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Borbulhando

30/5/2019

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No ‘Retiro Minhoto’ 4 homens de cada lado da alongada mesa, bebendo vinho e debicando as entradas, revelavam nos rostos um verdadeiro apreço por partilhar tempo e espaço com outros entes que possuem o mesmo género e forma de olhar para o mundo.
Todos militares menos eu e outro, Miguel.
As conversas começando por onde cada um vai na vida ou em episódios particulares da rede de vida que uns partilham com outros, ao avanço do tinto o pulsar telúrico emana arrebatador.
Gajas, onde se come bem, onde se caça melhor, onde se pode tirar partido da tribo oposta.
Senti-me feliz reportado à era onde o nosso DNA foi formado. Chama-lhe primitivo.
Eu chamo-lhe telúrico, sem filtros.
Em grupo a testosterona exprime-se sem pudor.
Casas de putas, lamento pela natureza dos matrimónios que são meros contractos sociais, e não o mito da alma gémea que todos compramos.
Lembrei-me de Platão e Kierkegaard e dos banquetes báquicos. E de quanta verdade há no excesso.
Miguel, mergulhador outrora assíduo, lamentava não partilhar o mesmo élan agora.
O mergulho no abismo asfixiado por uma rotina caseira em que alguma força indeterminada retira a pulsão essencial pelo Espírito e pelo indomitável. Eu conheço essa força.
 
A paz que se sente na comunhão reforça-se com o aparecimento do prato principal prenhe de abundância, como se a vista cheia prometesse despreocupação para a noite passada longe dos predadores ancestrais.
Por isso as legiões romanas se baseavam em grupos de 8 homens.
Baco chega à mesa e a conversa passa de mulheres para o excesso. Sexualidade irrestrita e disponível.
Vejo a Vénus de Willendorf despejar tinto pêlos copos de todos. Para um olhar feminino, o espírito seria o de depravação. As narrativas, as propostas de sítios para cada um se soltar às mãos do excesso e da vida que ainda resta em si.
Miguel, escuta mas não diz nada, preso num código moral que o impede de partilhar o amargor dos restantes. Mais habituado a renegar-se e a identificar-se com o que de si é esperado, algo em si, faz aderir á singularidade do destino a que condenado, escolheu.
Eh pá, o sítio onde entras e está recheado de musas de poetas que se agarram para ti e asseadas te dão uvas à boca e glorificam a tua masculinidade.
Vinda a sobremesa. A excitação e expectativa amansadas pela fluidez do café com cheirinho.
Miguel, vamos mergulhar para o próximo fim de semana, disse eu.
Epá João, não porque não tenho o fato em condições.
Miguel, porra eras um puro sangue, agora estás um pónei.
Epá, a vida, a idade…
Pendurado na parede o relógio disse para os comensais:
«-Irónico que o vosso maior factor de motivação, é também a vossa kryptonite.»
Levantámo-nos e pagámos a conta em silêncio.

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Metrónomo

26/5/2019

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Marilyn, My Bitterness


The Crüxshadows




I don't understand how you've done these things to me
I cannot comprehend your lack of loyalty
for you I would have shaken down the heavens from the sky
but it seems my love was stronger than this love of yours that died
But did you think it wouldn't hurt?
Did you think I wouldn't feel when the world came falling down?
Or maybe you didn't think at all and that's why I feel what I feel now
Did you think I wouldn't fall?
Did you think I wouldn't cry?
Did you think I wouldn't beg you to stay
One of these days you're gonna realize just what you've thrown away


Now I lie here in this empty bed and all think about is you
And I wonder if you miss me now and if your bed is empty too
 But did you think it wouldn't hurt?
Did you think I wouldn't feel when the world came falling down?
Or maybe you didn't think at all and that's why I feel what I feel now
Did you think I wouldn't fall?
Did you think I wouldn't cry?
Did you think I wouldn't beg you to stay
One of these days you're gonna realize just who you've thrown away

Marilyn, my bitterness
I've fallen to a stranger nightmare
Marilyn, oh Marilyn
I cannot... breakaway 

Marilyn, my bitterness
I've fallen to a stranger nightmare
Marilyn, oh Marilyn
I cannot...  find my way 


I'll absorb this agony
I'll carry all this pain 
I'll wipe away all this emptiness
I'll purify this stain
My wings will fold around me now
for once a one it was two
and my memory is a monument that will always stand for you
But did you think it wouldn't hurt?
Did you think I wouldn't feel when the world came falling down?
Or maybe you didn't think at all and that's why I feel what I feel now
Did you think I wouldn't fall?
Did you think I wouldn't cry?
Did you think I wouldn't beg you to stay
One of these days you're gonna recognise just who you've thrown away
Marilyn, my bitterness
I've fallen to a stranger nightmare
Marilyn, oh Marilyn
I cannot... breakaway 

Marilyn, my bitterness
I've fallen to a stranger nightmare
Marilyn, oh Marilyn
I cannot...  find my way 

Marilyn, my bitterness
I've fallen to a stranger nightmare
Marilyn, oh Marilyn
I cannot... breakaway ​

Marilyn, my bitterness
I've fallen to a stranger nightmare
Marilyn, oh Marilyn
I cannot...  find my way 

Marilyn, my bitterness
I've fallen to a stranger nightmare
Marilyn, oh Marilyn
I cannot... breakaway ​​

Marilyn, my bitterness
I've fallen to a stranger nightmare
Marilyn, oh Marilyn
Now must I go away?




I

A Paula franziu o sobrolho e cuspiu com desdém:
«-Não entendes, pois não?», afastando-se com desprezo.
Ele ficou com a boca seca e com um sentimento de vazio que o consumia por dentro.
Procurava onde era defeituoso. Ela dissera-lhe que ele não conhecia o pecado que cometera.
Sua mente analisava em série tudo o que tinham sido os seus 2 meses de namoro.


Mas era tão bonito, ele apaixonara-se pelos olhos verdes dela e o 36 de peito que contava pouco na equação. Ouvia ad nauseam ‘Verdes são os campos’ do Zeca, com poema de Camões.
Lembrava-lhe o bonito amor que julgara florescer entre os dois.
Foi sempre assim, quando se decidia a ser o seu ponto mental de origem, aparecia a rapariga que lhe dava a volta ao guião.


Haviam fugido à noite para se encontrarem numa serra fria e olhavam as estrelas e discutiam metafísica, onde ele discorria sobre as virtudes do amor eterno e do mito da alma gémea.
Nunca a vida parecera ter tanto sentido como agora que tinha alguém belo a quem amar, alguém que lhe reflectia a imagem que julgava querer ter de si mesmo.


«-Que raio é que eu não entendi?»
O seu maior medo, o seu sentimento de inadequação, via-se confirmado por recusa tão óbvia por parte da cachopa.


Escreveu-lhe centenas de cartas, explicando as implicações lógicas e teológicas do seu amor, numa vendetta de obtê-la de volta e assim reafirmar a sua auto imagem de grande sedutor.


Certo dia, ela que lhe dava as migalhas saborosas reservadas ao séquito, diz-lhe que as havia queimado todas.
Foda-se, pensa ele. Espera lá, queimaste por quê, diz a voz na sua cabeça.
Ela explica que era para um novo começo.
Ele pensa quanto de si, quanto trabalho intelectual estava naquelas folhas de papel.
A pior falta de respeito, soubesse ela o significado. Algo morreu e ressuscitou dentro dele.
Esta pessoa não tem culpa. Eu é que sou teimoso.


Lembrou-se das histórias que ela contava, com um elemento comum.
A predeterminação da sua mente a aceitar os pretendentes de acordo com o seu catálogo de recursos.
Até gajos de 60 anos eram narrados como charmosos, pela moçoila de 25, porque lhe ofereciam xailes de seda. A sério? Não posso acreditar, não é o macho alfa de liceu, é o maduro que bebe vinho por castiçais?
Só tarde percebeu, quando ela o convidou para o seu casamento, com um bon vivant que deixara apodrecer os dentes da frente nos anos em que foi estudante em Coimbra. Mas tinha moradia perto da Universidade Católica, no luxo que é morar em Lisboa para vítimas da hipergamia.
Escapada do subúrbio, e vendendo a casa que o pai a ajudara a comprar, estabelece família após um casamento em que convida os amigos de liceu só para mostrar que tinha amizades antes do pacto nupcial. Nunca mais os contactou. Haviam servido a sua função de adereços. Eu fui um deles. Mas falamos, mostra o sorriso cordial de quem está bem com a vida, e de que é tudo normal, e na cabeça dela até é. Ele sentiu um certo alívio. Uma cara bonita não garante dignidade de carácter. Afinal Paula sempre procurara mancebo acima do seu próprio círculo social. Acima do seu valor de mercado sexual.




II


Cristiana inicia de mão dada e extrema dedicação uma relação consumada num hotel de Cascais.
Mergulha de corpo e alma no mundo deste promissor aprendiz de Filosofia, mais atormentado com as implicações do que aprende do que com as próprias avaliações.
Ele era louco por ela, certo dia com erecção de 23 horas.
Ainda envenenado por um certo lirismo romântico, acedia a cada desejo e lamúria. Até começar a sentir-se o caixote do lixo emocional. A sua validação perde valor, e esta musa de pés de barro inseguros, exige cada vez mais valor, de alguém que perde valor a seus olhos.
A ele não lhe bastava ser apresentável, elegante e intelectualóide.
Nem ela sabia porque acabava com ele. Sabia que era um anão fofinho para ela.
Ele no deserto, de novo, pensava. Que foi que eu fiz, dei tudo, fiz tudo.
Tudo menos amor próprio.
Ela desqualificava-o com luvas de algodão.
É a barriga de cerveja, é o amarelo do café nos dentes.
É as calças à boca de sino.
É a falta de sofisticação ou de adaptação ao mundo tal como ele é para a maioria.
Andou pela mão de personal trainers de ginásio, que mal tinham tesão para a foder, o que lhe causava a ele a pior das apreensões, a de que de facto nada percebia deste mundo.


Andou aos caídos, experimentando o corpo até que o vislumbre da parede lá no fundo a fez escolher um homem decente mas com recursos a providenciar e mais velho, como ela gostava.
Faziam viagem de cortejamento por alguns pontos da Lusitânia e em breve os frutos do seu amor emergem à existência.


III


Anabela coloca o seu salto agulha para jogar a carta do desejo.
Surte efeito. Faz tudo para agradar, nada nega ao início.
O paciente parece ser bom e promissor para apresentar aos pais. Sua única e doentia preocupação.
Mas ele percebe, na sua teimosia, que ou é amado pelo que é em si, ou não quer ser amado pelo que é para outrem.
Meias compridas por cima das sapatilhas, palito nos dentes, boxers dos ciganos, relutância em desfazer a barba, relutância em sujeitar a sua independência por uma relação em que ela desde cedo deixa de tentar investir, para poder justificar o sem rumo que a sua própria vida parecia assumir. É melhor passar para o namorado o ónus da responsabilidade. Ah ele não quer trabalhar.
Ele via pelo canto do olho, a falta de afagos socialmente, o olhar de semi nojo nas festas de natais passadas nos subúrbios, a desilusão nos seus olhos quando em jantares de trabalho ele insistia em levar as suas botas da tropa. A recusa em aproveitar actividades feitas com ela, porque a monotonia do autismo dela era quase penosa para ele.
Acabou por o desqualificar de forma bruta e todas as suaves tentativas de amenizar eram mais viradas para a lixiviação do seu carácter, que para o proteger.
Andas sempre a contar trocos, esfregando o escalpe dele com desdém dizendo que o cabelo enfraquecera imenso.
Andava a traí-lo há um ano. Por certo incentivada pela mente colectiva das amigas, que a convenciam que lhe estava destinado o céu e as estrelas e os cometas. Fez o upgrade quer em meios quer em idade que a validava, afinal quarentona engatando trintão é feito.


IV
Flávia ou apagou, ou bloqueou o perfil pedindo lascívia.
Pelos vistos seus olhos ainda aqui vêm beber.
Por certo procurando indícios para me desqualificar.
A desqualificação é um jogo de pobres, mas necessário.
A metafísica do amor mostra que não existe diferença entre a dor física, e a dor emocional.
É mais fácil descartar o outro quando lhe reduzimos a dimensão com os critérios de uma decisão já tomada em nós pela nossa natureza. Depois cabe à psiqué justificar a decisão previamente tomada.
Sempre que o outro nos deixa é parte de nós que nos deixa, é um membro sendo arrancado.
Para o corpo existe morfina, para a alma, apenas arsénico.


V
A insustentável leveza do ser é fácil de suportar uma vez originada.


Basta entender.
Limar o que nos foi dito pela propaganda.
Forçar a nossa mão a um olhar de frente para nós.
Não são as cachopas que são más.
Todos temos falhas de carácter.
Mas é a indisponibilidade para perder tudo, que nos faz ganhar nada.
A paixão narcótica pelo conforto, nem que seja para alimentar uma pena que vomita a preto as linhas destas crónicas patéticas.
Debaixo de nós dançam os demónios, e macacos me mordam se deixo de olhar para eles.
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