Parte 1
Por mais disparates que se pensem e passem a escrito, nunca a tolice ou o carácter insondável do mundo darão descanso a pessoas que buscam constantemente perceber, compreender. A partir das suas experiências e dos seus olhos tentam primeiro vogar sobre a dúvida metódica e em idade adulta sobre a suspeita que tudo passa a cobrir como manto verde de erva fresca. Não deixamos de procurar o tesouro ou a Hidra que nos petrifica, seja a arrogância, a curiosidade genuína ou a mera ingenuidade que nos motivem as velas enfunadas. Acredito que nada faz sentido se não for compreendido. Tenho de compreender, mas como rabo de cão, sempre me foge a apreensão do fenómeno observado, não apenas longe das minhas capacidades apreensivas, pois como luz de vela sempre se pode dar luz a um quarto, e depois a outro e a outro deixando os anteriores na escuridão assim que a luz deles de novo foge. Não, os quartos são sempre os mesmos e são sempre outros, sempre feitos de paredes que nunca estão no mesmo sítio, que não me deixam duvidar da minha razão, mas também não lhe dão muito brilho no uso da sua luz. A procura de uma verdade inamovível com que virar o mundo, é também cepa torta na minha vinha, pois com a mesma pressão sei que o mundo joga comigo não se deixando apreender e que só através do meu pensamento esgravatando nas frestas do paredão da barragem, posso ter a ilusão de ver a albufeira que se adivinha por trás. Mas ouço sons, repetidos, que se tornam melodias. Reconheço padrões geométricos e de cor, variações de temperatura na minha derme assinaladas, cheiro aromas associados a outros estímulos, reconheço encadeamentos de pensamentos como necessários, e choro sabendo que tem de haver uma estrutura por detrás destas coincidências que se repetem. Tenho pesadelos à noite pensando que depois de tanto esforço só vou chegar à mesma superfície daqueles que passam pelo mundo numa base de imediato e tangível. Angustiado, não porque me sinta melhor que os outros mas porque o apelo de chegar ao coração das coisas é tão forte quanto o corpo de uma bela mulher que me faça latejar por uma celebração de vida. A minha vinha tem vinhas e uvas como as outras vinhas, bem espremidas dão um entranhado mosto que irá parir um vinho, como parem os outros mostos. Sei que as castas diferem, a poda e os adubos também, mas no final sai ou vinho ou vinagre. Por melhor que se enxerte, depende da água que cai, e do Sol que arde. Depende do sabor do vidro, e do palato do provador, e de tantas outras estrelas que o que interessa mesmo é a vindima, pois só se sabe o valor da colheita depois de se tirar a última rolha. Adoro mulheres. Considero-as maravilhas da Natureza, poços de força, e a maioria dos meus heróis são do sexo feminino. Mas que mulheres são essas que motivam a escrita de meia dúzia de páginas de texto, de volta da mesma enxertia de sempre, da mesma casta do mesmo cacho, de forma a perceber até ao ínfimo pormenor como surge o estranho vinho que recolhemos em colheita anterior? Há que perceber, sempre, o como e o porquê. Especialmente se a suspeita filosófica te revela que nada é o que parece, e que por detrás da aparência há uma intenção. A intenção, mais que o véu de Maia, é a paixão do revolucionário. E só o homem é revolucionário, e só o consegue ser sozinho. Não há diferença de valor civil ou antropológico entre homens e mulheres, nem sequer moral. Há homens ‘bons’ e mulheres ‘boas’. Mas como se testa o carácter de determinada cepa senão a plantando em socalco irregular e arenoso para ver com que raízes se agarra à vida e frutifica? Alfa e Omega em parada nupcial, e esmagamento nervoso. Suponho que a afirmação da raiz de cada um se faça à conta da vontade com que fazemos crescer as nossas ramas para o lado da nossa vontade e não da determinação da poda. Não é orientar os cachos para onde sopra o vento, de facto o que nos faz humanos é vivermos e morrermos por opção por ideias. Há qualquer coisa de nós de caçador, e de recolector. Um faz a sua sorte, outro aproveita-a. A filógenese ratifica as duas. Também a sociedade dos homens e das mulheres. A mulher sempre foi um poço de assomo para mim. Sempre senti nelas uma diferença diferente da minha. A sua convicção nos momentos presentes sempre teve em mim um efeito narcoticamente hipnótico. Como se nunca pensassem que podia estar alguém por detrás da cortina. Começa logo por aí e pelos discursos maternos a divinização do feminino, aos olhos de um rapaz a certeza da rapariga tão mais avançada no crescimento que ele próprio só pode ser emanada de um ser superior. A mãe também diz que as meninas são de algodão doce e caramelo, e os rapazes de cobras e pedras, e cresce o pobre homem sentindo que tem de merecer o ser superior que começa desde o berço a perceber que com sorrisos e choros pode levar o paizalhão a pegá-la ao colo ou a mostrar-lhe o maior sorriso do mundo. Com um pouco mais de tempo tem o adulto domesticado ao sabor da maior parte dos seus caprichos, pois que mais quer um pai que proteger a filha do mundo duro e ensinar ao filho quão duro o mundo é? Entra na adolescência o rapaz a toque de punheta, suando acne por todos os poros do seu corpo inadequado, violado por revistas pornográficas omnipresentes, mini saias constantes, anúncios estimulantes para delícias nocturnas e toda uma cultura que coloca a masculinidade na proeza de satisfazer sexualmente o sexo feminino, ou no mínimo na capacidade de lhe obter os favores? O próprio pai se baba se o filho já colecciona namoradas pelas casas dos amigos, mas prefere negar tal liberdade à filha que é mais pura que a água de nascente. A ninfeta descobre que um peito que desponta como um broto primaveril num pomar de romãs exerce um fascínio sobre qualquer homem, mais ainda que as farsas que representava para o pai, e assim começa a sonhar que tem um talento, herdado da mãe, que é mágico, e que é conseguir o que quer de outros seres que não possuem a beleza que ela tem. Presas quer ele quer ela de uma antropogénese incompatível com a cultura que nos molda, ele com instinto copulatório vinte vezes superior por causa da testosterona e ela por causa do estrogénio condenada a ser fraca fisicamente tem de se valer do que a Natureza a fez valer, e é essa sensação de possível submissão que faz brotar a ilusão de guerra, na qual o homem perde pois só tem acesso à vagina através da dança que a mulher ordena dançar. Afinal a vulva é dela, e se ele quer, tem de ser à maneira dela. Torna-se assim a tolice da guerra dos sexos, a não existência mais existente de todas, pois onde quer que encontremos uma mulher e um homem, ela vai ocorrer, mas eis que surge uma aurora, mais dourada que as anteriores, e que coloca uma outra perspectiva. Mercê do seu génio, o homem possibilita a vida, de forma diferente que a mulher uterina. Ele faz, inventa e protege, e sente-se bem assim. Mas a acentuada percentagem de conforto actual tornam o homem supérfluo, a mulher não precisa dele para atingir o grau de conforto já bem aceitável que ela tem. A mulher encontrou um lugar no mercado de trabalho de forma a libertar-se da dependência financeira do homem, os serviços são dela. Que pode o homem oferecer senão a gradual submissão à toda poderosa vulva? Às mulheres urbanas de hoje em dia, não chega submeter o homem, há que humilhá-lo, transcender o masculino, com a força do ressentimento de Eva e de milénios de sujeição à testosterona. Não chega a ser um ser em grau de igualdade, é um porco porque lhe deseja o corpo, como tantos outros com os quais mediu forças ao longo do processo de crescimento de maminhas e ancas voluptuosas. É um básico que só me quer pelo corpo, então quer-me usar como depósito de esperma, mas vou eu usá-lo como eu quiser, veremos quem é o mais forte. Irónico ter-se tornado o homem em troféu de caça por causa da hormona que o fez caçador e protector dos seus. A mulher sente-se no topo do mundo, os homens depilam-se para lhe agradar, usam cremes, cantam pop, as pussycat dolls elevam exponencialmente pelos media a glorificação do poder sexual que a mulher tem, único aliás a par do condicionamento das crianças. Nãda há que não se venda que não envolva uma mulher em trajes menores, e até há estudos de género que lançam suspeitas na ciência feita só porque foi feita maioritariamente por homens. Há noites de ladys nights em que os trouxas pagam e as mulheres isco não, e até nos casamentos já é suposto um homem ajoelhar-se e abdicar de parte do seu rendimento sobre a forma de um adorno, anel, para ter a honra de desposar uma vagina sobreinflaccionada. Um marciano diria com o seu olhar objectivo, que de facto, o homem é o ser mais bem domesticado do planeta. É fácil, se seguirmos uns princípios e alguma experiência (para limpar a merda que nos enfiaram na cabeça, que se designa por ‘endoutrinação’) perceber como e porquê somos manipulados. Ao fim de algum tempo começamos a reconhecer padrões e sintonias. A manipulação é uma influência exercida por comunicação de molde a levar outrem a fazer ou algo que não quer ou resiste, ou que o emissor quer que o receptor faça, de forma alheia à sua vontade. E é aqui que a porca torce o rabo. O manipulador encontra sempre um interesse para o outro na manipulação que nele opera. É o que se parece com o branqueamento da manipulação para que quem manipula não se sentir um filho da puta ou uma filha da puta. Várias razões podem basear este mecanismo de protecção, experiências passadas, uma certa mundividência, uma conveniência, a arrogância de achar que sabe mais que os outros ou mesmo mau carácter, entre outros. Experiências passadas como se me fizeram a mim vou fazer a outros ou nunca mais vou sofrer; certas mundividências nas quais o mundo é assim, toda a gente sabe, etc. ; conveniência porque eu gosto de fazer mas não que me façam a mim, etecetera etecetera, e atenção que é válido para homens e para mulheres. O que para mim sempre mais me interessou, foi a questão das experiências passadas e da mundividência. Como é que alguém chega a determinado tipo de comportamento e como é que depois o justifica. Isso fica para depois deste preâmbulo, na parte dois. Parte 2 Eu. Ambos os sexos estão sujeitos ao princípio de economia de esforço. Ambos querem comer o melhor do bolo. O homem foi domesticado por uma sociedade em que a força e a integridade morreram com a economia de serviços e foram transvestidas com o espectáculo dos desportos e das telenovelas. Viu-se o masculino despojado do seu poder negocial para com a vulva, o papel de protector, restando vender-se a si mesmo de acordo com as regras de uma encapotada sociedade matriarcal. Arde no altar da ninfa inflacionada, perdeu a parceira e ganhou a Senhora, vive agora nos escombros da sua catedral de religião extinta e sente que há algo mais fora da stationwagon e dos mocassins domingueiros, mas não sabe o que é no meio de tanta ordem e drama que são o ruído que sua dona emana e ao qual foge por abrigo em longos passeios de btt ao fim de semana, ou surf, ou vómitos em traineiras de pesca ou jogos de bola ou serões no café afogado em álcool para suportar o inferno da vida doméstica. O papel desonesto da ambivalência feminina é este, esforça-se e desunha-se para controlar, subjugar o masculino através da vagina, e ressente-se de o conseguir. Durante a adolescência perdia-me em incompreensão pelo sexo oposto, nas suas reacções, suas charadas, cheguei a acreditar que era eu o inadequado. Surpreendia-me por não se jogarem as mesmas leis e fui enganado como quase todos ao pensar que a vulva requeria técnica de toque em acordes certos. Tornámo-nos calculistas pois não percebemos que estas regras contraditórias e esta publicidade à existência da melodia do flautista de Hamelin eram afinal a trapaça que nos levava ao afogamento no rio Weser. Foi a machadada final na nossa integridade, a troco de umas pregas de carne. Alguns foram mais longe, como eu, no caminho para o fundo do poço. Não desisti nem me contentei, enquanto não percebesse. Analisei os métodos, tive de privar de perto com elas, trocar a análise delas para mim e de mim para elas, e dei por mim a jogar com o mesmo jogo e mesmas armas, e não gostei do que vi quando olhei para dentro. Vi alguém que se degradou por causa do seu impulso para o erótico, e que acabou a jogar o eficaz mas sujo jogo da sedução. É básico, implica perceber um pouco da mulher como uma entre iguais, e não é que resulta? Tirá-la do pedestal, e perceber que a pila vale mais que a vulva, afinal nascem mais mulheres que homens, morrem mais homens que mulheres e o Y faz toda a diferença. Mas eu estava viciado, queria ir mais longe e conseguir esfregar na cara das manipuladoras a plena compreensão das suas tácticas básicas, ingenuamente querendo ser responsável pelo momento de catarse em que se dariam conta da falácia do seu comportamento, e de que afinal as básicas são elas. A mulher é ser fingidor que sente que é dor a dor que deveras sente, já dizia o poeta. Como esfregar na cara qualquer coisa de que ela não se apercebe nem concebe que o pacóvio homem lhe esfrega na cara? Como mostrar a um ser hipnotizado pelo brilho, que por detrás da carne vem o esqueleto, se não temos qualquer brilho para ela? Tenho tido uma sorte imensa nas relações que tenho tido, quer nas boas quer nas menos boas, e percebi que quanto maior é a rodagem da mulher por vários homens mais esquemas e estratagemas ela elabora. O objectivo deste blogue é exactamente deixar aqui testemunho literário para que possa ser útil a alguém pensar os temas das relações e da sociedade burguesa. Uso a minha personagem ‘Susana Pascoal’ como epíteto desse universo complexo que é a teia que as mulheres tecem presas na sua biologia. Su não nasceu assim. Nem ela nem So. Fizeram-se assim, ao longo do processo de crescimento, no qual a figura do pai desempenha sempre uma forte influência. Su quando a conheci esgrimava a sua auto estima com mancebos do Quartel militar mais próximo, e com surfistas, com uns media a performance física, e com os últimos a psíquica pois toda a gente sabe que os surfistas são uns paz de almas. Vencer uns através de sessões de sexo extenuante e vencer outros através de os conseguir levar ao ponto de ruptura emocional eram os troféus que lhe permitiam mostrar a si e às amigas que era uma mulher, desejada, emancipada porque fode como fodiam os ‘homens’. Diria Freud que era a ‘inveja do pénis’ mas não, era mesmo um ressabiamento interiorizado por anterior desconsideração do pai. À sua maneira a humilhação do homem compensava o abandono do seu pai que tanta impressão lhe havia feito em criança. Quem fode industrialmente e é incapaz de sentimentos que não superficiais corre o risco de se defrontar com o princípio de individuação de alguém, ou por outras palavras alguém vai ficar chateado por ser usado nesta vendetta contra o mundo. Era esse o prémio de compensação na fantasia dela. Largar o cachopo sem lógica possível para o abandono, de forma a fazer que ele parta a cabeça a perceber o porquê. Esta é uma das clássicas, a mulher sabe que o seu comportamento ilógico é extremamente perturbador para o homem, que se deixa com ela envolver emocionalmente, ele vai tentar perceber o mecanismo, e partir a cabeça nisso. Motivado pela promessa de vulva e da dor da rejeição encontramos aqui os dois estímulos eficientíssimos para a insanidade de quem se perde a pensar no que elas pensam. Su tinha portanto uma lista imensa de traumatizados que sentiam perder uma boa cona que comia homens e que portanto ao rejeita-los, os estava a colocar numa mesma longa lista de fracassos, o que não pode ser pior para o sentido de individuação de cada um. Duvido que Su elabore conceptualmente este mecanismo de humilhação, mas usa-lo sabiamente, funciona e isso basta-lhe. So, a mulher dos cocainómanos lisboetas, funciona como modus operandi semelhante, e mesmo registo. É um pouco mais ingénua apesar de ser igualmente hábil a traçar plano de jogo. Percebemos o plano de jogo quando algo não faz muito sentido e pensamos que pode haver de lucro e para quem em determinada situação. Todas as mulheres dão o litro nas primeiras relações sexuais, é o anzol que fisga o cachopo para encontros futuros além de que a sua auto imagem depende daquilo que acham que eles acham delas. Já o tinha notado em Lu por exemplo, com a desenvoltura que me sabia a falso. É de certo modo enternecedor. A desenvoltura de Su era diferente, era descolhoadora, e se eu fosse um pouco menos experiente na altura teria ficado impressionado. Su fodia o parceiro, no ponto de lâmina em que o tenta submeter sexualmente. Grande parte dos homens só gostam de fazer sexo por prazer genuíno, e as primeiras vezes nem corre bem por causa das perspectivas de envolvimento emocional e ansiedade de performance. Su, estava condenada a sofrer as consequências da sua luta contra o mundo. Como é que alguém chega a determinado tipo de comportamento e depois o justifica? Através de tentativa erro experiência, dor e chico esperteza. O mais importante para a mulher é a sua auto imagem. Aquilo que pensa de si não está radicado em profundas cogitações acerca da vida da personalidade ou da metafísica dos vícios e da virtude. A mulher acha que é um ser mágico contraponto ao homem que é dado a essas especulações meditativas, e portanto o sol da fantasia é sempre mais paradisíaco que o frio deserto da contrição reflexiva e portanto a mulher deixa a inteligência à superfície, ou seja, a chico esperteza. Esperteza que se manifesta através da análise daquilo que vê nos outros que a vêem a ela. Ou seja, é através do impacto que julga ver causar nos outros que aufere se o que está a fazer está a resultar ou não. Se determinado soutien cumpre o efeito de fazer o homem olhar, a ‘opinião’ dele não é suficiente pois o pobre tolo olharia para qualquer soutien amparando mamas. A opinião de outras mulheres iguais é sim valorizada pois elas participam na mesma fraternidade que toca as mesmas notas no embasbacamento dos homens, assim a mulher tende a dar mais atenção à opinião das outras e a ostentar as suas conquistas para as outras ao mesmo tempo que para os homens, mas no final, é a opinião delas que conta. O homem para Su funcionava então e deste ponto de vista, como a sua parte de teatro representado para trocar medalhas com So e com a outra que compunha este trio maravilha, e que haviam partilhado não só um quarto em residência universitária, como mundividências e tácticas de engate, numa amizade osmótica roçando pinos de competição, embora as mulheres achem que a amizade feminina é bem mais pura que a masculina. O caminho para So estava asfaltado pela impressão em Su. A heterodoxia da minha comunicação é o anzol que uso, que aliado à projecção de que nem todos os homens são broncos adoráveis faz com que as manipuladoras se atraiam como moscas por açúcar. O problema está em que não gostam nada de quem joga o mesmo jogo sujo. Faz lembrar-lhes que jogam sujo, e que ainda não somos os redentores do género masculino que elas estão à espera. Quando o encontrarem, se o quiserem ver, vão passar por cima dele como fazem e fizeram com todos os outros. Mas desengane-se aquele que pensa na alma feminina como errante à procura da virtude perdida. No intimo desconfiam e admiram o homem íntegro, mas como medem a inteligência dos outros pela capacidade para a astúcia e de enganar os semelhantes, o homem franco que tenha o azar de ficar em suspenso por uma destas mulheres é como disse, trucidado. Perdem-lhe o respeito assim que o corrompem (justificando a sua confortável mundividência de que o mundo é corrupto e os sãos são doentes porque limitados ao jogo interior de adesão à virtude) ou que o sentem vulnerável. Um homem íntegro não dá luta a não ser se for para o corromper. Por isso se mantém afastadas destes, por lhes lembrar o que não são. Precisam mesmo muito de se sentirem inteligentes e a inteligência básica é essa de conseguir dar a volta aos outros num jogo de charadas em que perde quem se deixa colar. Su não tinha pretensões de qualquer pensamento aprofundado e fundamentado sobre qualquer assunto. So tinha. Mas ambas partilham a mesma aversão a citações, confundem-nas com manientas manifestações de erudição ou submissão abjecta a palavras mortas. Nenhuma pensa que citar seja dar ao outro a possibilidade de ver por si. Nenhuma se considera superficial, embora Suzi não tivesse qualquer passatempo que não passar o tempo livre na praia a pescar surfistas. So deleita-se na companhia de quem lhe prolonga a fantasia, o seu mundo de Pollyanna, no qual a sensibilidade é exacerbada por documentários artísticos sobre os males do mundo, ou no mundo de néon onde se perde o sono e a figura por falta de descanso. Ambas utilizam o silencia como arma sempre que acham que é eficaz. Su quando apanhada em falso, So quando acha que o peixe esticou a corda. Paula usava o silêncio para sentir o conforto do imbecil que se mantinha no séquito. Qualquer mulher se sente mais segura com um séquito com o qual não tenciona foder. Só depois de um príncipe encontrado que corresponde a uma ideia feita mas não assumida é que o amor surge, por definição prévia do amável. Lembro certa vez Su vogando por casa nua de porta aberta para toda a rua ver. Espreitou-me no cimo das escadas e me escondi mas sei que ela me viu. E continuou nua descendo as escadas para a casa de banho sabendo que eu lá estava e fingindo-se surpresa quando me viu e esperando uma crise de ciúmes pelo que me ri. Su não respeitava as mulheres que por mim se revelavam interessadas na altura. Para ela eram todas tansas. Porque eram todas pessoas de boa índole e sem o grau de complexidade de manha que ela tinha e que achava como assertivo de inteligência. Para Su, se era uma pessoa simples, era estúpida. Muita gente funciona assim, como critério e avaliação dos outros. So foi a mais indigentemente ligada a este saloio modo de estar. Para So, desprovida quase por completo de vida interior pois era incapaz de estar sozinha sem documentários que a distraíssem de pensar, só o desconhecido ou o semelhante eram dignos de ter brilho. Liga-me certa vez às tantas da manhã com uma conversa sem sentido e frisando que estava bêbeda e acompanhada, a qual como depois compreendi não era para mais que fingir um interesse revelado através da desinibição alcoólica. Su também uma vez fingiu querer debater «O Nascimento da Tragédia» pensando que assim me arrancaria da apreensão constante, mas quando se apercebeu que eu era capaz de passar 30 minutos a falar sem pensar em sexo, afinal, o seu terreiro, desistiu suavemente de conversas interiores. A melhor forma que tens de perceber se a mulher que frequentas gosta de ti ou é apenas mais uma pobre alma torturada, é falares-lhe daquilo que realmente gostas, e vais ver que se ela gostar de ti, se cala e ouve até ao fim. As outras esperam que te cales para continuarem a sua conversa. Umas escutam-te, outras esperam que te cales. Não abuses da receita a não ser que a queiras entediar. Su por duas ocasiões revelou a frieza da sua análise e por muitas mais exigia a minha entrega total, precisava de se sentir vitoriosa. Uma foi quando do nada me revelou que achava que sabia porque as mulheres se apaixonavam por mim e outra foi quando eu num carro com 3 mulheres ela incluída, monopolizei a conversa mantendo toda a gente bem disposta, ela interpretou como se eu precisasse de dominar as mulheres. Como dizia o amigo Freud, ao falar de algo ou alguém revelamos muito sobre nós e que delicioso foi ver que a pobre vítima do mundo era incapaz de um ‘momento de cumplicidade’ verdadeiramente sentido. E é esta a sua força e a origem da sua falta de carácter. Não falo mal de nenhuma mulher em particular ou geral, apenas exprimo o resultado das minhas observações. Portanto, não sei bem que pretendo com este texto. Nada tenho mal resolvido senão as limalhas de entender que há uma semelhança nos métodos, e que mulheres assim nunca serão de ninguém, estão cicatrizadas para a vida.
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