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Politologia do engate

3/8/2015

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A foder também sou de esquerda.

O meu envolvimento com o outro implica não uma troca de serviços com plano de regras - implícita ou explicitamente -  conhecido previamente e sujeito às leis de mercado, mas um compromisso entre um grupo de pessoas (geralmente duas) em desenvolver uma vivência que beneficie ambos.

O modelo neo liberal de foda é muito mais simples e despojado, mas o cabrão do cérebro, o meu pelo menos, desafortunadamente não me permite essa ligeireza de afectos.

Talvez tenha a ver com a sobrevalorização decorrente de uma infância e adolescência indigente em vulva. Talvez tenha a ver com a ideologia burguesa.

O excessivo peso que a malta de esquerda coloca no desejo, é a antítese do que a  vox populi propaga. Não há a dissolução da individualidade numa supra mente colectiva, da mesma maneira que liberdade não encontra definição na possibilidade de escolha entre mais de duas marcas de pasta dentífrica.

A ideologia dominante segundo a qual numa mundividência competitiva, aqueles que se erguem acima da mediocridade merecem o que seja que a vida lhes oferece, é um fétiche de elevado grau, cocaína intravenosa para o ego, através de uma auto imagem de vencedor, aprazível e aparentemente edificante, o indivíduo se vê a si mesmo como algo destacado dos demais, especialmente daqueles que considera ' abaixo '.

É portanto natural, que muita da malta que vem debaixo, da merda, da indigência, se metamorfoseie em encomiastas do Homo homini lupus. Alimento para o ego.

Susana gostava de brincar com os corações dos homenzinhos que cativava com o seu sorriso. Brincava como gato brinca com pássaro semi vivo em peças de mestre de marionetas.

A vulva e a promessa de sexo eram o engodo, mantido com apetite libidinoso e desenvoltura encenada mesmo ao jeito como nós gostamos de loucas na cama, como diz a canção.

A malta de programação neo liberal procura nos outros a semelhança que os eleve, a malta de esquerda procura nos outros a diferença que os una.  Preferem mergulhar nas características de cada sujeito com que se envolvem, dos próximos, conhecê-los e isso exige tempo.

Os outros não. Tendem a fazer ouvido mouco às profundidades psicológicas – além do conceito de interesse próprio  numa lógica de ter e de haver – e assim, na mais profunda convicção nos seus compromissos ontológicos, podem passar de mão em mão, sem qualquer achaque de consciência ou introspecção judicativa, pelos corpos e mentes dos outros, aqueles que como res extensa partilham um espaço geográfico.

A simplicidade deste raciocínio só confirma a sua veracidade, a seus olhos. É muito mais simples arrepiar caminho, que pensar fora da gaiola do hamster. Formatada pela doutrina do ISCTE, Susi era a maior das defensoras da ideologia da selva.

Em duas ocasiões pudemos comprovar isso. Os jantares fartos e as sessões de fornicação  são geralmente ocasiões em que a língua facilmente se solta e relaxado o corpo trai a tensão nervosa da personagem representada e dos limites e cautelas do agir.

Em duas ocasiões soltei frases, como velho passarinheiro, e aguardei a reacção. Não foi manipulação pois acreditava em ambas.

Ela adorava falar dos seus ex, especialmente para evidenciar a forma como a tratavam, obviamente a anos luz de como eu tratava, e carregava na questão dos imensérrimos orgasmos que lhe davam, e por vezes da simpatia com que todos os aspirantes a companheiros de alcova a tratavam, pelos bares da zona saloia, por sms, nos elogios fáceis na consideração, nas deferências que polvilham todos os chacais que tomam a oportunidade como modus operandi. Verdadeiros pescadores de corpos e aventuras, espalham as redes por largos territórios de coxas e mamas, aguardando os desenvolvimentos das fragilizadas até que mordam o isco.

Não cessa de me divertir a forma como branqueiam esta forma de proceder. Eu e tu sabemos que é o método dos abutres. Parece que através de uma pedra filosofal no âmago da sua alma estes condores  que pairam sobre as promessas de amor, são empreendedores arrojados e primos de bucaneiros, que o coiro barato e mais que curtido, são prosas de Camões no alto da sua inspiração.

Se lhe dizes que são máscaras que engorduram seu caminho até à cópula, xingam-te por pensares coisas dessas tão baixas e erradas.

Eu disse ' Sou o melhor gajo que conheço.'

Naquele seu jeito tão característico de quem acha uma aresta, parou de pensar no seu expediente ondulando a perna flectida, e olhou-me com surpresa de quem acha um defeito.

Qualquer bípede pertencente ao espécime Sapiens sapiens sabe que é impossível ajuizar matematicamente em causa própria desta forma.

Por causa da escala. Por causa da inexistência de critério.

Mas ela levou a sério a afirmação.

Disse que eu era maluco.

Fica sempre bem dizer que sim, que o objecto de amor tem razão.

Só provou que eu não era de facto objecto de amor.

Noutra ocasião, desta feita num restaurante, disse que era o mais normal que conhecia.

Voltou o seu riso zombeteiro.

Para ela, e todas as outras sedutoras magoadas, o conceito e a sua insustentável leveza são mesquinhices de merda, próprias de nerds.

Acreditam tanto na validade da experiência própria que todas as dissemelhantes não podem ser respeitadas.

E por isso, o outro, é cilindrado na sua diferença, especialmente se não falar na sua linguagem.

O idealista, ou o que pensa fora da box é tratado como se disfuncional na apreensão da realidade, exemplo patético do looser, ou fraco darwiniano.

Convicção e sinais de fatal sabedoria, juntam-se à testosterona e testemunham os dias do fim dos homens.

O tipo de esquerda cai com os burros na água permitindo-se desenvolver sentimentos de afeição, por esta categoria de pessoas que tem em comum a ridicularização das relações entre indivíduos que não se baseiem em justificações psicofisiológicas ou egocêntricas. Que não apliquem as leis de mercado à paixão.

O menos cínico está do lado que parte a corda. O sinistro.

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