Agora percebo porque via os outros beber, quando eu só bebia água e coca-cola nos bares de alterne espalhados à sombra do Tejo pela margem oriental fora. Por detrás de uns copos de vinho ou cerveja, o mundo fica mais agradável, ameno e digno de ser vivido. Pagamos pelo esquecimento para podermos suportar o quid de verdade que é possível. Foda-se, não podemos passar a vida a chorar, mas ao menos lamentar a morte violenta de suínos que misturados numa massa amorfa de carne, foram sacrificados para bem do deus da proteína. Regado de cerveja e com a barriga ocupada durante umas horas, podemos ser filósofos nas tascas de café. Os caralhídeos de ginásio pavoneiam-se com os seus deslumbrantes BMW’s, como se fossem algo mais que marionetas do mesmo Deus sexual e titereiro, que nos fode a individualidade com os seus mandamentos procriativos. Ao mostrar à fêmea a sua capacidade de amealhar recursos, além do mero objecto utilizado para levar do ponto a ao ponto b, como um corsa ferrugento, o mancebo mostra de forma inequívoca que o seu earning potential, lhe deverá garantir acesso ao útero, ao orgasmo, à endorfina. É desses que elas gostam. Dos que se conseguem desligar delas a ponto de tanto se dar se é ela ou a irmã. Parece, e isto é teoria minha, que desdenham os que realmente as querem, porque os confundem com aqueles que as querem porque não conseguem mais ninguém. Ficam chateadas porque as objectificam, quando sabem perfeitamente que elas no passado usaram o seu corpinho Danone e jovem, para exercer sedução ou só para ganhar um lugar na fila do supermercado, ou para um anónimo na A2, lhes ajudar a mudar um pneu. Até eu, obtive benesses na entrega de documentos fora do prazo, numa qualquer repartição pública cujo portal era controlado por uma matrona quarentona agradada com o meu aspecto. Mal sabem elas que o corpo de uma bela mulher activa as mesmas zonas do neocórtex que a utilização de ferramentas. Parece óbvio, a mulher é um objecto de sexo para o homem, e o homem um objecto de susexo para a mulher. Contentemo-nos nesta desigualdade. Para quê complicar. Filhos da puta dos goebbels que espalham a ideia do amor cortês. Enquanto tenho a cabeça enredada em corrupios de tontura, não me assaltam ideias de justiça ou de que tipo de merda é este mundo onde vim parar. Enquanto ébrio, olho para o pão de Rio de Maior e me esforço por esquecer que a massa de carne lá dentro vem de vários animais mortos de forma atroz, não penso na filha de putice de gajas que fizeram à minha pessoa, o que fizeram, porque permiti. Culpa minha, ter-lhes dado esse poder. E às vezes não foram só elas, foi aquela amiga, miserável e condenada à sua vida, apenas a querer garantir para ela, uma companheira na miséria, envenenando a minha imagem, para isolar a ‘amiga’, engatando-a depois com um amigo do marido, de forma a ter perto de si, o que antes eu dividia. Ohhhh amigo, as voltas que isto dá. Não é tua, é a tua vez. Desconfia sempre que te falarem em amor incondicional. Isso é ficção para que baixes as defesas. São umas cabras, não por serem más, mas por serem programadas. Aliás, nem é culpa delas, é tua, ou porque as tratas como gostarias que a tua mãe tivesse sido tratada, ou porque são a única forma que encontras de gostar de ti mesmo, através da aprovação de outro. Engraçado que estas mulheres, que depois dos quarenta encontras nas marchas de rua contra causas sociais e que fazem campanhas de bons sentimentos nas redes sociais, foram cabras para os humanos próximos que cruzaram seus caminhos. Defendem até ao osso a exigência de respeito de um qualquer homem no Burkina Faso, mas gaslightearam, desprezaram, desqualificaram, gozaram e acharam-se muito melhores, que um gajo de Freixo-de-espada-à-cinta. Há algo de risível aqui. Tipas que vês claramente que sempre meteram os pés pelas mãos em relação a outros humanos do sexo masculino, postarem agit prop em prol de moralidades vácuas e imberbes, sobre como tratar outros. Como raposas que desfilam na rua com cartazes pró-galinhas. É de rir. Tenho como teoria que é uma exigência do ego, para que consigam viver consigo mesmas, pois o alter ego deve-lhes dizer, que como gente, nada ou pouco valem. Eu, quando se me apresenta uma gaja assim, digo obrigado, não estou interessado. Já sei o que a casa gasta, e nunca andaria com uma mulher da minha idade a não ser para sexo, e ela bem ciente disso. Mas como querem ainda ditar as regras de acesso ao seu corpo que ninguém quer, ficam a falar sozinhas, pois eu não alinho nisso. Essas nem me chateiam muito, os conas chateiam mais, porque me confrontam directamente. Ao meu corpo, tem acesso quem eu quero, ou seja, faço o mesmo, e isso irrita-as. Vêem usurpado um poder que achavam ser exclusivamente seu. Sugam a energia emocional umas às outras em jogos de codependência onde se apoiam e desprezam a um e mesmo tempo, mas a alimentação que retiram das emoções que acicatam umas às outras é suficiente para as manter a repetir o mesmo. Estava numa estação de serviço qualquer em Viseu. O estado, tinha mandado verificar uma sepultura qualquer, achada por pastores, no meio de uma serra. O carro lá fora crepitava o motor com o arrefecimento, enquanto eu degustava uma sandes e uma cerveja antes de viajar de novo para Sul. Preso a pensar sobre se pedira uma ou duas latas de cerveja. Pedira uma, concluí por fim. Dirigi-me à caixa e tive um deja um, já vira aquele boi antes. Essa é por conta da casa, senhor arqueólogo. Era isso, ele conhecia-me da minha profissão. Você aqui não paga nada. Porra tinha de conduzir não ia beber um litro de cerveja. Sentei-me e comi devagar, a minha imagem reflectida no vidro tornado espelho pelo escurecer do céu. Do outro lado a minha cara olhava para mim, reconhecia-lhe os olhos de adolescente, mas não a gradual calvície que é inédita na minha família. Qsa foda, também a Monalisa se está a desfazer. A cerveja começa a fazer efeito, após 5 meses de abstémia. O mundo torna-se suportável, da forma como o vejo. Uma forma aproxima-se e exclama: «-João és tu?» Foda-se, a Filipa. Mais um Natal passado que encontro onde menos espero. Faço o relato da minha vida desde que me trocou pela melhor opção, por aquela que o seu hipotálamo ditou ser melhor aposta, e o meu ego confidenciou que por acaso tinha casa próxima. Tu não estás em condições de conduzir. Associou o meu porta-chaves ao Land Rover azul que o estado português me facultara para percorrer o território de lés-a-lés. Levou-me a casa de forma maternal e ao deixar-me na cama não evitou pousar-me um beijo nos lábios, com a comoção comovida de um regresso ao lar. A embriaguez sóbria levou-me a revisitar o que já conhecia, e pela manhã, certo de que não daria a alguém mais nenhum poder sobre mim, sussurrei-lhe ao ouvido: «-Quero duas coisas de ti, a tua felicidade e a tua distância.»
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Esgrimia com a mão, para a frente e para trás, arrebanhando o meu prepúcio como se fosse um microfone a quem contamos a vida. Assumia cara de puta e falava para ele como se outra pessoa que não eu estivesse no quarto. Cara de puta é como quem diz, cara de mulher desejosa de sexo além de planos congeminados para obter algo da interacção que não a interacção. Porra, tenho de largar a cerveja, bebo demais e o meu eu ébrio mete-me nestes cambalachos que depois por teimosia interna levo até ao fim. Continuava com o maquinal vaivém manual a ver se eu me satisfazia como labrego no cio, e me agarrava a ela pleno de satisfação, cansaço e alívio de a ter encontrado como paliativo de um desejo jabardão que é sinónimo de liberdade. Mal ou bem já tenho uns anos desta merda e cheiro agenda a léguas e braças e o que seja. Estive para lhe dar uma bofetada como aparece nos filmes, mas o meu eu maior disse-me que não, não era aquele o meu estilo. Apenas a avisei de que sou insaciável e amanhã ia estar assada. Fez-me prometer que cumpria a promessa. Ok amiga, foste avisada. Passadas 6 horas, e não 24, já me estava com a conversa costumeira, de onde vamos daqui, e quero passear contigo de mão dada numa praia do Pacífico à luz do Sol poente. Arrotei o caldo verde e a cerveja que lhe meti por cima e disse-lhe com as minhas mãos afagando o seu rosto, que não entrasse por esse registo que eu não ia ter nada com ela. Entrega-te ao momento que é o que temos. Não faço parte do teu, ou de ninguém, puzzle. Tal como quem observa uma puta de uma traça que sabemos que andou a roer o nosso melhor casaco, assim observava eu aquela alma tentando dar à bomba de um qualquer navio já naufragado, para me convencer da pureza das suas intenções. Com tanta observação e introspecção perdi a tesão e puxei-a para mim, abraçando-a. A boca cheirava a pila no seu esforço teimoso de convencimento. Então não estás a gostar, e não sei quê, ainda fingindo um esforço de querer ir para baixo completar o serviço. Não a deixei, e a apertei contra mim, deixando cair o meu queixo nos seus cabelos, e adormecendo no embalo do seu aroma. Tentou mexer-se, quero que te venhas, e eu disse, como quem quero e venho-me quando quero, e tudo está sujeito à minha vontade. Talvez tenha acreditado, pois ficou quieta e abraçou-me também. Senti como estava e verifiquei que estava seca. Eu disse-lhe: «-Chora para a mão que já dá para ficares molhada.» Só eu sei que foder é a melhor maneira de fugir ao desgosto. Ela acedeu, iniciando um pranto em que as exalações orais de desespero me provocaram constrangimento. Abracei-a o melhor que pude e a aflição passou dos seus monossílabos para mim, e fui forçado a perguntar o porquê de tal desamparo. «-Ó João então não vês que o meu tempo já passou…» Tinha razão, ainda aprazível à vista, era contudo um sarcófago onde mais ninguém queria passar mais que uma noite. Tão enganada como eu. Eu na validade suprema do amor enquanto um bem por si mesmo, ela, de que o Verão interminável se perpetuaria além dos quarenta anos. Lamento por ti, mas devo perguntar, onde estavas tu com a cabeça. Convenceram-te que o poder e a sexualidade não têm prazo, mas tu aceitaste e decidiste jogar na roleta russa. Quem assume a responsabilidade? É melhor para ti assacares as culpas aos que em ti pernoitaram? Acaso escolheste algum como morada duradoira? Tanto empoderamento e afinal não assumes a responsabilidade de nada? Ou viveste como se não houvesse amanhã, como se não tivesses de prestar contas a ti mesma, no ocaso da tua vida? Afinal não sou o único que foge. Que se entrega de má consciência enganando-se a si mesmo, às paixonites com pouco significado, para poder suportar o significado de uma existência insuportável, do ponto de vista da lucidez. A arte da fuga era mais fácil nela, e como tudo tem um preço, ela pouco ou nada sabia do que fosse introspecção. Não sabia lidar consigo, falar consigo, avaliar as suas decisões e motivações. O seu âmago era o gemüt kantiano, qual cachorro que persegue o vestígio da sua causa sem saber ao certo o que percebe. Acordo noites sem conta, para lembrar que o sonho que estava a ter era com ela, o meu corpo repugnado embala para a vigília, a minha alma de tão impregnada dela, não consegue arrumar os contornos do seu rosto nos corredores das memórias esquecidas. Como agora. Acordei e vi o Sol poente lá fora. O Céu está laranja, e o alaranjado provoca-me uma nostalgia de desenraizamento, fora de mim, do meu tempo, comovido por uma visão do tempo de existência totalmente liberta de si mesma. Vejo o anedótico da nossa condição, o sem sentido, e não posso senão jogar-me nos braços da comatose por vias do sexo. Depois de chorar adormeceu. Começo a brincar com a mão no meio do rabo virado para mim, e em breve uma área com maior calor e humidade parece ganhar vida própria. Ainda meio a dormir vira-se para mim e retribuindo o favor exala murmúrios que logo de seguida afoga com vergonha de cheirar mal da boca. Mas no fundo não era isto que eu queria. Não gosto de sentir que fujo. Mas não me sinto em casa ao pé dela. Não pertenço aqui. |
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