é um treino para a morte
O tempo não pára e a ele que julgavas matar vê impávido a tua lenta agonia abandonado à tua sorte.

Nascer, morrer, não causam estranheza, cada um por si só, mas aquilo que se faz no meio
É a almofada do angustiante desespero, tens o teu tempo aqui, aproveita-o e o que fazes com ele?
Passam os anos, passam as passagens de ano, tudo passa e o rio o mesmo já não é
E urge dar à tua vida um sentido, que na adolescência é cósmico, pujante sem freio
e vai amainando amainando como folha condenada ao Outono, sentes o tempo passar na pele
Acabamos por ceder, ceder ceder e já só queremos sopas e descanso e uma história que mantenha de pé
a necessidade de dar finalidade à vida, não já uma epopeia, mas um conto menor, corremos atrás dele
Mas é só à volta de um tiro de pistola que não ouvimos partir e acabará por detonar no coração.
JCNF
Tempo (tac)
Não são os sonhos que perdem pujança, como o sangue pueril que se esbate nas paredes das veias com o passar do tempo.
A entrega, a nossa entrega a eles é que não pode deixar de esmorecer, seja pela força da desilusão seja pela brutalidade da descrença.
Sabemos que o outrora apetecido agitar das águas só trará a suspensão do lodo, e mais vale um lago tépido e visível a curta distância, que um remoinho de incertezas. É cada vez mais a segurança, a protecção contra surpresas, que se instala e aninha. O cálculo ganha terreno, antes um parvo (a) que nos carregue, que um esperto (a) que nos derrube.
Já não acreditamos...tão só...
Porque achais que é aos jovens que recorrem as agências de marketing e similares, procurando qualidades como dinamismo, espírito de grupo, entrega?! Pois eles ainda não amargaram e ainda acreditam...

Já não acreditamos. Desdenhamos. A sombra do passado menoriza qualquer tentativa do presente.
Não pode deixar de nos perseguir a ruína de amores passados, e a omnipresente suspeita de que se as do passado ruíram, tudo depois deles (ou da nossa crença neles) pode também ruir.
Não são capas ou falsa moeda. É só a capacidade de entrega, ou não, de um coração.

Aos 30, 40, 50...não se vive o que se vive, como se vive, aos 18. Porque aos 18, ainda muitas janelas no futuro se encontram abertas.
O futuro não é ainda um horizonte que enegrece sob o pêndulo da urgência.
Aos 18, o céu apresenta-se risonho, promissor e esperançoso.
Aos 30 morde-nos os calcanhares.
Aos 50 aponta-nos a sala onde devemos fazer contas.
Assim também o nosso ressentimento não é para o que insuflámos. Mas para a nossa própria gula, a nossa própria credulidade.
Envelhecer é o contentamento com o lugar comum que outrora não considerávamos, de nós, digno.
A explosão do balão, é não conseguirmos aguentar as altas expectativas que criámos de nós, dos outros, do Amor...

O fim é inevitável mas não é o que está fora que o dita. Somos nós que mudamos.
As horas os minutos são já só as testemunhas da angústia de os saber um passo mais próximo do fim, da impotência de já haver passado o tempo próprio...e o que restará de nós?
A inevitável solidão se não levar para a morte a eterna companheira que é a memória da tua cara.
é que não pode deixar de esmorecer, seja pela força da desilusão seja pela brutalidade da descrença.
Sabemos que o outrora apetecido agitar das águas só trará a suspensão do lodo, e mais vale um lago tépido e visível a curta distância, que um remoinho de incertezas. É cada vez mais a segurança, a protecção contra surpresas, que se instala e aninha. O cálculo ganha terreno, antes um parvo (a) que nos carregue, que um esperto (a) que nos derrube.
Já não acreditamos...tão só...
Porque achais que é aos jovens que recorrem as agências de marketing e similares, procurando qualidades como dinamismo, espírito de grupo, entrega?! Pois eles ainda não amargaram e ainda acreditam...

Já não acreditamos. Desdenhamos. A sombra do passado menoriza qualquer tentativa do presente.
Não pode deixar de nos perseguir a ruína de amores passados, e a omnipresente suspeita de que se as do passado ruíram, tudo depois deles (ou da nossa crença neles) pode também ruir.
Não são capas ou falsa moeda. É só a capacidade de entrega, ou não, de um coração.

Aos 30, 40, 50...não se vive o que se vive, como se vive, aos 18. Porque aos 18, ainda muitas janelas no futuro se encontram abertas.
O futuro não é ainda um horizonte que enegrece sob o pêndulo da urgência.
Aos 18, o céu apresenta-se risonho, promissor e esperançoso.
Aos 30 morde-nos os calcanhares.
Aos 50 aponta-nos a sala onde devemos fazer contas.
Assim também o nosso ressentimento não é para o que insuflámos. Mas para a nossa própria gula, a nossa própria credulidade.
Envelhecer é o contentamento com o lugar comum que outrora não considerávamos, de nós, digno.
A explosão do balão, é não conseguirmos aguentar as altas expectativas que criámos de nós, dos outros, do Amor...

O fim é inevitável mas não é o que está fora que o dita. Somos nós que mudamos.
As horas os minutos são já só as testemunhas da angústia de os saber um passo mais próximo do fim, da impotência de já haver passado o tempo próprio...e o que restará de nós?
A inevitável solidão se não levar para a morte a eterna companheira que é a memória da tua cara.
0 Comments

Anatomia do corno

7/12/2006

0 Comments

 
O corno é marreco.
O corno é curvo.
O que verga o corno?
O medo?
O baixo amor de si mesmo?
O amor em lume brando de outrem?
A ingenuidade?
O poder de negação?
A sua própria Natureza?
Um amor ao cálculo?
O amor pelo absoluto com forças relativas?

É perito na ontologia da queda e da perda.

O corno assume dois tons.
O corno absoluto ou metafísico, e o corno circunstancial ou físico.
Há um terceiro tipo, mas não quero que o caro leitor (a) se sinta ofendido.
Genericamente, o corno está disposto a abdicar de si, dos seus propósitos, em nome de um grande propósito. A ofensa passa para segundo plano em face do que as últimas consequências podem trazer para o quadro mais geral, que é o que ele espera da vida.

As últimas consequências são o fundamentalismo sobre a ofensa. Este fundamentalismo causa normalmente para o corno não corno, uma ruptura na relação, ruptura que o abana por completo nos fundamentos da existência.

É esse terramoto que aflige o corno comum.
Só o verdadeiro corno infeliz, o metafísico, faz por sobreviver além da catástrofe, porque ama o espinho que o atormenta.

Para o corno infeliz, o ente amado é fonte de sofrimento porque não se consegue livrar da dôr que a traição provoca. Não se consegue libertar porque o cuspo do outro é, contra sua vontade, o mel da sua existência.
Este corno é um corno solitário. Ama o outro como a uma droga. Só é corno quem se enquadra numa relação.

Porque é que no amor, o encornado é culpado da sua culpa, enquanto o enganado pela mentira assume o papel de vítima? vítima da perfídia alheia...

Para o corno comum, é a sua personalidade que é rejeitada, pois a seus olhos não é suficiente deslumbrante para cativar...e aí assume os primeiros acordes metafísicos, a saber, quando a traição passa a fazer parte de uma maldição cósmica à sua pessoa.
Mas ainda não chega. Detesta essa condição do fundo da sua bílis.
O corno metafísico puro, ama e odeia o que vai dar ao mesmo, a sua condição, que o diferencia do comum. E é aqui que se começa a transformar em corno comum.
É esta a dialéctica da encornação.

O corno comum agarra-se a uma ilusão, à convenção.
O verdadeiro corno infeliz agarra-se à própria existência que o oprime.
Agarra-se à âncora que o leva ao fundo.
O corno comum espera que a âncora o mantenha à tona, próximo e em uníssono com todos os outros.
Ambos têm em comum a traição.
Só é corno quem sabe e prefere manter-se como tal, diz a tradição.
O corno comum é o acomodado.
O corno infeliz é o corno profundo, alienado na sua condição inconsolável.

Um é vítima da sua vontade e ilusão, outro de um pathos terrível.
Ambos mergulham no lago do absurdo.
Um é verdadeiro amante de si próprio e do seu sonho.
Outro é o verdadeiro corno porque é a natureza ou a entidade de alhures que lhe prometem felicidade a sorver em pequenas gotas de arsénico.
Um é enganado pelas quimeras do seu cérebro, os desejos da sua carne, pelas imposições dos seus semelhantes. É o corno físico.
O outro é atraiçoado pela própria existência em que brotou.
É trazido à luz para ser cilindrado pela luz a que é trazido.
É o corno metafísico.
O verdadeiro corno não trata ninguém por corno. Só ele sabe o peso que lhe atarraca as costas.

Os cornos metafísicos reconhecem o peso da existência nas costas dos seus semelhantes.
Os cornos físicos gozam uns com os outros através das estradas da inaptidão e do desempenho.

O corno metafísico enrola-se sobre si mesmo como um feto a horas de nascer, enrola-se sobre a sua dor, sonhando que ela desapareça, cônscio apenas do seu sofrimento.
Espera que a dor intensa passe e não se propague a ninguém.

O outro corno, o comum, acha que a dor é parte da vida, e não a parte mais importante. Escarna dos outros iguais a ele, por só ele conhecer o vazio desse gozo.

Um vinga-se da existência que o faz sofrer, outro celebra-a.
Um subsiste e segue em frente, o outro só pode continuar a entoar os belos cânticos forçados pela dor a sair de sua boca exigidos por nós, filhos da dor que o arde.
0 Comments

    Viúvas:

    Arquivos:

    Outubro 2024
    Junho 2024
    Maio 2024
    Abril 2024
    Março 2024
    Fevereiro 2024
    Janeiro 2024
    Dezembro 2023
    Novembro 2023
    Outubro 2023
    Setembro 2023
    Agosto 2023
    Julho 2023
    Junho 2023
    Maio 2023
    Abril 2023
    Março 2023
    Fevereiro 2023
    Janeiro 2023
    Dezembro 2022
    Outubro 2022
    Setembro 2022
    Agosto 2022
    Julho 2022
    Junho 2022
    Maio 2022
    Abril 2022
    Março 2022
    Fevereiro 2022
    Janeiro 2022
    Dezembro 2021
    Novembro 2021
    Outubro 2021
    Agosto 2021
    Julho 2021
    Junho 2021
    Maio 2021
    Abril 2021
    Março 2021
    Fevereiro 2021
    Janeiro 2021
    Dezembro 2020
    Novembro 2020
    Outubro 2020
    Setembro 2020
    Maio 2020
    Abril 2020
    Fevereiro 2020
    Janeiro 2020
    Dezembro 2019
    Novembro 2019
    Outubro 2019
    Setembro 2019
    Agosto 2019
    Julho 2019
    Junho 2019
    Maio 2019
    Abril 2019
    Dezembro 2018
    Novembro 2018
    Setembro 2018
    Abril 2018
    Janeiro 2018
    Junho 2017
    Setembro 2016
    Maio 2016
    Outubro 2015
    Agosto 2015
    Junho 2015
    Fevereiro 2015
    Janeiro 2015
    Novembro 2014
    Outubro 2014
    Setembro 2014
    Dezembro 2013
    Novembro 2013
    Outubro 2013
    Maio 2013
    Fevereiro 2013
    Janeiro 2013
    Dezembro 2012
    Agosto 2011
    Março 2011
    Junho 2010
    Julho 2009
    Fevereiro 2009
    Janeiro 2009
    Agosto 2008
    Julho 2008
    Junho 2008
    Maio 2008
    Fevereiro 2007
    Janeiro 2007
    Dezembro 2006
    Novembro 2006

    Tori Amos - Professional Widow (Remix) (Official Music Video) from the album 'Boys For Pele' (1996) - todos os direitos reservados: 
    Atlantic (US)
    East West (Europe)

    Metropolis - Giorgio Moroder &  Freddie Mercury -  Columbia - 1985
Powered by Create your own unique website with customizable templates.
  • Casa
  • Miguel Esteves Cardoso / Pedro Paixão
  • Susana Pascoal
  • Ad se ipsum
  • Casas
  • Galeria
  • Recursos