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Lapsus Linguae

13/12/2013

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Após o primeiro orgasmo a satisfação do alívio escorreu pelo meu rosto sob os auspícios de um terno sorriso, olhando para ela com um coração aberto de carinho, no qual me pareceu ver uma alma da outra margem que vinha ao meu encontro, em vez de me tornear para perceber o meu perímetro.

Essa ilusão trouxe-me alegria, parecia ser humana.

Mais tarde confrontada com esse raro momento apelidou-o como um acto de cumplicidade entre duas pessoas.

Fiquei a pensar nisso. O cuidado em não dizer manifestação de amor, mas sim, um acto de cumplicidade.

Não poderia sentir amor, coisa vaga e sem contexto definido.

A mulher hodierna que trata a vida por tu, vai além da foda e do envolvimento emocional. Não se entrega, especialmente a merdas que a podem magoar, e às quais no fundo já não dá uma migalha de crédito. Estas mulheres adoram-se sentir emancipadas através da frigidez emocional. Maturidade para algumas delas, não é a consciência do abismo que faz borrar os pneus, maturidade é a recompensa de se terem condicionado a não sentir, a procurar as estradas menos sinuosas onde a serpentina da paisagem passa por caleidoscópio da rotina do entulho.
Exultam nos seus vestidos negros voluptuosos pela capacidade em controlar o sentimento ou nada sentir, por claro contraponto ao estrogénio da puberdade.
Confundem o estar-se vivo com fígado de boi cru em mar de tubarões, o frenesim da fome passa por celebração de vida.
Ao vir-se reservam-se ao sentimento do seu corpo, e ao fazer vir, enaltecem com a perfeição técnica a vaidade da sua alma.


Dois celebrando a vida através de esporra e ofegantes espasmos, faz parte de um quadro asséptico e calculado, normal como um mundo sem deuses.
Dois celebrando a vida através da missa que o corpo em Agnus Dei derrama, religados após extenuação celular até às mitocôndrias
que arrebanham os lençóis, de mão dada e felizes por juntos, é ideia estranha e tomada por ficcional e digna da pena do leproso condenado ao ostracismo de rarefeito contacto humano.



A tudo o que lhes confirme a lógica e a fantasia dão valor.

Á criança que sentia outrora, contrapõem a madona pétrea e calculista
como forma de sentirem uma evolução naquilo que chamam de vida.

Cumplicidade implica mais um acto consciente e adulto que se pratica a encoberto de uma noite social em uníssono com outra pessoa cada um fechado na sua individualidade, pois é isso que significa ser adulto. O auto controlo, a noção da nossa falência por cada pecado que inevitavelmente cometemos…cumplicidade…é tão seco ser adulto e pode até deslumbrar como videoclip de uma radicalmente nova música, mesmo que use as mesmas notas, cumplicidade do mesmo coração desgastado pela repetição aborrecida dos amores e desamores, onde a entrega já não é possível senão enterrada na mesma imaginação fácil e em solitude, que a arrasta para a acção, mas depois a faz escarrar para cima daquilo que acha que já controla e domina.

Assim o cúmplice é aquele que pactua com a sua própria relativização enquanto ser humano que endoidece pela foda e pelo toque da carne, pela carta aberta e cheque em branco em devassar o corpo do outro com língua luxúria saliva e suor, para o caralho com a cumplicidade.

Apenas o frio e a seca, os despojados de sentimento falam em felicidade adequada.

Vivemos num viveiro de gente desapaixonada dedicada a celebrar a sua fantasia de verniz, incapaz de acometimentos e loucuras descontroladas, cada vez mais ficções de si mesmos, e tal como So, com as raízes secas como planta defunta em vaso de terra desidratada.

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