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23/5/2013

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Como soluço chorado no peito da noite espreito a janela do teu quarto onde desejava estar a fazer amor, a macerar o meu corpo em espasmos que me esgotassem de dentro para fora, e poder em paz poder falar de amor sem o esperma a pressionar-me as têmporas.

Limito-me a beber a chuva que recolho no meu rosto através das arestas que culminam nos meus olhos apontados para teu quarto. Deixei-te num pilarete um livro com meses de confissões para nós enrolado em plástico para proteger da chuva que teima em querer desfazer qualquer papel testemunha da minha obsessão por ti.

Horas acompanhado pelos cigarros que não fumo a partir a cabeça a tentar perceber um mundo que me interpela e me espanta pela complexidade que não se adivinha e me esmurra na cara sempre que parece que o estrangulo com uma chave ao pescoço. Horas a confessar-me para ti em assuntos que te passam ao lado como cometa profetizado no dia da morte de César  e queimas tudo como um bando de folhas murchas que varreste no jardim.

Que lição me deu a vida nesse dia, a do eterno abismo entre o meu mundo interior e o que morre fora de mim.  Não entro mais em casa que não me convida, e guardo quando consigo os labirintos da minha cave, apesar de o som que vem do mundo chilreante me usar como caixa de ressonância para ampliar o próprio ruído a que chama música.

Passeio horas a lembrar as curvas do teu rosto os teus cabelos louros e pretos, castanhos e como a minha mão caminha tacteando todas as curvas do teu crânio e a ponta dos meus dedos sentindo a tua pele oleosa, seca, quente ou com cadáveres de laca, massajando-te afagando-te, em carinhos que achas infantis.

Como rotundo fracasso, forço a minha entrada em rectangulares sucessos adiados, que derivam entre abraços masculinos com validade genética.

Caminho sozinho de mão dada na tua, pela noite junto ao rio, com vento estival sussurrando na nuca, e um arrepio que pressagia o Outono, e sinto que tal como as estações do ano, o tempo passa em ciclos de morte e renascimento, e que nunca mais vou despedaçar meus lábios contra um jovem rosto de coração destravado, morre dentro de mim como ampulheta sem gás as ilusões que faziam bombear o entusiasmo que dava vida à vida, parecendo que vou estagnar num ocaso lento sedento pelo último raio de sol.

Tanto procurei  por entender que a magia esboroa-se como fatia de pão quinzenal deserta de entusiasmo por caminhos não trilhados e tempo para os trilhar.

Onde encontrar outra viatura que acelere a fundo o pedal para chocar comigo de frente num abraço de cuspo e suspiros já não podendo adiar a distância que oprime, cessando a individuação, onde encontrar a refém que me arranque da humanidade consciente que é sentir o seu desejo puro cristalino directo e sem desculpas ou paragem nas boxes, alguém que sirva de escolho para meu casco naufragar violentamente que sorva avidamente o que a vida lhe dá sem a pretensão de controlar cada diástole e que seja como eu humana, presa de si mesma e do pulsar que nos une a todos na carne e nos afasta no espírito?

Viras-me o traseiro que se aninha sob o abraço que te dou, e logo a natureza me chama para o transe a energia teima em não morrer moribunda fingida sob a indagação se sou eu uma ficção, ou se o mundo que me rodeia está pejado de autómatos.  

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