A ampulheta, a ampulheta, a areia que escorre entre os dedos ao som de uma corneta
Corneta anunciante do fim, que se afasta do nascimento à velocidade de um alucinante cometa. Escrevinhas, como na canção, os planos da tua vida em sonhos balbuciados na areia. Matas o tempo em pequenos suicídios alheios à sombra que congeminas na tua teia. Quando no tempo pensas é porque já passou demasiado e os teus planos falharam, Saíram ao lado, ou tornaram-se no que não estavas à espera, até os fracassos fracassaram E corres, corres corres à volta do teu antiquado crescente umbigo, viver é um treino para a morte O tempo não pára e a ele que julgavas matar vê impávido a tua lenta agonia abandonado à tua sorte. Nascer, morrer, não causam estranheza, cada um por si só, mas aquilo que se faz no meio É a almofada do angustiante desespero, tens o teu tempo aqui, aproveita-o e o que fazes com ele? Passam os anos, passam as passagens de ano, tudo passa e o rio o mesmo já não é E urge dar à tua vida um sentido, que na adolescência é cósmico, pujante sem freio e vai amainando amainando como folha condenada ao Outono, sentes o tempo passar na pele Acabamos por ceder, ceder ceder e já só queremos sopas e descanso e uma história que mantenha de pé a necessidade de dar finalidade à vida, não já uma epopeia, mas um conto menor, corremos atrás dele Mas é só à volta de um tiro de pistola que não ouvimos partir e acabará por detonar no coração. JCNF Tempo (tac) Não são os sonhos que perdem pujança, como o sangue pueril que se esbate nas paredes das veias com o passar do tempo. A entrega, a nossa entrega a eles é que não pode deixar de esmorecer, seja pela força da desilusão seja pela brutalidade da descrença. Sabemos que o outrora apetecido agitar das águas só trará a suspensão do lodo, e mais vale um lago tépido e visível a curta distância, que um remoinho de incertezas. É cada vez mais a segurança, a protecção contra surpresas, que se instala e aninha. O cálculo ganha terreno, antes um parvo (a) que nos carregue, que um esperto (a) que nos derrube. Já não acreditamos...tão só... Porque achais que é aos jovens que recorrem as agências de marketing e similares, procurando qualidades como dinamismo, espírito de grupo, entrega?! Pois eles ainda não amargaram e ainda acreditam... Já não acreditamos. Desdenhamos. A sombra do passado menoriza qualquer tentativa do presente. Não pode deixar de nos perseguir a ruína de amores passados, e a omnipresente suspeita de que se as do passado ruíram, tudo depois deles (ou da nossa crença neles) pode também ruir. Não são capas ou falsa moeda. É só a capacidade de entrega, ou não, de um coração. Aos 30, 40, 50...não se vive o que se vive, como se vive, aos 18. Porque aos 18, ainda muitas janelas no futuro se encontram abertas. O futuro não é ainda um horizonte que enegrece sob o pêndulo da urgência. Aos 18, o céu apresenta-se risonho, promissor e esperançoso. Aos 30 morde-nos os calcanhares. Aos 50 aponta-nos a sala onde devemos fazer contas. Assim também o nosso ressentimento não é para o que insuflámos. Mas para a nossa própria gula, a nossa própria credulidade. Envelhecer é o contentamento com o lugar comum que outrora não considerávamos, de nós, digno. A explosão do balão, é não conseguirmos aguentar as altas expectativas que criámos de nós, dos outros, do Amor... O fim é inevitável mas não é o que está fora que o dita. Somos nós que mudamos. As horas os minutos são já só as testemunhas da angústia de os saber um passo mais próximo do fim, da impotência de já haver passado o tempo próprio...e o que restará de nós? A inevitável solidão se não levar para a morte a eterna companheira que é a memória da tua cara. é que não pode deixar de esmorecer, seja pela força da desilusão seja pela brutalidade da descrença. Sabemos que o outrora apetecido agitar das águas só trará a suspensão do lodo, e mais vale um lago tépido e visível a curta distância, que um remoinho de incertezas. É cada vez mais a segurança, a protecção contra surpresas, que se instala e aninha. O cálculo ganha terreno, antes um parvo (a) que nos carregue, que um esperto (a) que nos derrube. Já não acreditamos...tão só... Porque achais que é aos jovens que recorrem as agências de marketing e similares, procurando qualidades como dinamismo, espírito de grupo, entrega?! Pois eles ainda não amargaram e ainda acreditam... Já não acreditamos. Desdenhamos. A sombra do passado menoriza qualquer tentativa do presente. Não pode deixar de nos perseguir a ruína de amores passados, e a omnipresente suspeita de que se as do passado ruíram, tudo depois deles (ou da nossa crença neles) pode também ruir. Não são capas ou falsa moeda. É só a capacidade de entrega, ou não, de um coração. Aos 30, 40, 50...não se vive o que se vive, como se vive, aos 18. Porque aos 18, ainda muitas janelas no futuro se encontram abertas. O futuro não é ainda um horizonte que enegrece sob o pêndulo da urgência. Aos 18, o céu apresenta-se risonho, promissor e esperançoso. Aos 30 morde-nos os calcanhares. Aos 50 aponta-nos a sala onde devemos fazer contas. Assim também o nosso ressentimento não é para o que insuflámos. Mas para a nossa própria gula, a nossa própria credulidade. Envelhecer é o contentamento com o lugar comum que outrora não considerávamos, de nós, digno. A explosão do balão, é não conseguirmos aguentar as altas expectativas que criámos de nós, dos outros, do Amor... O fim é inevitável mas não é o que está fora que o dita. Somos nós que mudamos. As horas os minutos são já só as testemunhas da angústia de os saber um passo mais próximo do fim, da impotência de já haver passado o tempo próprio...e o que restará de nós? A inevitável solidão se não levar para a morte a eterna companheira que é a memória da tua cara.
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O corno é marreco.
O corno é curvo. O que verga o corno? O medo? O baixo amor de si mesmo? O amor em lume brando de outrem? A ingenuidade? O poder de negação? A sua própria Natureza? Um amor ao cálculo? O amor pelo absoluto com forças relativas? É perito na ontologia da queda e da perda. O corno assume dois tons. O corno absoluto ou metafísico, e o corno circunstancial ou físico. Há um terceiro tipo, mas não quero que o caro leitor (a) se sinta ofendido. Genericamente, o corno está disposto a abdicar de si, dos seus propósitos, em nome de um grande propósito. A ofensa passa para segundo plano em face do que as últimas consequências podem trazer para o quadro mais geral, que é o que ele espera da vida. As últimas consequências são o fundamentalismo sobre a ofensa. Este fundamentalismo causa normalmente para o corno não corno, uma ruptura na relação, ruptura que o abana por completo nos fundamentos da existência. É esse terramoto que aflige o corno comum. Só o verdadeiro corno infeliz, o metafísico, faz por sobreviver além da catástrofe, porque ama o espinho que o atormenta. Para o corno infeliz, o ente amado é fonte de sofrimento porque não se consegue livrar da dôr que a traição provoca. Não se consegue libertar porque o cuspo do outro é, contra sua vontade, o mel da sua existência. Este corno é um corno solitário. Ama o outro como a uma droga. Só é corno quem se enquadra numa relação. Porque é que no amor, o encornado é culpado da sua culpa, enquanto o enganado pela mentira assume o papel de vítima? vítima da perfídia alheia... Para o corno comum, é a sua personalidade que é rejeitada, pois a seus olhos não é suficiente deslumbrante para cativar...e aí assume os primeiros acordes metafísicos, a saber, quando a traição passa a fazer parte de uma maldição cósmica à sua pessoa. Mas ainda não chega. Detesta essa condição do fundo da sua bílis. O corno metafísico puro, ama e odeia o que vai dar ao mesmo, a sua condição, que o diferencia do comum. E é aqui que se começa a transformar em corno comum. É esta a dialéctica da encornação. O corno comum agarra-se a uma ilusão, à convenção. O verdadeiro corno infeliz agarra-se à própria existência que o oprime. Agarra-se à âncora que o leva ao fundo. O corno comum espera que a âncora o mantenha à tona, próximo e em uníssono com todos os outros. Ambos têm em comum a traição. Só é corno quem sabe e prefere manter-se como tal, diz a tradição. O corno comum é o acomodado. O corno infeliz é o corno profundo, alienado na sua condição inconsolável. Um é vítima da sua vontade e ilusão, outro de um pathos terrível. Ambos mergulham no lago do absurdo. Um é verdadeiro amante de si próprio e do seu sonho. Outro é o verdadeiro corno porque é a natureza ou a entidade de alhures que lhe prometem felicidade a sorver em pequenas gotas de arsénico. Um é enganado pelas quimeras do seu cérebro, os desejos da sua carne, pelas imposições dos seus semelhantes. É o corno físico. O outro é atraiçoado pela própria existência em que brotou. É trazido à luz para ser cilindrado pela luz a que é trazido. É o corno metafísico. O verdadeiro corno não trata ninguém por corno. Só ele sabe o peso que lhe atarraca as costas. Os cornos metafísicos reconhecem o peso da existência nas costas dos seus semelhantes. Os cornos físicos gozam uns com os outros através das estradas da inaptidão e do desempenho. O corno metafísico enrola-se sobre si mesmo como um feto a horas de nascer, enrola-se sobre a sua dor, sonhando que ela desapareça, cônscio apenas do seu sofrimento. Espera que a dor intensa passe e não se propague a ninguém. O outro corno, o comum, acha que a dor é parte da vida, e não a parte mais importante. Escarna dos outros iguais a ele, por só ele conhecer o vazio desse gozo. Um vinga-se da existência que o faz sofrer, outro celebra-a. Um subsiste e segue em frente, o outro só pode continuar a entoar os belos cânticos forçados pela dor a sair de sua boca exigidos por nós, filhos da dor que o arde. |
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