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25 carícias de guerra - 4 de 25

10/7/2023

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Fotografia
​Uma diz ‘-Ai tão bom porra!’
Outra diz ‘-Ai que delícia!’ com sotaque tropicalista enquanto amontoo preservativos esganados com um nó apressado, ao lado de sua cama.
Outra olha para mim, faz uma cara de má e séria e diz ‘-Ai que bom caralhão que me fode toda.’, agarra-me os pêlos do peito enquanto se esfrega com força, de encontro à minha púbis, perseguindo o orgasmo que o seu clitóris promete. Egoísta, retirando-me o prazer da penetração profunda, mecânica, de impacto.
Outra apenas se vem quando lhe belisco os mamilos com força, e se contorce sobre mim exausta, adiando a hora de retribuir a gentileza, fazendo o frete da penetração até que eu me satisfaça.
Em comum, entre nós todos, apenas os ais, e o brio com que cada um persegue o coelho pela toca abaixo.
Diferentes expressões do mesmo, dos trejeitos de cada pessoa, da vivência própria, da relação com o mundo e os outros. Felizmente nenhuma exagerando no auto-sacrifício de me satisfazerem, inertes e submissas.
Não, procuram o que querem, e eu observo por baixo.
As intermitências da tesão, não vêm por falta de desejo, mas por algum tédio, o tédio de perceber que me tentam manipular, obrigar a ceder parte da minha intimidade, apenas para ser melhor amante.
 Garantir, enquanto não se fartam, que permaneço por perto, gabando-me aspectos ou acções, tentando fazer o meu ego dependente delas, para que não me vá, e acima de tudo, dê aquele extra que sempre damos, quando acreditamos que a coisa entre ambos tem sentido. Embora para elas, seja um constante exame final ou vestibular, como parece que dizem no Brasil.
Avaliação em progresso, sempre com a liberdade sine qua non, de mudar de ideias.
‘-Ah, acho que não vai dar.’
«-Mas disseste que me amavas e tinhas a certeza de que fomos feitos um para o outro?!»
A cara dela estagna e fica em curto-circuito sem saber o que dizer, porque, bem, não sabe.
Meia hora antes, agarrara no seu cu, e empurrava-o ritmicamente em direcção da minha pélvis, com ela sentada sobre mim e de cócoras no sofá.
Olho para a sua cara enquanto se vem, como se a pila não fosse minha. Beijo-a, acompanhando-a na sofreguidão por ar fresco, como se ajudasse alguém de mão dada, a passar o portão da Morte.
Quando abre os olhos de novo, vê que a observo, imutável, e sente-se observada e insegura. Percebe que há ternura no meu olhar, mas aquela ternura despojada de ilusão, da ilusão provocada pelo desejo.
«-Tu és estranho, não te consigo decifrar.»
Eu sei o que ela quer dizer. E percebemos os dois, que a minha utilidade cessa a partir do momento em que é solicitada por outro, e sabe que não me tem pelo beiço, como justificará a ruptura para si, é algo que já não me interessa, é algo, que também me entedia. Os joguinhos que temos de fazer.
‘-Quero um velhinho que me aqueça os pés no Inverno.’ Diz-me uma matrona solteirona, que como milhões delas, fez da sua solidão uma medalha, que usa ao peito, mostrando que é especial, exigente, o que exige em contrapartida alguém especial, que lhe confirme a sua especialidade.
Não escondo a nenhuma que ando com outras. Mas também não revelo.
Trato-as bem e dou-lhes amor. Apenas não lhes dou exclusividade.
Vejo o rosto de Deus na cara de cada uma quando se vem, e macacos me mordam, se alguma se interpõe entre mim e o Criador.
Muitos anos de punheta sequencial e doentia, retiraram alguma sensibilidade à minha pila.
Dou forte e dou com velocidade, percorrendo o coelho pela toca de uma geografia qualquer onde a nossa individualidade se dilui, e onde somos a mesma mente, osmótica, uníssona, reverberando no Nada.
Com preservativo é pior, retarda-me o clímax, e às tantas perdemos os dois, água e paciência.
Às vezes farto-me de perseguir o orgasmo, e partir do 3o, já mal consigo olhar para elas. É quando sei que estou temporariamente vazio, e tenho de fazer maior esforço para fingir. Quando matei o demónio, quando está exausto, que ao mesmo tempo, me deixa ser o meu verdadeiro eu, e sem o qual, não me reconheço, enquanto recupera.
Que estou interessado, vivo. Engatado.
Detesto a frase feita segundo a qual a juventude é desperdiçada nos jovens.
No entanto também acredito que com os anos, a imagem do mundo, das coisas, das pessoas, vai-se livrando da ingenuidade, do véu, da idiotice decorrente da experiência, que pouco mais é que comparar padrões e sentir na pele, aquilo que em tenras idades, está geralmente inacessível.
 
O jovem recusa ser limitado por essa determinante, ter de passar por coisas que entende na sua cabeça, racionalmente, é para ele suficiente, pois desconhece, geralmente, que a casa psíquica e emocional onde habita, se alarga com a experiência pessoal.
A Paola havia-me pedido para esperar por ela na Fontana dei Quattro Fiumi, e faltava uma meia hora para as 15, quando ela era suposta aparecer. Convencera-me em Lisboa, a vir ter com ela, sob o argumento de que passaríamos os dias juntos por Roma e pelo seu apartamento, mas assim que cheguei alertou-me logo que estava a lutar por um lugar na companhia de dança que sempre sonhara integrar, e por isso tinha de ir às ‘audições’ ou algo que o valha, sempre que solicitado. O que acontecia todos os dias. E nem me podia esticar muito com ela durante a noite, para não lhe esgotar a força toda, necessária para impressionar outros.
 
Passei boa parte da semana perdido pelas ruas e monumentos, com uma filha de puta de nostalgia, sei lá eu bem porquê.
Fazia questão de mexer na pedra ainda erecta, e por vezes desejar não ter vindo à vida neste tempo, mas mais atrás ou mais à frente.
Andava com o meu bloco de notas, para anotar todas as ideias e situações potencialmente passíveis de gerar um texto.
Sentado num banco, ia olhando para as estátuas de homens barbudos na dita fonte, e de quão longe se estava daquela masculinidade, como que se as feições captadas em pedra, me acenassem de longe, prometendo um reino de significado, inacessível aos conas da minha geração, eu incluído.
 
Perto da fonte, uma ninfeta norte-americana, no auge da sua capacidade de atracção corporal, tonificada, sem rugas, sem pregas de carnes salientes, e um sentimento de audácia para com o mundo e as pessoas, que acentuava a chamada de atenção para si.
Num rádio ao fundo, começou a dar aquela música de merda que entra no ouvido e não de lá mais sai, a música do ketchup ou o raio que seja.
Comecei a rabiscar, alienado de tudo à minha volta, sobre a futilidade de uma música que pouco mais de nada quer dizer, e que visou apenas inaugurar uma moda passageira e tornar-se um ícone da mesma.
A coreografia, a letra, e só uma porção do ritmo me cativava, precisamente por ter um sabor de eco pelo tempo, uma espécie de lamento por o tempo passar demasiado depressa.
Eu escrevendo como ambos os sexos abusam no poder sexual, na roupa que moldada ao corpo enaltece curvas, sejam as das ancas sejam as dos bíceps, numa espécie de parada com megafone na mão, onde cada um publicita as características das suas formas de carbono, de modo a captar valor e as gónadas alheias.
 
Lembro-me de ver o à vontade das cachopas, com roupas vibrantes e adaptação total à ficção que é o mundo de todos, enquanto, eu e a maior parte dos rapazes, lida até tarde com sentimentos de inadequação agudos, porque em essência rejeitam este mundo, que lhes exige modificação, e porque demoram mais tempo a saber quem realmente são.
 
Ela é baixa, magra, um boneco nas minhas mãos, que mal se aguenta com a minha brutalidade carinhosa.
Mas continua viva, que é mais do que o posso dizer de mim próprio, hipnotizado por um dragão atrás de uma caneca de cerveja morta…pensando em Dulcineias que me forcei a acreditar serem mais que taberneiras, mas princesas. Para eu mesmo, fugir ao tédio.
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