‘-Amo-te João.’ Olho para ela em silêncio, observando a sua cara expectante de uma reacção minha. Ela procurava sinais de aceitação no meu rosto, que a confortassem, que a retirassem do incómodo estado de não saber em que ramo está o pé pousado. E que raio significa isso? ‘-O que queres tu dizer com isso?’ – perguntei eu. Ficou ainda mais incomodada, porque simplesmente não sabia como me responder. Eu, velhaco, rodei o punhal inquisitivo dentro da ferida incauta. ‘-Que significa dizer a alguém, que se ama esse alguém? Porventura trocarias a tua vida pela minha? Se houvesse um último pacote de açúcar no supermercado, e a tua família dependesse dele para sobreviver, eras capaz de mo dar?’ Ficou parva olhando para mim, nunca lhe haviam feito aquela pergunta. ‘-O que é essa merda que dizemos uns aos outros, de que os amamos, como se fosse mais do que uma tradução de desejo, de passar tempo com o outro, por o outro ter algum valor ou utilidade para nós? Por acaso amamos alguém em quem não tenhamos interesse? O que é então isso do amor, senão mascarar o esvaziamento ritualizado de gónadas, e o preenchimento mascarado de egos? Que significa essa merda, de querer o outro que nos aparece superficialmente, e que permanece uma incógnita mesmo ao fim de 10 anos de convivência em comum?’ Silêncio. Responde ‘-Pensas demais nas coisas.’ Sempre a tentar-me fazer sentir mal, culpado, inadequado, por ser quem sou e como sou. Prossigo. ‘-Que significa essa merda, de que amamos algo no outro, que nunca logramos conhecer? Que amamos então no outro? Uma ficção? Amas o meu mau hálito, o meu dente cariado, o meu pipo de cerveja, o meu olho mais fechado que o outro, que ronque durante a noite, que me peide quando vou à casa-de-banho? Que caralho quer dizer esse ‘amo-te’? Garantes que vais ficar comigo para todo o sempre, ou apenas até que esse amor acabe? Se acaba, o que é isso do ‘amor’? Um estado emocional, uma declaração de intenções, um excesso de tesão momentânea?’ A sua cara de indignação era mais pela inutilização da utilidade de me ter dito que me amava, que realmente uma adesão indagativa à minha proposta de pensamento. Percebi que era instrumental, era para me convencer de algo, para me modificar ou provocar o comportamento. Estava fodida, porque o fogo-de-artifício em forma de manha, era inactivado por mim. O que lhe exigia mais trabalho, inventando outra forma de chegar ao mesmo objectivo. Enquanto ela falava, eu ia avaliando, sobre quanto tempo demoraria a desistir de mim, na era do desapego fácil, onde tudo o que é difícil é visto como uma perda de tempo de vida, que a vida é demasiado curta. Fazia-me lembrar a Célia, que há uns 10 anos atrás me agarrou na cabeça e disse :’ -Amo-te, mesmo. Muito. João. Muito.’ É do mesmo género de pessoa. Vive num compromisso ontológico pouco analisado por si, como aquelas gajas que têm carteiras, sapatos e smartphones cor-de-rosa ignorando o carácter convencionado na escolha desse pigmento. Agarradas a símbolos e lugares-comuns com que olham para as coisas, o mundo, os outros, e a si mesmas. Geralmente, esta malta tem punhais com punhos rosados e corações estilizados gravados a encarnado. Ou revólveres com smileys em alto relevo preto, e unicórnios infantis com traços neoténicos. Para quando matam os outros, por arma branca ou pirobalística, não terem acesso à canalhice do acto, mais estilizado que pesado a frio. O que interessa são os bons sentimentos, o parecer bem, a estética do assassinato. Há o aparente, reverso da medalha. Tentam convencer que são honestas, frontais e brutas, ‘à gajo’. Que revela bem o que pensam do sexo oposto, e do expectável no campo ético. O tigre não te tenta convencer das suas riscas ou do seu grau de ‘ser tigre’. O tigre é. Já a víbora do Gabão, tem uma cabeça em forma de folha seca, e tenta convencer-te de que o sítio de onde saem as presas venenosas, é o que não é, uma inofensiva folha. Entretanto, quando te apercebes, o veneno foi inoculado, e dás de novo por ti, a morrer, com dúvidas sobre ti mesmo, e o grau de justiça e sopesamento nas tuas acções. Um dos piores tipos de veneno, é esse mesmo ‘-Amo-te.’. Quem ama, ama e cala-se porque não tem de dizer nada. O amor basta-lhe, tem a experiência e vive a mesma na plenitude hedonista de sentir o toque de Deus. À manipuladora não, sente que tudo vale na guerra e no amor. No conforto da grande urbe, no conforto da falta de consequências para as suas acções, gosta de pensar que tudo vale no amor, incluindo o uso abusivo da palavra ‘amor’ para convencer o outro a baixar defesas e anular reservas. Pousa na folha, vá, é só uma mordida, e podes ir morrer longe, que eu te encontrarei, paralisado algures. A Célia, como esta, também fazia love bombing. Tudo o que eu fazia, era fantástico, bonito, genial. Fazia questão de mo dizer. Queria que eu soubesse pela sua boca, que associasse a mesma aos esguichos de dopamina no meu cérebro, e ficasse dependente do seu elogio. Drogadito da sua aprovação, presa neurologicamente condicionada, que tem de fazer habilidades para se sentir bem na sua própria pele. Isto dura apenas enquanto fazemos algum sentido no tal mundo dos pompons cor-de-rosa e perfumes adocicados. É teatro, é ficção. E o pior que lhes posso fazer, que não faço, é explicar que é quase impossível para uma mulher amar com os graus de entrega e devoção de um homem. Porque o amor masculino é idealizado, e o feminino é pragmático. Ah caralho, o que estrebucham com esta ideia, antipática para com a fantasia de unicórnios, acerca da sua natureza evolutiva. És um traumatizado, és alguém que odeia o feminino, e outras tretas do género. Ao que as calo, perguntando, se quando me esquecerem, quantas vezes se lembrarão de mim, com carinho e saudade. Uma ou outra mais parva devolve a pergunta, ao que eu respondo, ‘-Eu nunca te vou esquecer até que morra.’. E depois perguntamos à gaja, mas olha lá, amavas-me tanto, que agora já nem me ligas para saber se estou vivo, afinal o amor ou acabou rápido ou nunca existiu. E ela responde dizendo que era tão intenso, mas que nós, sim, nós ou eu, é que o anulei com as minhas acções exemplificadas em desculpas esfarrapadas que ela arranja em forma de ficção fantasiosa, para justificar a volatilidade, a frivolidade e a estupidez com que age(m). Que é porque não lhe dou a atenção de que precisa, que uso cuecas com buracos das traças, que ronco durante o sono ou limpo a pila ao cortinado de cetim. Desculpas esfarrapadas a servir de razão para a decisão de afastamento tomada a priori. O que faz voltar a questão...o que é o amor, se para o matar, coisinhas de merda como é tudo o que não seja um reverberar das essências das duas pessoas...contribuem para que se extinga? Ou nunca foi amor...pelo menos como entendo que o seja, ou o amor do pipl quotidiano é um amor fast food, insipiente, inodoro, indigente, tépido como vómito nocturno...ou seja, não é amor, mas um impostor que se instalou no seu lugar, para conveniência da plateia. Por isso te digo, muito cuidado com o putedo que fala tão ligeiramente sobre o amor. É tinta de choco, é engodo, é isco. Podemos dividir o mundo em dois tipos de pessoas, as que servem o amor, e as que se servem do amor. As putas do tinder e afins, servem-se dele, para obter a oxitocina. O amor verdadeiro é algo de abissal. Sério e sisudo. Por isso só algumas almas amam a sério. E nesse amor eu acredito. Não no amor de borboleta que nem dura um Verão. E o que mais há são borboletas a dizer a outros que os amam. O sem compromisso tentando comprometer outro. Num seco jogo de equações e cálculos egoístas, travestidos de algo propagandeado como nobre, o nebuloso conceito de ‘amor’. Não, há qualquer coisa de infernal na natureza do vínculo que une e não pode deixar de unir , duas pessoas. Suplanta a individualidade de ambos, sem que lhe possam resistir. Ambos os elementos sabem que deixam de ser donos de si mesmos, e que é continuamente exposta uma jugular emocional aos dentes de outrem. Se a dor psicológica da perda de quem amamos equivale à perda de um braço ou uma perna, é compreensível porque é que quem realmente ama, tem muito cuidado e reservas em relação ao papel de arroz que pisa. É que o mundo está cheio de filhos e filhas da puta peritos em desmembramento. Que se condicionam a si mesmos a não 'amar' a partir de um determinado limite. Controlam o quão longe vão dentro da piscina. Que querem os neurotransmissores aprazíveis, o boost de confiança e amor próprio, mas não querem o lado lunar e perturbador quer da alteridade, quer da diluição da própria individualidade. E chama-se esta malta a si mesma, de 'adultos', quando parecem escolher e tirar à mão, a melhor e mais doce perna de frango, do tacho comunitário. Esta malta é cobarde, e sim, são os verdadeiros habitantes do Inferno. Tu estás só de passagem, como turista masoquista. No jogo do amor hodierno, ganha quem menos se arrebata, e é por isso que é irónico ver malta no tinder e no bumble a dizer que procuram o 'amor'. O amor é um acto de fé na existência do demónio. E por isso só grandes almas são capazes de amar. E pela razão inversa, as que te disseram que te amavam, e agora nem se lembram do teu nome, são menos que pessoas, senão pedaços de paisagem onde prendeste mais demoradamente a tua atenção, nesta tua passagem pelo Inferno. Não, meu caro par de olhos, que por aqui passas, nem toda a gente serve para esta ideia de amor. Literal e em dois sentidos, ou porque têm medo do papão da perda de controlo, ou porque têm medo de andar iludidos e iludidas e perder tempo. Vês, todos nós sabemos que existe esse abismo amoroso implacável e incontrolável. Sabemos que existe pelo menos um indivíduo nesta orbe, que nos afecta profundamente mais que os demais. Que as probabilidades de o encontrar aumentam, à medida que mais o procuramos. O problema, é que todos os indivíduos que nos atraem, participam em maior ou menor grau, nessa perturbação da normalidade. E o tempo passa rápido, pelo que é um risco desperdiçá-lo procurando uma ficção. Os nossos maridos, mulheres, namorados e namoradas, não passam de prémios de consolação ou placebos, dessa ficção que a custo, ocultamos. Até nosso corpo ficar gasto e já não importar para nada. Portanto a escolha, raramente o é. E temos de agir, com a ideia, de que o 'mundo' é feito de encontros e desencontros, e não da fuga ao fim da nossa individuação. Isto para quem tem carácter e coragem. Os cobardes, optam pelo amor fast food. São as pessoas que passam por nós, como se fôssemos pedaços de paisagem do seu próprio Inferno. Compreende-se porque não ligam. Sabem que a maior parte dos gajos interpreta um telefonema como um convite para sexo, e portanto, ligar é alimentar esperanças. Isto é verdade, mas também é uma desculpa que dão a si mesmas, para justificar a capacidade de se tornarem indiferentes ( e até hostis) a quem anteriormente ‘amaram’. E evitam como podem, todas as chapadas de realidade que sejam incongruentes com o que querem acreditar acerca da sua própria natureza. No meu caso, tive que aprender a viver com isso, sem que me revolvesse nas entranhas. Ceder para vencer, e não guardar rancor dentro de mim. E afinal, rancor de que? As relações entre pessoas diferentes são algo de muito complexo, excepto para os parvos. O amor, como bypass da razão, é uma armadilha para os parvos, tinta de choco que visa ocultar a fuga, de quem não percebemos que nos preda. Não é justo, mas lá está, nada o é. É como apostar a dinheiro, quem ganha um sprint nadando entre o Barreiro e Sacavém. Sendo que um dos dois participantes, nós, não tem pernas nem braços, mas por ter pulmões, acha ter hipóteses. ‘-Tu estás mas é traumatizado!’ Pronto, lá vem a mesma carta de sempre. O gaslighting, o convencimento. A análise fria e racional, contra algo anuído por todos, só pode ser desqualificado sob uma capa de viés emocional. Gajas que são cemitérios de pila passada, não tiveram sorte ao amor. Parece que é uma questão de sorte ou azar e não de saber ler e escolher. Sem qualquer tipo de responsabilidade assumida nos próprios erros ou falhas de carácter. Gajos que andem com meia dúzia e optem por não calar as suas observações menos positivas das experiências emocionais, são traumatizados. A mais ampla definição de ‘mulher’ talvez seja a de ‘ente a quem o mundo acontece, se for algo negativo, algo que faz acontecer o mundo, se for algo positivo’. Digo-te, mantém-te calado. A ela digo ‘-Não acredito nisso do amor, se te aparecer alguém que te PAREÇA melhor, fazes o descarte e o upgrade num instante. Afinal o tempo urge e só vivemos uma vez. Se corre mal, foi azar ao amor…ou melhor, os homens são todos de má qualidade…’ E ao dizer isto apercebi-me no esgotado em que me tinha tornado. Gasto, cínico, com incapacidade de fé numa certeza ida, de que existe lugar a algo muito bonito com as gajas do meu tempo. A eterna tautologia que não interiorizo, a verdade não é bonita, e nem sempre te liberta. Mas é a verdade. E Deus não te dá o que queres, mas o que precisas. E o que precisas é de verdade. Como posso eu atrair para a minha vida, pessoas saudáveis, quando eu próprio estou partido? A comunhão de naturezas magoadas, traz malta ainda pior do que eu. Se calhar pelo mesmo motivo que ela, o medo ilusório, de morrer só. Se vamos estar à espera da pessoa certa, podemos morrer sem a encontrar. E lá existem pessoas certas? Não. Até porque o primata interno trata de obliterar essas mariquices de pompom cor-de-rosa. Ao sair de casa dela, numa descida cuja calçada está tão gasta que faz os sapatos derrapar, sou interpelado pelo maluco da zona. São 6 da manhã e o gajo já anda acordado a captar atenção aos transeuntes. Digo-lhe bom dia. ‘-Sabes quem é a tua queridinha? Não sabes não…’ Fico surpreso por ele saber o que ando por ali a fazer, e até incomodado por se meter em algo que considero dizer-me respeito, exclusivamente. Mas o gajo continua sem que eu lhe pergunte o quer que seja: ‘-Há uns anos atrás teve um namorado que a deixou, e que ela queria mesmo, mesmo manter. Pois deixa-me que te diga, é má e orgulhosa. Mexe em rezas e bruxarias e no oculto. Pois bem, consta que fez uma bruxaria tal ao dito rapaz, que ele nunca mais foi o mesmo. Passava os dias aqui sentado na soleira da minha porta a olhar para a porta do prédio dela, e quando ela saía ele rastejava atrás pedindo para voltarem a andar. Ela com um ar de satisfação, seguia, ignorando-o e orgulhosa pela sujeição dele. O Inferno dele durou tanto, e após muitas humilhações, disparou um revólver ali ao pé daquele marco de correio.’ Olhei para a soleira da porta para onde o gajo apontara. De facto era um bom sítio para observar o prédio defronte, com apenas uma tira de alcatrão lisboeta, sem marca de divisão da via, como manda Salomão. Noutro contexto eu não levaria a sério este gajo. Mas eu sabia que a avó dela era brasileira e dada ao sobrenatural, onde recebia dinheiro para fazer o que lá para baixo, chamam de ‘amarração amorosa’. Enquanto o gajo derretia cigarro atrás de cigarro do maço amarelo de ‘Português Suave’, eu meio em choque cogitava sobre o estômago que tem de se ter, para apelar ao ‘sobrenatural’ para castigar anti naturalmente, alguém por quem não se tem real interesse. Detesto esta cultura do tinder e do bumble, onde as pessoas criam personagens de si mesmas, em várias camadas, de acordo com o evoluir das relações. Fingindo idiossincrasias que sirvam de adereço na persona geral, para prender o outro fascinado o tempo necessário para perceber se o querem largar primeiro, ou atingir algum objectivo próprio. Por detrás da personagem, vemos a pessoa verdadeira, a espaços, afundada ou esquecida por detrás do teflon sem sabor, sem carácter de uma personagem televisiva com risos falsos, emoções ocas, e espasmos ressentidos, que a espaços, captamos, se estivermos com atenção. Ficamos com pena, por essa pessoa ter sido de tal forma consumida pela sua dor, que o que resta é só já o invólucro de quem foi…algures no tempo. Certas vezes quando conduzo para casa, perto do local onde recentemente o Papa veio dar uns conselhos à malta, dou comigo a pensar se estarei louco. Analiso da forma mais objectiva que julgo conseguir, as minhas acções, os meus juízos, se decorrem de algum viés pessoal que me impede de ser justo com ‘elas’. Não sei porque é importante para mim ser ‘justo’ com ‘elas. Não existe justiça na natureza, e nem sequer existem ‘elas’, apenas um ‘ela’ de cada vez e à vez. Talvez porque a minha vingança sobre o pouco mundo que me dói, é entendê-lo, entendê-las. Algo que lhes é vedado, porque não têm introspecção, e não têm introspecção porque não têm humildade. E porque não têm humildade, acham-se superiores a mim, porque não valorizo na vida, o que ‘elas’ realmente valorizam. Detesto esta cultura do tinder e do bumble. Rodo gajas a torto e a direito, mas são quase todas destroços humanos, ruínas emocionais que teimam subsistir num pós-guerra qualquer. Sou uma espécie de turista masoquista, que em vez de visitar paisagens bonitas, se entretém a visitar os escombros dos outros, que testemunham remotamente as pessoas que já foram, algures no tempo. Especialmente algumas gajas da minha idade, que mais querem um namorado ou consolo, do que me querem a mim, o indivíduo que sou. Não, fingem querer-me, fingindo interesse, mas com uma ideia clara do quanto trabalho estão dispostas a ter, para me ‘conhecer’, e para ‘manter’. Ao mínimo sinal do que interpretam como ‘desinteresse’, saltam fora da piscina, afinal, ‘cá fora’ é todo um mar que se oferece. Mesmo que entre amigas, porque parece bem, se queixem de que ninguém se esforça, para fazer as coisas ‘resultar’. Anda tudo de barriga, ilusoriamente, cheia. Digo para mim que é compreensível, pois toda a natureza é um contínuo cálculo de gastos energéticos. Mas o meu solipcismo rebela-se com a reificação de mim mesmo às mãos destas traumatizadas de guerra. E concordo, estou realmente louco, procurando no rescaldo de uma batalha, um corpo vivo que viva em tempos de paz. Claro que não, são traumatizadas, e eu mesmo me traumatizo, seja pensando nos dóidóis passados, seja analisando os cadáveres adiados que me convidam para a sua cama. Detesto as gajas do tinder e do bumble, na sua postura de atendimento ao público, olhando para mim como mais um utente ou cliente. Incapazes de me tomar em alto relevo, sob uma multidão anónima de gajos que as comeram e cagaram. E ‘elas’ a eles. Chamam a isso ‘ser adultos’. Reais caralhos me fodam, se o vejo assim. E por isso concordo, estou louco. Desesperadas, fingindo algo para as amigas, algo de desapegado que denota controlo, para poderem ser consideradas válidas, como se a batuta da humanidade hoje em dia fosse pouco mais que uma miragem ou placebo de códigos éticos passados. Tentam afogar o demónio interno com a distracção em forma de mim, seja em sessões de foda em que gradualmente deixo de acreditar, seja no cuidado com que não mergulham de cabeça, para garantirem que saem da piscina secas e quando quiserem. Fingem que mergulham, ah sim, fingem. Mas é só fingimento, é só para que eu mergulhe, para o meio, e elas poderem sair assim que entendem, agarradas ao parapeito aquoso. E depois metem os pés pelas mãos. Completamente inconscientes, voluntariamente ou não, ao dano e impacto das suas acções no outro, se por acaso aparece um ou mais que um, novo pretendente amoroso. Não sabem lidar bem com o excesso anómalo de oferta, e tornam-se arrogantes, de barriga cheia, parecidas com um qualquer indigente que se acha subitamente, com uns trocos no bolso. O amigo que nos apresentara, liga-me a perguntar o que se passara. E eu digo, epá sei lá, estas gajas andam todas maradas da cabeça. Mas depois arrependo-me porque passo a ideia de que sou fácil de assoar, e sem qualquer responsabilidade no cartório. Olha, digo, sou eu que já não tenho paciência para certas merdas, e joguinhos da treta que dizem não jogar. Por algum motivo insistem em subvalorizar-me se não correspondo ao que querem de mim, como se eu fosse algo análogo a uma televisão comandada por um comando…que se avariado, se substitui por um outro comando universal. Não sei se ele percebeu o exemplo atabalhoado que dei, mas sei que anuiu, pois ele bem sabe o quilate do gajedo que por aí anda. Epá, não são todas más, de todo. Nem somos ‘nós’, todos, fáceis de aturar. Mas o gajedo que tem vindo na minha direcção está mais afastado da realidade, que nádegas de gajo homossexual num qualquer fuckfest, com viagra à borla. Não me saía da ideia, o caso do suicida. Liguei extemporaneamente para ela, hostil, sem perceber o meu interesse no caso. Ligou-me um mês depois. Tentando censurar-me por não lhe ligar nenhuma, por ter cessado comunicação, tinta de choco para escapar ao facto e lapso de língua, que aparecera outro na jogada, e que se lançara a ele, e a ela, convencida de que teria de dar menos ao pedal para garantir a certeza e a segurança de o manter. Pois, mas o gajo sabia fingir melhor que eu, e depois de se fartar, cortou a limpo, bloqueando-a e não lhe atendendo chamadas. Voltou pois, a ter-me no horizonte, com a falsa crença de que eu desconhecia quer o que lhe passava atrás dos olhos, quer da forma como agia com os outros. Deixei-a terminar a recriminação, pois ela estava à espera que eu devolvesse as idiotices que fizera, para ceder e pedir desculpa e assim branquear a historieta que achava que eu não sabia. Destesto esta cultura do bumble e do tinder, dá vagina traumatizada mas tudo o resto, é falso, ensaiado, oco e frívolo. A mesma canção repetida vezes sem conta sem algo a diferir senão a interpretação e os arranjos. Monótona e dificultando qualquer ameaço de fé. Mas eu só lhe disse, ‘-Quem joga jogos idiotas, ganha prémios imbecis.’ E desliguei o telefone.
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