https://www.pablogenoves.com É professora de educação especial. Como me sentisse roendo a corda, mandou-me por whatsapp, umas fotos dela em Benidorm, que pela conversa prévia, havia sido local de aventuras com um maduro qualquer antes de mim. A pose dela era orgulhosa, como que dizendo que tinha corpo para mim e muito mais. Estava à espera de me sacar elogios para se sentir bem por uns momentos. Mas eu não os dou. Nunca os dou. Até porque a pintura começa a esborratar-se, como eu, na tela do tempo. Elas passam anos a estudar-nos, estes mamíferos peludos e previsíveis, e habituam-se a uma quota de variabilidade das personalidades, que na cabeça delas, permite a ideia de que um, pouco difere do outro. Faz dietas malucas para permanecer magra, e arranja-se mais para ir trabalhar do que para ir ao supermercado. Goza com a minha altura, apesar de em saltos altos, a sua cabeça não me chegar ao ombro. É uma provocaçãozinha que ainda assim anoto, nas contas de deve e haver na actividade de a deixar chupar-me a pila mais do que uma vez. E acaba por fazê-lo, sem que eu peça, acho que é uma forma de se convencer a si mesma que é uma pessoa espontânea. Primeiro finge que nunca viu uma pila. Depois olha para ela com olhar científico. De seguida goza com ela dizendo que é pequena. Olha para mim, a ver a minha reacção. Rio-me e respondo que para mim chega. A casa dela fede a tempo parado. Mora lá com a irmã, ambas trabalham nos serviços, que ser professor, é ser um proletário da Educação nos tempos que correm. Apesar de limpa, a casa tem uma estranha forma de limpeza, só o necessário. Parece que ambas disputam entre si, o prémio de quem menos faz, para não ficar uma a perder para a outra. Nem a sujidade é assumida. É envelhecida, pátina ganha com o passar dos raios de Sol por cima dos móveis de madeira rangente. Ao entrar na casa, um hall de entrada anoréctico, que se divide em duas divisões para cada lado, com a casa-de-banho ao fundo. Logo à esquerda, o quarto dela, onde sem coragem ou vontade de me dizer para a foder, colocou um preservativo e lubrificante, em cima da box da tv, motivo pelo qual me convidara, que estava sem televisão e eu parecia perceber de electrónica. Fingi que não vi, e já em cima dela na cama, deu em sair, vestir o pijama, e meter-se debaixo das mantas. Sem paciência para coisas que a minha lógica não abarca, disse-lhe que me doía a cabeça e fui-me embora. Ficou a olhar para mim, fazendo contas intracranianas, onde lhe adivinhei qualquer pensamento de fatalismo leve, pois que isto de aventuras de tinder e bumble, é mais fácil que peixe num barril. Encostado na ombreira da porta do seu quarto, lancei-lhe um último olhar em silêncio, indagando comigo mesmo se seria ela que me iria ensinar a arte da guerra do desprezo. Aquela guerra que fazemos uns contra os outros neste mercado da carne, onde ganha quem mais rápida e totalmente esquecer ou desprezar a lembrança do outro com quem partilhou pelo menos um momento de afecto. Como se a memória de uma carícia, fosse nos dias de hoje, a lembrança de um momento de fraqueza, sujeição, ou até de perda de tempo. Mas eu já sabia de antemão a resposta. Eu não sou assim, e não me posso queixar de o ser, pois sei que não o devia ser, mas…que carácter teria eu, se a minha identidade fosse feita em relação a estes andrajos humanos infectados com uma ideologia imberbe e imbecil? Que se fodam. Apenas tenho de me preocupar em não me lancinar muito. Se calhar é o que pensam de mim, que eu me foda. Se não faço ou sou tudo o que acham que querem, é porque não as mereço. E por cá, no mundo, a ideia é de que o tempo urge. Que as emoções mandam. Mas que emoções? As do consumo, onde cada um se torna no produto do outro. Leasings intermitentes em contínuos test drives, numa sinfonia de solidão e pobreza de espírito. Sujo, mas sujo de uma pátina da passagem do tempo
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Outubro 2024
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