Ela olhava com o maior desdém para ele. Mascarava sob muralhas de pele, o sentimento de desprezo que não podia deixar de sentir. Não queria sentir assim, mas não conseguia deixar de o fazer. Algo brotava dentro dela que a impedia sentir de forma diferente. Uma voz, uma orientação de consciência omnipresente a partir do primeiro pensamento… acerca dele, que o via como algo relativo e não absoluto. Dava por si, a ter pena dele, alheio a este seu afastamento em surdina, ignorando a avaliação negativa de mulher, à qual, os seus modos simples, o seu desconhecer o que é um sommier, e outras frivolidades com que as mulheres se convencem de ser sofisticadas, tudo isso, o impedia de ver a sua própria inadequação. O que aumentava a carga trágica, ela, tomando-o por pessoa de boa índole, mas sem ser capaz de ter tesão por ele. Só pena. O pobre gajo porreiro, ignorando o verdadeiro mundo do juízo feminino, cruel, implacável, inexorável. E quanto mais dela gostava, mais aumentava o drama interior de um dia se ver sem a aprovação do seu receptáculo de amor. Da sua validação, em forma de duas pernas abertas, húmidas e convidativas. Aquela descarga nervosa que precede a penetração, em que um gajo sente que venceu na vida porque cumpre um papel para o qual foi programado. Claro, ao início, as pessoas dançam uma valsa que visa também verificar se a coreografia é conhecida na ponta da língua. O tédio, o sentimento de familiaridade, como nevoeiros tóxicos, vão-se instalando, e uma das partes vai deixando crescer o mofo do despeito, e geralmente, o gajedo, ou embalado pela atenção de pretendentes ou pela observação dos parceiros das amigas próximas, criando a ilusão da escolha, é sempre o primeiro a deixar os idealistas românticos a profanar os falos com a mão. A escolha é fodida. Se muitos artistas encomiastas, gabam a donzela, a seus olhos o valor sobe e instala-se a mentalidade de leilão e fantasia. As perguntas ‘-Que tens feito por mim, que podes fazer por mim?’ e ‘-E se…’, instalam-se como carimbo de cada pensamento, inebriante acerca do seu próprio valor como pessoa com mamas e rabo. De todos os lados, o upgrade é mais sedutor, que o rei prestes a ser posto, a galinha da vizinha, a certeza do erro que quase se cometeu em forma de gajo recém despromovido a humanóide desprovido de sentimentos que importem. Da mesma maneira que numa app de engate, enquanto houver simetria facial, há sempre um pretendente no canto de uma esquina, à espreita. Como borboletas esvoaçam levemente pela existência, sem a preocupação de algum dia acabar o recurso que lhes constrói a estima. É assim a existência das gajas, leve, despreocupada, sem consequências que não as que se revelam já demasiado tarde. Ah mas odeias as gajas. Não odeio nada as gajas, odeio a frivolidade a que se entregam por ausência de carácter. Especialmente as que preferem viver sozinhas, a contentar-se com alguém que consideram inferior a elas. Odeio a sua estupidez travestida de esperteza, profundamente. Aprendi a odiar. É essa forma de pensar, esses critérios fantasiosos e infantis, que odeio. Engraçado ver moles de putas em manifestação pelas ruas, a favor de um mundo mais igual, quando são elas mesmas as que não conseguem deixar de ver e dividir o mundo em hierarquias. E os homens, cada vez mais conas, apenas têm de afinar a sua conduta ao som dessa divisão, se quiserem ter acesso a uma descarga sonora em forma de monossílabo. As gajas são cruéis quando não és desejado, já cantavam os Doors. E tratar as pessoas de acordo com a situação, é falta de carácter. Por isso desconfio das gajas demasiado-rápido-demasiado-intenso. Visam convencer-me, visam predar-me, visam continuar na sua fantasia marreca. Instala-se a questão, como carcinoma persistente, ‘-É ele o melhor que consigo arranjar, com as armas que ‘Deus’ e a Natureza me deram?’ Como gato que se olha ao espelho vendo um leão, a gorda e a marreca olham para si mesmas a partir do que gostariam que os outros pensassem delas mesmas, e não do que é a imagem reflectida. As apps do smartphone, têm filtros que lhes melhoram os dentes cariados, a pele com crateras de acne e purulento sebo. A sua auto-imagem passa a ser a reflexão cibernética do rosto, do corpo retocado, e avaliam como merceeiro, o seu valor a partir dessa nova maquilhagem. A projecção simpática passa a ser a realidade, sem qualquer exigência de objectividade. No mundo feminino só a forma como se sente é importante. A realidade objectiva, uma chatice. Imitam-se umas às outras, com os mesmos clichés, nos gostos, nas poses de pézinho assente na biqueira da sapatilha, dos dedos anelares e indicadores em V, da língua projectada para fora da boca, ou mordida pelo fechar de ambos os maxilares, no intuito de exprimir, uma inocência malandra e uma ingenuidade com pouca malícia, em pequenos paradoxos estéticos que resultam por causar curiosidade nos observadores, que olham para a dicotomia Madonna-Matrona, virgem-puta. Tudo o que não corresponda ao esperado ser superior ao valor percebido, de si mesmas, do seu corpo, da sua personalidade, da suposta opressão patriarcal nos tempos dos antepassados, tudo o que não seja considerado à altura dos pergaminhos da geometria facial, da gordura acumulada no peito e nas nádegas…é considerado um contentar-se com a vida que soa a condenação, a fracasso, a falhanço. Torna-se a soberba, a arrogância, em estratégia psicológica de captação de valor, análoga ao sentimento dos opressores colonialistas que achavam ser melhores que os escravos que parasitavam. O homem comum, despojado daquele encanto natural, daquela graça social, de ter um je ne sais quoi apreciado pelos outros, tem de cativar da vida algo, por outras vias. Pelo esforço, pelo cumprir das regras, pela auto-anulação. Crescente na exacta medida em que se vai apercebendo que a sua vida vale não por quem é, mas pelo seu valor utilitário. O mundo convida sempre a escolher novos inícios, novos campos de lavoura que parecem mais verdes que os nossos. Havendo pretendentes, sentimo-nos livres e valorizados, por termos escolhas. Quando o valor utilitário ainda não está potenciado, elas fazem apostas. De acordo com o valor próprio interiorizado, com o potencial de olhar para o gajo como caval, e tentar adivinhar com aquela ‘intuição feminina’,quão longe irá ele na corrida. Poucos homens comuns, têm esse luxo. E mesmo que tivessem, há sempre uma resistência a largar a certeza garantida pela hipótese promissora. É fácil dar uma foda, e até um pouco de envolvimento emocional. Mas lá voltam deles, a maior parte das vezes, a respeitar o dever de palavra dada, abafando debaixo de masmorras de pele, a sua falha moral, ao invés de justificar, por vezes, com um suposto merecimento do outro, pela traição cometida. Qualquer coisa lhes morde, na maior parte deles, um sentimento de dever, um asco a fraquejar pelos sentidos. Uma projecção de si mesmos na traída, e um asco pela traição sentido na pele. A gaja precisa de sentir-se no lugar do outro para deixar de pensar na sua pele, o gajo precisa de pensar no lugar do outro para se sentir a si mesmo. Ou uma merda do género. Existia uma guerra civil em surdina, com as armas ao dispor dos dois. Até um filho da puta qualquer, inventar a pílula contraceptiva. Aí, deixámos de precisar um dos outros. E agora, bem, somos dispensáveis. Já não fodemos. Isso é do passado. Não, agora andamos em relações co-dependentes entre gónadas. Validando fantasias uns dos outros. Reconhecendo na fantasia o território pátrio onde nos sentimos à vontade. Emprestamos tempo à ilusão de que nos envolvemos emocionalmente. Mas é só para passar o tempo. A malta não pensa em si, por si, sobre si. Sem introspecção, passamos pela superfície das coisas, dos outros, num salve-se quem puder ao sabor do relógio. Como podemos dedicar amor aos outros, se não nos conhecemos, aos nossos desejos, aos nossos caprichos, à ilusão da carne que nos sustém de pé? Toda a luta moral e o seu carácter dignificante, é asfixiada sob o véu que a cobre. O véu do tudo ser permitido. Tornamo-nos amorais, por excesso de ausência de princípios, que essa merda é chata e limita-nos. Sem Deus tudo é permitido. Sem amor, muito mais. Um amor idealizado, pois não existe outro.
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I Anda no ginásio e perdeu a barriga Estou de volta de uma preparação das aulas, e da correcção de um teste dos miúdos. Toca o telefone. A Dora. Aos anos que não ouvia desta gaja. Deixo chegar ao fim o ‘Superstition’ que serve de toque de telemóvel, concentro-me na guitarra baixo, e quando estou mesmo a gostar, o toque termina. No decorrer do dia, tenho umas 7 chamadas desta gaja. Quero que se foda. Não posso dizer que seja má pessoa, mas não é alguém que eu queira por perto. Foi mais um engate de tinder, nesta minha cruzada de libertino, de usar o falo para verter tinta para papel descrevendo a natureza humana, em especial do meu objecto de desejo, a mulher. E quanto mais lido com elas, com as ‘gajas do tinder’, mais me vou apercebendo do terrível carácter indigente desta malta. Que contrasta de forma quase insuportável no meu espírito, com o meu idealismo romântico de outrora, antes de partir as lentes ‘do amor’ e começar a ver as ‘gajas’ com olhos clínicos e desapaixonados. E vejo, essencialmente, destroços humanos na medida em que despojados de qualquer tipo de introspecção ou de adesão a princípios éticos, que a mim pelo menos, me forçam a não fazer x ou y. Sortudas do caralho. Sem uma moral com exigências lógicas, podem torcê-la ao sabor das circunstâncias. Do que lhes é conveniente. Eu, se sou um cabrão, com alguém ou em algo, dificilmente me convenço que procedi da melhor maneira. Alguma voz em mim, me vai dizendo, ó cabrão, achas que estás a proceder bem? Estás a ser correcto ou isento? Olho para as merdas com carácter mecanicista que visa relativizar o peso do meu ego e individualidade nas minhas relações com o mundo, as pessoas, e as interpretações. Já estas desgraçadas não. Só elas e o seu sentir bem, contam. Nem que tenham de elaborar justificações à medida, convencendo-se a si mesmas, sempre, de maneira a que, no fim do dia, todas as opções e resultados nunca resultem de uma responsabilidade pessoal, ou a alguma luz negativa. Esta mitomania, não é exclusiva das gajas. E eu sou particularmente sensível a esta merda, porque tive um progenitor que padecia da doença, e me fez levar por tabela, por causa disso. Toda e qualquer merda ou argolada que fizesse, era por si justificada a leste de qualquer responsabilidade própria. Foi já com cabelos brancos que ouvi perplexo pela primeira vez, ‘-Eu tive culpa de x…’ da sua boca. Mais vale tarde que nunca, e eu esperara que nunca mais ouviria desta gaja, porque são quase todas, cabras no que diz respeito aos gajos que comeram. O bem-estar dos mesmos é irrelevante ou próximo disso, quando desaparece o seu carácter utilitário, e nada de mais utilitário há, que as emoções, ‘delas’. Quando provocas emoções às dondocas, és rei, quando não o fazes, és plebeu, ou pior, inexistente. A lembrança de ti é algo a asfixiar, não vá ocorrer, o pensamento associado, do quão cabras, foram, são e serão, especialmente no que diz respeito aos tipos que nada fizeram para o merecer. Deus proíba que alguma delas ache de si mesma, ser um farrapo de gente, na forma como trata a malta que carrega uma pila no meio das pernas. É raro encontrar uma que consiga vero homem como passível de ser vítima do quer que seja. Desde os anos 60 que as convencem de que os homens fazem dóidóis e que não se deve confiar em nenhum. Esta, a Dora, ao início das conversações para a cueca, mostrava-se altiva e indignada com a minha falta de submissão, afinal eu fazia parte da classe opressora. Fez-me um ou dois ultimatos sobre que não estava habituada a ser maltratada, e o meu maltrato era apenas não corresponder à norma de bajulação que todos os outros na sua caixa de entrada de aplicação de engate, usava. Talvez por isso voltasse duas vezes atrás, pedindo desculpa de prosseguir os ultimatos, voltando mais calma e cooperante, após ameaçar, e despedir-se de mim, por whatsapp. Desejava felicidades, desejava que eu encontrasse quem procurava…apesar de eu não andar à procura de nada, e ficava 3 ou 4 dias sem falar. Depois voltava, recriminando-me por ser como sou, por ser frio e distante, por magoá-la com o meu silêncio, o diabo a sete. Tinha prometido não me chatear, ou mandá-la levar na peida, que é o que faço a gajas que gostam de jogar jogos para passar o tempo. Vou ter paciência com esta, para ver como é. Sentem-se em baixo, a mortalidade e uma vida falhada de liana em liana, acena-lhes lá ao fundo, e pensam…e por vezes acertam, que papalvos como eu existem para lhes levantar o ego, a moral, gabando o aspecto físico, a elegância e a profundidade espiritual. De modo que seja mais tolerável viverem consigo mesmas. E terem uma nesga de liberdade, sentindo que ainda conseguem desconcertar a admiração alheia com o poder corpóreo em torno do qual construíram a sua identidade. Sem que lhe pedisse, mandava-me fotos no ginásio, a trabalhar os glúteos ou na leg press. Das suas tatuagens, uma delas na anca e com vista de relance do monte púbico, como que se á espera que me saísse baba para o teclado virtual do smartphone. Todos os dias publicava histórias no whatsapp, com aquelas poses com um pezinho assente com a biqueira no chão, calcanhar a apontar ao céu e a perninha inclinada, pose copiada de milhões de outras que se imitam em todas as redes sociais, seja com dois dedos em forma de ‘V’, seja a morder a língua, entredentes ou com ela toda de fora e um olho a piscar, numa sucessão de modas nunca criticáveis pelo que são, marcos efémeros e infantis que visam assinalar a pertença a um determinado tempo no século XXI. Perguntei-lhe sobre a tatuagem de passarinho na anca. Evitou ao máximo contar, criando suspense, e à 3ª vez que lhe perguntei casualmente, aproveitou para me censurar por insistir em algo de pessoal que não era da minha conta. Quando sentiu que me tornei imune à curiosidade, confidenciou sem solicitação que era uma personagem de desenho animado de infância, que significava bastante para ela. Ficou ofendida por eu não perguntar que significado era esse. Tornou-se para mim, terrivelmente enfadonha, alguém que encontrava conforto em ser igual aos milhões de pessoas que encontram conforto em serem iguais aos demais, com as mesmas ideias, poses fotográficas, lugares-comuns como ideias, drones de gente, cujo abismo de se ser quem é, é associado a doença mental. Cuja maior expressão de individualidade, é a que decorre do carácter mimético que reconforta a angústia existencial, precisamente decorrente de não ser um esforço de conformidade, e pagar por isso. Quando somos iguais aos demais, estamos abrigados crítica, e somos até melhor tratados porque confirmamos uns aos outros, que estamos no mesmo comprimento de onda. A sua auto-imagem saída de um casamento falhado, onde sacara uma filha a um gajo que ajudaria a suportar as contas da sua replicação genética, apenas reforçava um quadro pintado a tons neurotípicos , de relativa temperatura morna, como é toda a gente que é normal. Dera o grito de Ipiranga, algures no caminho, e decidira perseguir uma certa imagem de si mesma, no sentido oposto ao da sua auto-imagem. Aderira ao imaginário de ginásio, e passava horas a convencer-me, da imagem de si mesma, que pretendia que eu visse, e assim lhe confirmasse a ela, que era o que queria acreditar de si mesma, que largara a velha pele como Ofiúco de escamas idas, e renascera como Fénix, uma nova mulher, à imagem do que entendia ser uma versão melhorada de si mesma, eliminando todos os defeitos percebidos. Nunca me impressionou tanto o suicídio de alguém, no anseio de reencarnar como ovelha. Por detrás da imagem, da pantomina, a pessoa real, asfixiara-se tanto, que nada havia além de um lugar-comum. Mulher de teflon com sabor a água destilada. Nunca lograria obter uma paixão avassaladora por parte de outro, que não lhe quisesse apenas usar o corpo para ter tesão. Porque nos apaixonamos pelos defeitos. Por isso as malucas nos causam impressão. E a dona da personalidade teflon é por nós vista como um receptáculo de esperma, demasiado temeroso de mostrar quem é, por não ser aquilo que quer que os outros vejam, o que acha que os outros querem ver. Tornamo-nos filhos bastardos de nós mesmos, escondidos à socapa para ninguém conhecer o nosso adultério. O corpo era o seu maior cartão de visita. Ia religiosamente ao ginásio, mesmo quando me deixava na cama insistindo que eu ficasse nela, à espera do seu regresso. Inundava o instagram com fotos da sua gymn culture, como outras inundam com as suas viagens ao Dubai pagas por pretendentes que as comem e rejeitam em surdina após a digestão, copos de vinho branco em piscinas idílicas, tatuagens e outras merdas que as gajas fazem para mostrar a quem queira ver que são bem-sucedidas e felizes. E sofisticadas. E desejáveis. E empoderadas. E todas as coisas frívolas que as confortam. Tinha orgulho no cartão de visita, sentia-se triunfante, finalmente na sua vida. Tomava-me como a ideia que fazia dos homens, esses toscos facilmente manobráveis com um bocado de pele. «-Olha que não costumo mandar fotos de mim para ninguém.» A data nos metadados das fotos, desmentia. Que se lixe, para quê confrontá-la com as suas mentiras desnecessárias? Queria que eu sentisse que a atenção que me dava era algo de especial, convidando-me a devolver a intimidade, a investir franqueza, para depois optar por me acolher ou rejeitar com impacto emocional. Querem ter o poder de decisão de vida ou morte sobre a presa, mesmo à beira da armadilha. Olha, és especial, por isso te mando fotos com que inundei o instagram antes, para me verem e avaliarem. Se te trato como especial, vá, mete a cabeça no cepo, investe, dá-me o biscoito da tua validação e rebarba para me sentir bem com o meu corpo, comigo mesma. Se não quiser, deixo-te cair, rejeito-te após te colocares a jeito, expondo-te, o que acentua a rejeição, tornando-a especial. Se te quiser, fico a sentir que fui eu aquela que iniciou logo à partida, a relação em que teimavas não acreditar. Na cama fodia como a personalidade que tentava a todo o custo, esconder. Não era memorável precisamente por se ter tornado numa personagem de banda desenhada. A hipertrofia tinha-lhe tornado as mamas mais pequenas, e o rabo inexistente. Glorificava os seus abdominais, e o aspecto supostamente mais jovial que o que dizia o cartão de cidadão. Usava sapatilhas ‘Converse’, na ideia parola de imitar as cachopas mais novas, que usam ‘Vans’. Entretanto, um gajo qualquer, das dezenas que lhe alimentavam a ilusão da escolha, bombardeava-lhe as mensagens com promessas tentadoras, e subitamente deixou de me dar cavaco, ausentando-se com um desprezo silencioso implacável, como elas gostam de fazer, sabendo claramente que os gajos, esses brutos, sentem profundamente essa merda. Mais um pobre diabo que persegue o pós ejaculatório, que é lá que olha o rosto da liberdade, livre de pensar em foder gajas 24 horas por dia. A única paz que temos, é quando com os tomates vazios, podemos ser nós mesmos. II Tirou um curso de enfermagem. «-Olá João!» Quem me manda ser parvo e atender número confidencial? Foda-se a Célia. Há uns tempos ligou para pedir uma merda para a filha, que também tinha entrado para Filosofia, em Letras. Mandei-lho à cara. «-Achas? Quem pensas que sou?» Então vamos jantar, disse-lhe eu. Concordou, para a semana. Quando lhe liguei, disse que ia ser complicado naquela semana, e ri-me quando carregava no botão de desligar a chamada. Gajas. Sentiu-se exposta no comportamento pouco honesto. Eu até teria ajudado a miúda, com todo o meu afã. Mas não me cheira este tipo de chico-espertas como a mãe. E também, o meu interesse nela seria apenas para devolver a gentileza de filha da putice, que me fez há uns 5 anos, quando se vingou da descrição física do seu corpo, que escrevi num texto do blogue. Como? Fodendo-me na traseira do seu Fiat 500. Gajas. Provando para ela mesma que me comia e largava, ah fatalidade. Que me dava uma lição por gozar com as suas mamas grandes e corpo desproporcional. Ah gozaste cabrão, pois como-te e cago-te, porque foder é um acto de poder. Shiu, mas não se diz a ninguém, e se nos perguntarem, dizemos que é um acto de intimidade. Quando me vê, desfaz-se em cordialidade e sorrisos falsos, que é forma como gosta de se ver a si, e como quer que os outros a vejam. Em abono da verdade saiu do buraco e começou a ser a bicicleta de médicos de um hospital privado para onde foi trabalhar após o curso. Acha-se demasiado boa para quase todos os enfermeiros. Acha que a idade lhe confere estatuto, e que superou o rude golpe no ego de ter criado expectativas com um cachopo 20 anos mais novo que sentiu curiosidade em saber como fode uma quarentona, se há algo a temer em mulheres mais sabidas. «-Estou confuso, não sei bem o que quero.» foi a desculpa que deu, e todos dão, tentando tirar delas a nódoa do amor próprio lesionado pela óbvia partida que a ilusão, delas, lhes prega. Lidam extremamente mal com a mortalidade, com a sua mortalidade. O mundo prometeu-lhes tanto, e detestam sentir que o DJ vai desligar a música. Ou que já ninguém as olha dançando. Na cabeça dela, subiu socialmente acima de mim, pois não sabe o que faço, o blogue não é lido por muita gente, poucos me conhecem os livros, etc. Para ela sou um elemento do lodo social, muito longe da superfície aquática dos que andam de iate no Tejo. Gosta de jantares com vinho caro, com médicos públicos e privados, que por um motivo ou outro insuflam emoção na sua vida com estas conquistazinhas da treta. Sente que está num patamar acima, e que só por desespero voltaria a considerar a minha pila como bengala. Desrespeita-me o suficiente para achar que sou tão parvo que não adivinho o que lhe vai na ideia. Desprovidas de introspecção, não percebem que não sabem mentir. Não conseguem olhar para si mesmas com olhar clínico, passo a expressão. «-Quero falar contigo, podemos tomar café?» «-Não.» «-Não? Não porquê?» «-Não porque não tenho particular vontade de te ver. Estás bem de saúde? Precisas de algo vital ou é só conversa de merda que te leva a ligar?» «-Estou bem, mas…esquece…» Antes que continuasse a vitimização, disse para comigo, confirma que está bem, boa noite e um queijo. Desligo a chamada. Manda mensagem a dizer que não me fez mal nenhum nem percebe a razão do meu comportamento. Respondo pela última vez dizendo, ‘Vai ao médico, então.’ Não sei se percebeu a piada. Gajas parvas não têm sentido de humor. III Comprou um carro de prestígio Quando o carro tinha 20 anos, fodíamos em campos de trigo. Era mais humilde, e via-me como um prémio. A bisavó tinha-lhe deixado a carripana velha, mas de alta cilindrada. Recebeu um aumento no escritório, e por morar com a mãe, que pagava tudo, juntou para um carro de prestígio. Cessou o direito de a comer dentro do carro. Para não estragar os estofos. O objecto de prestígio, a roupa de melhor qualidade, contrastavam cada vez mais comigo, o trongomonho que se veste de qualquer maneira. Sou um gajo teimoso e de ideias fixas. Meti na cabeça que qualquer gaja, a gostar de mim, gosta de mim pela minha personalidade e não pela minha performance como adereço. Pois raios partam, se esta alguma vez me viu de outra maneira. Talvez quando o meu brilho de cortejamento ainda era vivo. Eu via já a carta da ruptura que vinha no correio. Eu percebo-as. Mas sou teimoso, que fazer. Já perdi muito, por causa disso. Sei há muito que nos dão roupa quando querem deixar a marca na obra de arte que acham esculpir de um tosco bloco marmóreo, quando acham que não nos vestimos como deve de ser, para acompanhar a imagem e esforço que projectam de si mesmas. É compreensível, trocando por miúdos, não querem que o gajo lhes puxe o valor de mercado, o prestígio, a compostura social, para baixo. Eu, teimoso que nem uma mula, ia aos jantares sociais com botas da tropa, cabelo mal cortado por mim mesmo, não envergonhando, mas também não deslumbrando, não insuflando aquela comprazível sensação de ter um gajo à altura da sua auto-imagem. De ‘fazerem um bonito par’. Assumo sempre uma espécie de ruptura, porque me sinto preso na aparência que não acho que tenha lugar numa relação a dois, com mínimo resíduo de verdade. Por isso uso meias por cima do artelho no Verão, calções de cor gasta de há 10 Verões passados, e se me chateiam os cornos por tal digo que é por causa do ambiente, que se andamos sempre a mudar de roupa, não fazemos nenhum serviço ao planeta. Olhá lá, mas então divides o lixo e tiras as carrapetas de plástico dos pacotes de leite, mas estás constantemente a comprar roupa que vem do Bangladesh? Esta é a área da Lógica que não gostam de ouvir. Esquece, quando começam a achar que estão acima, perdem-te o respeito, e perdendo, nada há a fazer. A gota de água foi quando fui ter com ela a um casamento da amiga, com o meu Corsa a gasóleo, com motor Isuzu de 1500 centímetros cúbicos, que dura mais que as baratas vítimas de detonação atómica. Na minha Lógica. Na sua, levei uns 900 quilogramas de óxido de ferro, para um evento social que a envergonharam. Percebi logo no copo de água, que estava estranha, mais enjoada que o normal, e ri-me, de novo. Olhando em minha volta, os ratos bípedes, pressionados a ter de desempenhar e consumir recursos e merdas, para não desapontar o gajedo. Fatos engomados com gravatas constríctoras que não estão habituados, uma adorável peça de teatro a que chamamos de ‘idade adulta’, e que teimosamente recuso, por uma certa ideia de natureza humana, um abismo entre o que é e conheço, e o que devia ser. Na volta para casa, o meu carro parou por falta de bateria e tive de chamar o reboque e lancei a escada, perguntando se ia dormir com ela naquela noite. Disse que não, que tinha de fazer no dia seguinte, apesar de ser um Domingo. Percebi que o carteiro estava a bater-me à porta. Uma certa melancolia acercou-se de mim, segredando-me ao ouvido que tinha de crescer e achar que o ‘amor’, é mais que uma cabana, por mais que ‘elas’ digam que é uma adesão emocional, igual à que ouviram numa canção pop qualquer. IV Foi trocada por uma mais nova O som de uma mensagem por instagram toca e outra que voltou do passado recente, a solicitar um encontro. Mais uma parvinha que segue os seus critérios de avaliação como máximas religiosas de fundamentalismo a toda a prova. Amantizara-se com um artista de pacote, daqueles que perdem a genialidade assim que têm vulva de forma regular e contratual. Dás o pito e eu pago a renda e fingimos que gostamos um do outro. Sem dar por ele, dá por si a gostar mesmo dela, e depois está fodido, não consegue largar o anzol. Ele é conveniente para ela, paga as contas, permite que frequente a gente culta de Olisipo, e diga-se em abono da verdade, tem alguma graça a sua personalidade. É um prémio, dadas as circunstâncias de dentes separados pela idade, amarelecidos pelo tabaco de enrolar, pela magra figura de insuficiente dieta, e de olheiras pelo consumo diário de ódio para com os homens, o patriarcado, o capitalismo. Em grupos de codependência com outras gajas que lhe reconfirmam as crenças de partida, os critérios de avaliação. Chego às vezes a pensar se o conceito de indivíduo se aplica a gajas que pensam com a cabeça umas das outras. Emocionam-se umas com as outras, e essa emoção dispensa o uso de uma racionalidade com leis de congruência. Não são mecanismos que tentam resolver, mas apenas fruir as emoções que serpenteiam pelos corpos umas das outras. Por isso a indignação, potente afectação do espírito, tem foros de culto fundamentalista. Saem em trupe, pelas ruas da capital do império, alimentando sem abrigo, gatos vadios, e outras causas sociais que pouco fazem de concreto além de ajudar a passar o tempo. Sempre desconfiei desta malta solidária, com afã religioso de ajudar, de mudar o mundo grão de areia a grão de areia, e nunca consegui não ver, uma tremenda necessidade de parasitar os outros, os odiados, os rejeitados, por os tais critérios de merda, para se sentirem bem consigo mesmas. Algumas têm nos perfis sociais fotografias com crianças esqueléticas na Etiópia ou Somália, como se fossem troféus para mostrar cá no aconchego, aos outros que assim as catalogam como almas plenas de filantropia. Certa vez perguntei-lhe: «-Se me pintar de preto, enfiar um pau no cu, usas-me como bandeira?» «-A que propósito vem isso?» respondeu-me ela. «-És tão puta para mim, que indago se tiver valor utilitário semelhante, se me passas a tratar como igual.» Mandou-me para o caralho e eu respondi vem tu. Mas arrependi-me porque faz uns broches de merda. Apesar do número de engates passado, nunca aprendeu a fazer um broche de jeito, afinal isso é para agradar ao monstro mau que odeia, o homem. E odiando, sente-se melhor por ser quem é, uma vítima da patriarquia que lhe abafou a liberdade e o sonho de ser astronauta. Se eu tirasse um curso de Economia, o meu trabalho final seria o da economia do ódio. De quanto o ódio é uma virtude social, tal como a lei da propriedade e do terceiro excluído, no caso presente eu, o terceiro sempre excluído, excepto se com valor utilitário. Para malta que tem bons sentimentos para todos os outros que não eu. Pesei seriamente mandá-la levar no cu. Mas fui ao local combinado, bebericar café. Não me desiludiu. O seu prémio, largara o anzol, para morder as escamas de uma 20 anos mais nova e menos manhosa. Como eu o entendia. Eu voltara a ter valor utilitário, pois era um, numa lista de outros, que lhe declarara afecto em tempos idos. E justamente, confesso. Estava a fazer ping, avaliando como juíza, os méritos e receptividade do próximo que a aturaria. Onde há uma janela há uma porta, e como isto é tudo um regatear de preços, calculava o que mais lhe daria, e o que menos dispêndio energético, exigiria. Se eu exigiria quase nada, ou se teria de fazer broches de hora e meia, até que eu caísse na ratoeira de gostar dela apenas por causa da oxitocina largada na ejaculação. Pelo toque da pele e pela associação do rosto ao prazer de esporrar. Aposto que a posição de missionário foi inventada pelo gajedo. Que estes cabrões assim ficam mais embeiçados. É fácil rejeitar uma gaja que não nos atrai. E consegui resistir a dar-lhe lições de moral e mostrar-lhe o farrapo humano que acho que é. Paguei ambos os cafés, e disse, quando me perguntou como estava e que andava a fazer: «-De ti quero duas coisas, a tua felicidade e a tua distância.» |
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