Era um prémio para mim, aparecer pendurado por uma ponta do seu braço. Vestia-se com denodo bajulado pela moda vigente, sabia pegar nos talheres da forma correcta. Não revelava muito de si, o que passa por uma certa circunspecção de carácter, tudo concorria para transparecer que era uma gaja de nível. Sim que as há, sem nível. Comem com a boca aberta, e vemos a comida rebolar entre os dentes como massa de cimento nas entranhas de uma betoneira. Falam alto quando bebem um copo a mais. Ficam desfraldadas quando dançam genuinamente pelo amor do movimento. Parece que são coisas diferentes, ou só unidas tipo Frankenstein. Esta merda das éticas, tem muito que se lhe diga. Paguei-lhe 15 imperiais ali no Vasco da Gama e fodemos no meu Vitara, meio ébrios e com uns mirones que pairam ali à noite e que sabem que a malta vai para ali pinar, e ver o Céu estrelado reluzir no Estuário. As saudades que tenho de Lisboa. Saí cá para fora quando vi fugir um, que espreitara para dentro do carro e dos vidros com a condensação do nosso arfar sôfrego. Agarrei-o, ainda com o gervásio extasiado pelo luar cheio, e exclamei «-Ó filho da puta, mas não tens mais nada que fazer, que espreitar os outros a foder?» Assim que perguntei, exasperado pela interrupção nervosa do acto, mais por ela que por mim, envergonhei-me. Claro que quem assim se interessa pelo sexo alheio, não tem próprio. Larguei-o, encurvado pelos meus punhos em prece. Arrependi-me. E ao voltar ao carro, assegurei-as que não voltaríamos a ser incomodados e que se as coisas ficassem por ali, não havia problema nenhum. Ela não fez caso e meteu-se por cima de mim, beijando-me e suspirando guturalmente ao meu ouvido. Ó amiga. Usei dela até me fartar e ela pedindo por mais. Calcorreámos a Ribeira, e a nossa boca unida selou a memória que soubemos logo na altura ser algo que perduraria até esticarmos o pernil. As saudades que tenho do Porto. Uma disse-me adeus, sentada no colo de outro. Outra foi à sua vida sem plano B que merecesse reprovação. Prefiro sempre a vadia à senhora. E não é que raramente me engano?
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Com doze horas de viagem de mota, de Norte para Sul, cheira cada vez mais ao meu país. Vou comer um hambúrguer numa estação de serviço próxima, que tem espaço para isso mesmo. Vejo uma estrangeira qualquer passeando o cão, e o filho ou filha, num amplo relvado protegido da auto-estrada. Por momentos deixo de conseguir engolir as batatas afogadas em mostarda, e soluço como velha sentimental, ranhosa de choro. Quase que me esbofeteio e pergunto-me a razão daquela paneleirice. Ah, saudades dos meus bichos. E culpa de não ter sido melhor para eles. Ao olhar o cão da gaja, lembrei-me dos meus, e da sombria ideia de que se me dessem a escolher entre passar uma hora com a minha bicharada que vi morrer, ou várias noites com as putas que me fizeram sofrer, e a quem magoei, raios, levaria biscoitos e bolas para mandar. Mil vezes prefiro os bichos de olhos totalmente ingénuos, que a bicheza humana, presa na mesma forma de condicionamento, mas especialmente convencida de que a justeza do mundo emana do seu umbigo. Os bichos não, os bichos são humildes e sem reservas emocionais ou de pensamento. O bicho é. A gaja, vai sendo. As lágrimas acabam por secar, mas o ranho que escorre do nariz, acaba de emprestar sabor aos pedaços de vacas mortas, apertada entre duas fatias de pão de sésamo. Que exista Deus do outro lado e que o Diabo me enfie um tridente pelo cu adentro, por causa dos crimes que cometi. Mas se entendo os outros, nas falhas tidas, porque hei-de eu fazer finca pé a castigar-me a mim mesmo, num altar demoníaco? Já não bastam as gajas, abençoadas pela minha líbido superlativa, que ainda tenho de me foder a mim mesmo, no tribunal do meu juízo? Caralho, toma de uma vez que seja, o teu lado. Ainda nem tinha chegado a Lisboa, depois de parar para a bifanada em Vendas Novas, e já ela me estava a ligar para ir ter com ela. Sabe como quer ser tratada, a expectativa baseada em critérios que avaliam a postura e o comportamento do outro ser, portador de pila, que paira em torno dela. Sabe exactamente qual a volúpia que quer sentir nele,o potencial, ser atencioso, tratá-la como uma rainha, no fundo, fazê-la sentir bem por ser quem é. E todos gostamos disso, não é. A diferença é que nos tipos, não há colaboração nos assuntos de saias. Apenas competição. Excepto os raros amigos com carácter, que já queimados, avisam do calor, e nunca se dignam a meter a mãozinha na perna da nossa namorada ou mulher, por mais que ela os seduza para isso. Com boquinhas, sorrisos, micro cumplicidades, que o cérebro directo da macacada masculina, não sabe computar bem. Já nas macaquitas, apesar da competição, todas trabalham em grupo, se necessário for. Nem que tenham de incinerar centenas de corpos Elas sabem trabalhar em grupo dentro da tribo, eles dominam a cooperação, em terreno inóspito. Não me apetece minimamente ir ter com quer que seja. Mas lembro-me que se calhar tenho de praticar o coito, sob pena de me esquecer de mim. Foda-se. Vou em direcção à Amadora, apesar de estar sem vir a casa há 3 meses. A tipa teve a sorte geométrica do seu lado. É boa e bonita. Sabe que o seu valor, expresso na deferência que recebe dos outros, emana do seu corpo, da rugosidade da sua pele, da geometria dos montes de carbono que ficam bem nas fotos de redes sociais. Sabe que é o invólucro, com o qual se confunde aos 20, e com o qual se distancia aos 40. Fica presa naquela idade onde o mundo é ou parece ser, feito em torno de si mesma, com convites para aqui e ali, com homens que lhe escrevem cartas de amor, e fazem juras de bajulação eterna. Como qualquer um, gajo ou gaja, é arrogante ingénuo, por prenhe de juventude, a tirana beleza jovial tolda a interpretação de tudo o que está à volta. A fantasia é agradável, narcótica até. Com a idade não se adapta, porque teria de desfazer todas as ilusões com que, como trolha manejando tijoleira, construiu a sua ideia de si mesma. O corpo, a beleza, e acima de tudo, o efeito destas bênçãos expresso na atenção que recebe da rapaziada, ao definhar, definha também o sentimento de valor próprio, porque sempre se confundiu com aquilo que o seu corpo despertava.
Em vez de encarar a dura ilusão, logro, onde caiu, como tantas tantas, outras…culpa a natureza dos homens, esses desgraçados também condicionados a seguirem a beleza, a fertilidade, a aparência momentânea, sem muito que possam fazer em contrário. Um ou outro, culpa as gajas, que são todas umas putas. Quando na realidade, é a natureza do jogo. Sempre foi. Sempre será. Quanto mais arrogante o indivíduo, com mais força cai. E a mulher bonita, é arrogante. Em surdina elas sabem. Por isso fazem dietas e metem maquilhagem. Sabem que o seu único poder é o corpo, e amaldiçoam a sorte de não serem amadas fora dele. Mesmo quando o gajo diz que lhes adora a forma de ser, sabem no íntimo que se fossem feias, marrecas, o gajo não lhes ligaria nenhuma. Detesto como alinham, de forma acéfala, na moda umas das outras… Sabe como quer ser tratada, a expectativa A ideia veio-me à mente, ao observar as sessões de pancada que um filhote de periquito, levava dentro da gaiola, do pai e da mãe. Pelo que eu percebi, queria voltar para o ninho, para o pé do irmão, a quem fazia uma festa doida quando este último saía do ninho e vinha cá para fora. Fazia-lhe afagos com o bico, acertando-lhe as penas nas costas, antes deste voltar para o ninho de onde a mãe não saía. Quando tentava entrar, a mãe desancava-lo, e nem um vómito nutritivo lograva receber. Começou a suster-se numa só perna e a eriçar as penas como forma de conservar calor e isolar-se do mundo. Um bicho inocente, de 40 gramas, começou a mirrar, com o peito em faca, e em breve prevejo que morra. Menos de 30 dias nesta terra e vê as cores e os sons e as bicadas suficiente para a sua despedida. Se reencarnar em lado algum, como cartão de visita daqui, levará algo de incompreensível para a malta que acredita em Deus. Ah mas Deus dá-te um prémio de compensação maior que aquilo que perdes aqui. Para o caralho, como se esta merda fosse uma mercearia de merda, com contas de deve e haver. Há que saber lidar, dizem as bestas. De si e dos outros. Ah mas que queres, que todos se reúnam e passem os dias a chorar? Não, só queria que os inocentes não pagassem. Aqueles que nenhum mal fizeram para ter algum castigo…ah mas não somos todos inocentes? Mesmo as bestas que decapitam outros em Ciudad Juárez? Sim, ok, de certa forma, para quem tem cabeça de martelo, tudo é um prego. Ou o peixe não sabe voar. Mas esta merda da individuação, dos milhões e milhões de indivíduos sacrificados tão cedo, cortados pela raíz da sua existência, como personagens de FPS que mais não servem para repasto do boss final…enjoa-me. O Sol poente por detrás de uma montanha virada para o mar, faz-me acreditar em Deus, e um ouriço-cacheiro esborrachado nocturnamente por um par de Firestones em jante 17, fazem-me olhar para o mesmo Deus, como se Este não tivesse compaixão, coração, empatia. Apetece-me perguntar-Lhe, se não chega os milénios de morte e violência, que já teve a ver sentado na sua poltrona omnipresente. Bem, mas de certa forma, o que é o aqui e agora senão um conjunto de estímulos eléctricos interpretados. Se um gajo reencarna consecutivamente, é tudo experiências. Boas, más…amorais. Nesta vida vais ao cú, na próxima levas no cú. Nada de especial. Talvez me choque porque quero que vivam, e sejam felizes. E o mundo não me faz a vontade. E se calhar não é o caminho de cada um, estar vivo e levar a termo a mais bela expressão em língua portuguesa..’Entregar a alma ao Criador.’ Do género, chegar à porta da Quinta do Céu e olhar para trás de São Pedro, e gritar para Deus lá ao longe, ‘-Tá aqui, fiz o melhor que pude e não a estraguei muito. Decididamente, não tenho jeito nenhum para esta merda de estar vivo.’ Mais que existir, levar a termo, aquilo que somos. Individuarmo-nos. A aflição abranda e penso em mamas e rabos. E nas gajas dos tinderes. Na forma como quase não se distinguem umas das outras, em aspecto, em pensamento, as que conheço, em crenças e aspirações. Em tomar o mundo como algo a ser explorado para seu benefício, e convencer tudo à volta que é uma sorte, ser-se por elas explorado. E não é só as dos tinderes, são quase todas, imagino. Querem ser cortejadas. Cortejar é colocar-se numa situação de plano diferenciado e instrumentalização, coloco-me abaixo da deusa, e desempenho um papel qualquer de forma a agradar, isto é, a manipular a percepção de outro. O tipo tornou-se uma outra versão de si mesmo, sempre atrás de uma forma de apresentar-se como algo de excêntrico, on the edge, de vanguarda, para ser percebido como prémio, como algo valorizável e que se diferencia da multidão. Uns óculos escuros palonços, uma mosca de barba, uma tatuagem em braço de menino da mamã. Coisas visíveis e palpáveis, para condicionar a percepção dos outros. Elas umas tatuagens com letras chinesas que dizem ‘menu’, ou umas patinhas de gato pelo úmero acima, Sabe como quer ser tratada, e eu detesto como se tornam todas na mesma mulher, matando com mil cortes de papel, esquartejando, a sombra do seu verdadeiro eu. Há segurança em ser a gaja da moda, a que está apreciada no momento. O arquétipo. E os gajos também, paradas nupciais em que mostramos uns aos outros que estamos adptados ao ‘espírito’ do nosso tempo, aderindo às modas, músicas, vestuário e aspecto físico que o comprovam. Com os joelhos dela encaixados nas minhas axilas, enquanto lhe arrebanhava a carne caduca em torno da anca, para que não caísse do umbral da lareira vitoriana em apartamento de classe média na Amadora, ia escutando a sua sofreguidão atrás do coelho alucinogénio do orgasmo. Por detrás dela, sobre a citada lareira, um espelho serigrafado, ou que raio se chama àquilo, com o porto de Lisboa no século XVII. Por entre as legendas ilegíveis na base da imagem a negro definida, ia vendo as minhas expressões, alteradas pelo movimento do meu próprio cabril, À espera que ela se satisfaça e eu assim garanta mais um encontro, se lhe agradar na cama, por certo não me larga tão cedo, e passa a outro. Nem é pela foda, que sem sentimento, sabe a hambúrguer de palha. É porque aprecio estar com ela, enquanto não revela ser quem é. Já vi, o que se esconde por detrás do isco, por detrás da peça que desempenha porque não está segura se fico ou vou, assim que comece a mostrar realmente como é. Já sei que quando a beijar uma vez a mais, ou a ligar 2 vezes consecutivas, fica achar que me tem presa pelo anzol, e que pode começar a mostrar a sua verdadeira personalidade, primeiro a conta gotas para não espantar a freguesia. De forma que me habitue. Sem por o pézinho na água, isto é, sem se permitir investir o quer que seja de emocional, dizendo às amigas, que sou um engate do tinder, conhecido de uma amiga, o que seja, e nada mais. Gabando os meus feitos sexuais, para provocar inveja nas outras e assim elevar-se delas. Ou o contrário, dizer que não a satisfaço, de forma marialva ou com alguma verve, de forma a fazê-las rir, e comiserarem juntas no sentimento de poder por obrigação, que é fazer dos homens, aqueles tolos básicos e adoráveis, como o Mister Big de ‘O sexo e a cidade’. Finalmente contrai-se como limão espremido por mão invisível, e crava-me as unhas na carne por alturas do clímax. Aguento, irritado, certo de que se não a retira rapidamente, leva uma lambada nos braços. Vá lá, tira e pede desculpa. Tem consciência, e se tem consciência é porque sabe que faz. Porque o faz então? Para me testar, porque eu também a testo e por isso fico a saber como é. Quando lhe disse que ia ter com amigos e não podia ficar com ela depois da meia-noite. Fez um escarcéu. Vendo-me calado, e observador, voltou à ideia de que eu era um eu ainda livre, não comprometido em ficar. Tentou convencer-me que era a desilusão dela, por não poder ficar a noite. Mas não, era por ver que eu tinha vida além dela e não iria ser o pião que a sua corda desenrola para se estatelar no chão. Estão dispostas a desembolsar um x de esforço, que é calculado com exactidão atómica, face ao valor que percebem do gajo. Encosto a testa ao dito espelho, e ambos tentamos recuperar o fôlego, e eu que a pila murche para me poder deitar na cama. Gosto de murchar dentro delas, sentindo-me como flor que adormece ao Ocaso, para não voltar a existir após a polinização. Um olho meu olha para mim, e pareco ver lá dentro algo familiar que não reconheço. Aquela preocupação em tentar perceber de onde vem o azedume. É dos amores falhados? É dos dóidóis que as meninas fazem? O quê? De onde? Eu sei perfeitamente que são como são. Que cada um escolhe para si o que considera ser melhor para a sua vida. Então é porquê? Porque se vão embora deixando-me com a desilusão de ver que afinal, tenho de viver com a imagem real da minha falibilidade? Com a decisão constante e adiada, de ter de decidir quem sou, o que faço e quero da vida? Quando seria tão fácil enganar-me a mim mesmo, convencendo-me que gosto delas, e que o que faço para nada fazer, é por ‘amor’? É porque sei, ou temo, que no final do arco-íris, sei que me vai tratar como o ‘homem médio’? E que por isso vou reviver não só uma crença que tenho de mim, como todos os traumas até hoje, decorrentes dessa crença? Fico chateado então, por me estilhaçarem a ilusão? O homem médio, aquele despojado do encanto de ser excitante para outro, e da beleza irrecusável, é um dos piores defensores destas relações desiguais. Pois aquele que tem os favores da fêmea, interpreta esses favores como uma afirmação do seu valor próprio. A mulher é o premio conquistado, que garante e exibe à tribo alargada, o valor intrínseco. Ele sente-se validado, sente também ter descodificado a cifra do feminino. A cedência de intimidade da fêmea, valida-o como masculino pleno. Duplamente. De si para os outros, quando desfila com a dona pelo braço, de si para si, quando se convence de que o valor da aceitação da ‘sua’ fêmea, tem algo a ver com o sujeito que é. Por isso a malta com namorada ou mulher, tem aquela arrogância latente, ou em caso de se levantar a lebre, aquela militância agressiva para com o portador das más novas. Resta ao homem despojado, compensar noutro campo, para ter a validação e afecto de alguém. Tem de trazer qualquer coisa para a mesa. É um dos grandes logros neste século XXI. O bombear romantismo marreco por via de cultura pop, como canções, indústrias de catering para casamentos e baptizados, ou até noveletas de cordel, que fazem da invenção dos cavaleiros medievais, o amor cortês, a Terra Santa da futilidade. De outro lado da barricada opressiva, o feminismo insufla o paradigma a respirar, o homem tem a responsabilidade de desempenho, em tudo mas essencialmente no agradar à dona, pois só agradada, cede ela os seus favores. Ao mesmo tempo que se reforça em surdina a ideia de um esmagamento histórico, do ser-se mulher, oprimida ou fantástica, consoante a luz que melhor cai. Dizem até, que se olhe para a natureza que anteriormente se negou (que somos todos iguais, sem tirar nem pôr) e se vejam os passarinhos a fazer a corte, ou seja, é natural que o bicho homem se arraste de joelho por 4 pregas de pele. Os filósofos escreveram milhares de livros sobre as mil e uma maneiras de rebentar com as cadeias da sujeição. Poucos versaram esta prisão de veludo rosáceo, em torno diga-se, da naturalidade de a mulher ser o selector sexual do binómio humano. Elevada a déspota a partir do momento em que controla a sua biologia a seu desejo (pílula contraceptiva) e a partir do momento, em que o Estado, cada vez mais efeminado, mete a pata nas relações individuais, forçando quer a reparações pós matrimoniais, quer a pagamentos forçados de uma prole que é tanto dela como dele…o indivíduo. Claro que há muito cabrão que se põe ao fresco abandonando os filhos, mas há muito mais matronas, que usam os tipos como seringas de esperma, para lhes fazer os filhos e ajudar a criá-los, engodados com uma vida familiar longeva, que nunca se chega a concretizar. Há pois, uma situação de desigualdade e menos simbiose entre ambos, e isto é a sociedade ginocêntrica. Lembro-me de uma graçola que costumo fazer, e da forma mais niilista que consigo, agarro no marsápio vermelho de abrasão, e cubro-o com o cortinado grosso verde e branco imitando folhas de palmeira em cornucópia. Olho para ela, esperando pela sua reacção. Ela pergunta: «-Mas que estás a fazer? Tens ali uma toalha.» Ri-se, completamente desarmada, fica séria, sem saber o que pensar. Vejo nas suas feições que altera radicalmente a sua ideia de mim, e que me começa a ver como parolo ou maluco. Já sei que se peço desculpa, me desclassificará, e deixará de ligar às tantas da noite, para a ir comer no Miradouro de Santa Justa, no meio dos miúdos da escola e da faculdade que por ali namoram pelo prazo de uma hora, antes de se irem comer para as residências universitárias. Lembro-me do meu olhar ao espelho. Posso sair por cima, provocando-a a uma reacção onde saio eu, como vencedor moral. Decido que não, isto não me faz feliz, andar a comer gajas, só para não estar quieto. Muito menos provocá-las a mostrar o pior que têm de si. Visto o hoodie, perante o seu olhar incrédulo e peço desculpa, quando fecho a porta. |
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