Com os joelhos dela encaixados nas minhas axilas, enquanto lhe arrebanhava a carne caduca em torno da anca, para que não caísse do umbral da lareira vitoriana em apartamento de classe média na Amadora, ia escutando a sua sofreguidão atrás do coelho alucinogénio do orgasmo. Por detrás dela, sobre a citada lareira, um espelho serigrafado, ou que raio se chama àquilo, com o porto de Lisboa no século XVII. Por entre as legendas ilegíveis na base da imagem a negro definida, ia vendo as minhas expressões, alteradas pelo movimento do meu próprio cabril, À espera que ela se satisfaça e eu assim garanta mais um encontro, se lhe agradar na cama, por certo não me larga tão cedo, e passa a outro. Nem é pela foda, que sem sentimento, sabe a hambúrguer de palha. É porque aprecio estar com ela, enquanto não revela ser quem é. Já vi, o que se esconde por detrás do isco, por detrás da peça que desempenha porque não está segura se fico ou vou, assim que comece a mostrar realmente como é. Já sei que quando a beijar uma vez a mais, ou a ligar 2 vezes consecutivas, fica achar que me tem presa pelo anzol, e que pode começar a mostrar a sua verdadeira personalidade, primeiro a conta gotas para não espantar a freguesia. De forma que me habitue. Sem por o pézinho na água, isto é, sem se permitir investir o quer que seja de emocional, dizendo às amigas, que sou um engate do tinder, conhecido de uma amiga, o que seja, e nada mais. Gabando os meus feitos sexuais, para provocar inveja nas outras e assim elevar-se delas. Ou o contrário, dizer que não a satisfaço, de forma marialva ou com alguma verve, de forma a fazê-las rir, e comiserarem juntas no sentimento de poder por obrigação, que é fazer dos homens, aqueles tolos básicos e adoráveis, como o Mister Big de ‘O sexo e a cidade’. Finalmente contrai-se como limão espremido por mão invisível, e crava-me as unhas na carne por alturas do clímax. Aguento, irritado, certo de que se não a retira rapidamente, leva uma lambada nos braços. Vá lá, tira e pede desculpa. Tem consciência, e se tem consciência é porque sabe que faz. Porque o faz então? Para me testar, porque eu também a testo e por isso fico a saber como é. Quando lhe disse que ia ter com amigos e não podia ficar com ela depois da meia-noite. Fez um escarcéu. Vendo-me calado, e observador, voltou à ideia de que eu era um eu ainda livre, não comprometido em ficar. Tentou convencer-me que era a desilusão dela, por não poder ficar a noite. Mas não, era por ver que eu tinha vida além dela e não iria ser o pião que a sua corda desenrola para se estatelar no chão. Estão dispostas a desembolsar um x de esforço, que é calculado com exactidão atómica, face ao valor que percebem do gajo. Encosto a testa ao dito espelho, e ambos tentamos recuperar o fôlego, e eu que a pila murche para me poder deitar na cama. Gosto de murchar dentro delas, sentindo-me como flor que adormece ao Ocaso, para não voltar a existir após a polinização. Um olho meu olha para mim, e pareco ver lá dentro algo familiar que não reconheço. Aquela preocupação em tentar perceber de onde vem o azedume. É dos amores falhados? É dos dóidóis que as meninas fazem? O quê? De onde? Eu sei perfeitamente que são como são. Que cada um escolhe para si o que considera ser melhor para a sua vida. Então é porquê? Porque se vão embora deixando-me com a desilusão de ver que afinal, tenho de viver com a imagem real da minha falibilidade? Com a decisão constante e adiada, de ter de decidir quem sou, o que faço e quero da vida? Quando seria tão fácil enganar-me a mim mesmo, convencendo-me que gosto delas, e que o que faço para nada fazer, é por ‘amor’? É porque sei, ou temo, que no final do arco-íris, sei que me vai tratar como o ‘homem médio’? E que por isso vou reviver não só uma crença que tenho de mim, como todos os traumas até hoje, decorrentes dessa crença? Fico chateado então, por me estilhaçarem a ilusão? O homem médio, aquele despojado do encanto de ser excitante para outro, e da beleza irrecusável, é um dos piores defensores destas relações desiguais. Pois aquele que tem os favores da fêmea, interpreta esses favores como uma afirmação do seu valor próprio. A mulher é o premio conquistado, que garante e exibe à tribo alargada, o valor intrínseco. Ele sente-se validado, sente também ter descodificado a cifra do feminino. A cedência de intimidade da fêmea, valida-o como masculino pleno. Duplamente. De si para os outros, quando desfila com a dona pelo braço, de si para si, quando se convence de que o valor da aceitação da ‘sua’ fêmea, tem algo a ver com o sujeito que é. Por isso a malta com namorada ou mulher, tem aquela arrogância latente, ou em caso de se levantar a lebre, aquela militância agressiva para com o portador das más novas. Resta ao homem despojado, compensar noutro campo, para ter a validação e afecto de alguém. Tem de trazer qualquer coisa para a mesa. É um dos grandes logros neste século XXI. O bombear romantismo marreco por via de cultura pop, como canções, indústrias de catering para casamentos e baptizados, ou até noveletas de cordel, que fazem da invenção dos cavaleiros medievais, o amor cortês, a Terra Santa da futilidade. De outro lado da barricada opressiva, o feminismo insufla o paradigma a respirar, o homem tem a responsabilidade de desempenho, em tudo mas essencialmente no agradar à dona, pois só agradada, cede ela os seus favores. Ao mesmo tempo que se reforça em surdina a ideia de um esmagamento histórico, do ser-se mulher, oprimida ou fantástica, consoante a luz que melhor cai. Dizem até, que se olhe para a natureza que anteriormente se negou (que somos todos iguais, sem tirar nem pôr) e se vejam os passarinhos a fazer a corte, ou seja, é natural que o bicho homem se arraste de joelho por 4 pregas de pele. Os filósofos escreveram milhares de livros sobre as mil e uma maneiras de rebentar com as cadeias da sujeição. Poucos versaram esta prisão de veludo rosáceo, em torno diga-se, da naturalidade de a mulher ser o selector sexual do binómio humano. Elevada a déspota a partir do momento em que controla a sua biologia a seu desejo (pílula contraceptiva) e a partir do momento, em que o Estado, cada vez mais efeminado, mete a pata nas relações individuais, forçando quer a reparações pós matrimoniais, quer a pagamentos forçados de uma prole que é tanto dela como dele…o indivíduo. Claro que há muito cabrão que se põe ao fresco abandonando os filhos, mas há muito mais matronas, que usam os tipos como seringas de esperma, para lhes fazer os filhos e ajudar a criá-los, engodados com uma vida familiar longeva, que nunca se chega a concretizar. Há pois, uma situação de desigualdade e menos simbiose entre ambos, e isto é a sociedade ginocêntrica. Lembro-me de uma graçola que costumo fazer, e da forma mais niilista que consigo, agarro no marsápio vermelho de abrasão, e cubro-o com o cortinado grosso verde e branco imitando folhas de palmeira em cornucópia. Olho para ela, esperando pela sua reacção. Ela pergunta: «-Mas que estás a fazer? Tens ali uma toalha.» Ri-se, completamente desarmada, fica séria, sem saber o que pensar. Vejo nas suas feições que altera radicalmente a sua ideia de mim, e que me começa a ver como parolo ou maluco. Já sei que se peço desculpa, me desclassificará, e deixará de ligar às tantas da noite, para a ir comer no Miradouro de Santa Justa, no meio dos miúdos da escola e da faculdade que por ali namoram pelo prazo de uma hora, antes de se irem comer para as residências universitárias. Lembro-me do meu olhar ao espelho. Posso sair por cima, provocando-a a uma reacção onde saio eu, como vencedor moral. Decido que não, isto não me faz feliz, andar a comer gajas, só para não estar quieto. Muito menos provocá-las a mostrar o pior que têm de si. Visto o hoodie, perante o seu olhar incrédulo e peço desculpa, quando fecho a porta.
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