Olhava para as minhas mãos enquanto a ressaca da adrenalina me deixava naquele fosso de desamparo, duvidando se tinha feito bem, se não seria melhor ter-me calado e esperado uma hora inteira por causa de um papel. Que às vezes temos de desviar o olhar de quem nos olha fixamente no autocarro, ou no comboio ou no metro, porque senão cria-se uma situação de tensão com desafios de parte a parte, e os mitras todos acham que porque a vida foi madrasta com eles, todos os que encontram à frente merecem um correctivo comportamental, pois só assim recebem respeito por parte do gajo a quem se habituaram a espancar. Na esquadra, os polícias passavam à minha frente, de volta e meia olhando para o banco onde estava eu, a morenaça pequenina, e os dois cavaleiros brancos que me agrediram. Um tinha a cabeça envolvida em gaze e o outro tinha tirado duas latas de sumol da máquina de vending, para meter no joelho a ver se aliviava a dor. O agente que presenciara tudo, estava do outro lado do guichet, em amena cavaqueira com os colegas, alguns conhecidos dele, de operações conjuntas. Os insultos e ameaças dos dois estarolas, haviam parado, porque eu não respondia e porque o graduado de serviço lhes havia avisado que não eram toleradas ameaças dentro da esquadra. Ela, virada para mim, com os joelhos encostados um ao outro, olhava-me a ver se eu retribuía o olhar, para poder iniciar uma conversa. Não sei se era para eu não apresentar queixa se para outro tipo de merdas. O agente que testemunhou tudo, vem ao pé de mim e pede-me que o acompanhe. Ao passarmos em frente aos dois agressores secundários, o maior, levanta-se e diz : «-Pensa bem no que vais dizer. Conselho de amigo.» Respondi, chegando-me mais ao pé dele, com o agente incapaz de me impedir a marcha agarrando-me o braço, e olhando-o nos olhos «-Infelizmente só tens uma cabeça e está em mau estado, precisas que te relembre como ficou assim?». Olhou para os seus pés, como que lembrando que para ele também era novidade ter a cabeça enfaixada como islamita no deserto, algumas expressões que lhe adivinhei na cara revelavam que o efeito do analgésico se esfumava, e olhando o seu parceiro, que também desviou o olhar, percebi que a sua coragem era feita de armas brancas, que sem elas era apenas um farrapo humano que amaldiçoava a vida no geral, pelo mau começo da sua própria. Prestadas as declarações e respondendo afirmativamente a se queria ir para a frente com a queixa, deixei a esquadra, sendo chamado novamente para trás por causa de uma formalidade. Aguardar no banco ao lado dos outros 3. O meu ânimo estava prestes a soçobrar quando o Beethoven se faz ouvir, era o meu telefone. Pedro de novo. Devia ser grave. Não gosto de falar para que outros oiçam, mas começando a chover, tinha de ficar dentro da esquadra e falar alto por cima da máscara que me cobria a boca. Diz Pedro, então como estás. «-Ela saiu de casa, não sei o que fazer.» «-Saiu de casa então, que se passou?» «Conheceu um colega no trabalho, já te havia contado.» O Pedro era um tipo porreiro e capaz, cuja falha essencial era o ter tido a sorte ou o azar de ter tido um pai que em certa altura, por ter tido uma falha nos travões do seu Renault 5, atropelou e matou uma adolescente de 13 anos. A família suburbana de 3 elementos, que tinha algum desafogo financeiro, viu-se assim perante uma ruptura do seu tecido de vida, menos grave que a família da miúda que decidira atravessar a estrada antes de uma curva em cotovelo, num sítio sem passadeiras. Testemunhas no local haviam visto e testemunhado que o homem não vinha a mais de 50 quilómetros por hora. Pagou uma indemnização à família da pobre rapariga, mas o remorso e a culpa fizeram o favor de o envenenar, corrompendo-lhe a alma outrora altiva. Começou a beber, e o Pedro ainda novo, começou a ver o pai entrar numa espiral descendente, que culminava com sessões de pancadaria e apagar cigarros na pele do rapaz, como que amaldiçoando o filho próprio como Abraão por esse estar vivo, em contraposição com o espectro da miúda que lhe povoava os sonhos. Pedro começou a ser alvo de todo o negrume paterno, desde gozo, ameaças de expulsão de casa ou de condenação a destinos atávicos. Pálidas agressões incomparáveis com as motivadas pela embriaguez. Pedro não entendia como podia ser de tal forma renegado e até odiado pelo próprio pai, e passou a rejeitar tudo o que fosse masculino e a sobreidentificar-se com o feminino. Eventualmente, uma cirrose hepática forçou o pai a uma cama de hospital, e nos últimos meses não havia visita em que o pai não chorasse pedindo perdão ao miúdo. Morreu no aniversário do incêndio do Chiado, sozinho numa cama de hospital, consumido pelas chamas de uma condenação existencial a que a sua casa moral não conseguira dar a volta. O Pedro, a sós com a mãe, foi seguindo a sua vida, mas com as sequelas invisíveis e eternas no seu espírito. Em conversas com muita gente, permanece sempre numa autovigilância do seu comportamento, para adequar a sanidade das suas acções e palavras, traumatizado com a suposta loucura do pai, não lhe querendo seguir o mesmo caminho. Apesar da arrogância intelectual em tudo o que é concreto e lógico, no cálculo de tensões e na programação de circuitos, em relação ás relações humanas não tem a confiança para perceber que o método não é o mesmo, oscilando entre uma análise demasiado lógica e um completo desespero de não entendimento, especialmente em relação às gajas. «-Eu lembro-me Pedro, eu lembro-me. Mas ela tinha dito que iam tentar fazer com que isso resultasse. Que aconteceu?» Eu já sabia o que tinha acontecido. O borracho lá do trabalho, a pretexto de divulgar um evento de wine tasting a um amigo, ‘por engano’ enviou uma mensagem por whatsapp para ela, abrindo assim o caminho para a escalada de intimidade. Inundava o seu perfil de Facebook com mensagens positivas e de apelo a não desistir e perseguir os seus sonhos. Fingia habilmente ser extremamente bem disposto e positivo, que é isso que as tipas gostam. No fundo era um boçal bem vestido, ora o Pedro, idealista como era, nunca poderia competir. A fêmea, tal como todas as outras do reino animal, olha para a plumagem para aferir a qualidade do macho, a idealidade do Pedro que o forçava a andar de Ford Fiesta de 1994 com um motor dc que ele próprio montara e configurara, não podia competir com o Mercedes híbrido do engenheiro das vendas, colega de trabalho da namorada de Pedro. Havia apostado com colegas que em menos de um mês traçaria a nova gaja do escritório, e ao fim de duas semanas, todas as equações haviam sido resolvidas na cabeça dela, processando-se – de acordo – a concretização do corte psicológico entre ela e ele, sem que ele soubesse. Nos restaurantes e em jantares de amigos, ela pouco mais ficava que calada olhando para ele procurando todos os defeitos que pudesse encontrar, para se convencer a si mesma. Às amigas, fazia cara de infeliz, para que pudessem puxar assunto e desabafar que achava que já não gostava de Pedro. As amigas, que até então tinham de dividir o seu tempo com ele, viram uma oportunidade de a terem só para si em relações de co dependência onde celebravam a sua fútil feminilidade e por vezes, a perniciosidade dos homens. O grupo de amigas era composto por uma que encornava o marido, e chegando a casa envergava cara de enterro dizendo que não era feliz, mas não o largava porque o amante era casado e porque a casa era comum. Então passava o ónus da sua traição para o marido, dizendo que ele tinha de fazer mais para que a relação de ambos resultasse. O sujeito, lá se esforçava, tinha sido educado na ideia de que as mulheres são feitas de veludo e os homens de lixa, e portanto, ela só podia ter razão. Espremida a sua cabeça, nem meia ideia própria saía, tudo o que dizia era de uma indigência e frivolidade incrível, só disfarçadas pela autoridade com que o dizia, era um dínamo de mediocridade, para as restantes, já de si medíocres. Outra, habituada a ter todas as atenções enquanto o seu corpo lho permitira, não se conseguia desligar da dose. Outrora, convidada para matinés no Dubai, onde executivos de topo lhe pagavam o bilhete de avião, provava agora o amargo sabor do anonimato, quem lhe prestava atenção agora, eram os rebarbados de café, ou os coleccionadores de troféus. Sim, ainda conseguia chegar a uma parede, pontapeá-la e caíam 5 ou 6 pilas, mas a qualidade do que vinha atrás das pilas, começava a decrescer. Nos restaurantes falava alto e cada vez usava roupa mais vistosa, como placebo de uma atenção que se desvanecia como o Sol no horizonte de uma tarde. Quando o corpo não reflectia os Invernos passados, passava de homem em homem como macaco de liana em liana, num alegre borboletar em que a vida é jovem e plena de surpresas. A conta virá no fim, temos de nos entregar ao prazer e à celebração da nossa individualidade que a paixão que provocamos nos gajos nos dá. Saber que este cortaria o coração por nós, que aquele nos escrevia poemas, oh, tantos por onde escolher, mas o melhor será o próximo, sempre adiado porque o meu passado me confirma que sou especial, não tivesse eu provocado tanta atenção e paixão. Não, sou um ser especial na biosfera, e mereço o melhor e o melhor está por vir. O chefe de todos aqueles executivos de topo, o mais hipertrofiado de gajos de ginásio, o mais imbecil bem vestido que mostre que roupa supera ideias. O carrossel de pilas não pára, só vai abrandando, há sempre alguém a notar em nós, quem sabe se mudando não faço um melhor negócio, afinal vim à vida para ser feliz e quero ser considerada por mim, sabendo perfeitamente que só me querem pelo invólucro. Mas eu mereço o melhor, sem qualquer esforço contemplativo pela análise das minhas motivações. Liberal sexualmente em relação à minha sexualidade, mas criticando os namorados das amigas que dormem com outras. Uma outra amiga, gorda, disfarça as banhas com vestidos largos, e compensa a falta de vontade em exercitar-se com desenvolvimento de dotes fotográficos impressionantes, quando bastaria perceber que come como forma de amenizar os complexos que tem em relação aos sucessivos abandonos a que é votada. Custa mais perceber que a largam porque tem um feitio de merda, que passar à próxima ilusão de felicidade que um novo amor promete. É sempre a mesma dinâmica, para a fogueira o que não me serve, para que eu não me possa ver no escuro e verificar que quem sou não tem brilho. Nas redes sociais e na competição que sempre existe no grupo de ‘amigas’ mostra dotes de tudo e mais alguma coisa, competem entre elas para ver quem apresenta os melhores troféus, quem capta mais atenções na discoteca, quem tem a ‘sensibilidade’ feminina mais apurada. Se por acaso um dos namorados cumpre alguns pontos da checklist, defendem-no em relação a tudo, se outro melhor surge nas imediações, desvalorizam-no como objecto a descartar, não merecedor de reciclagem. «- João, estou a sofrer.» «-Já estavas Pedro, quantas vezes não me disseste que pensavas em tirar a tua própria vida. Eu disse-te para largares a gaja, não foste capaz porque estavas apegado a ela emocionalmente ou talvez porque tens tão pouca auto-estima que achavas que não conseguias arranjar melhor. O estares mal agora apenas tem a ver que centraste toda a tua vida, numa codependência com aquela pessoa. Ela indo-se é a tua vida que vai também. Por isso o desespero. Deixa, ela é como um helicóptero desgovernado, vai cair algures, alegra-te por não ser em cima de ti. Pela primeira vez está a contemplar a sua própria mortalidade, e que o tempo dela já passou. Enquanto o aspecto dá, são incapazes de introspecção e de se conhecerem a si mesmas como indivíduos, quando deixa de dar, são incapazes do mea culpa libertador porque o diabo seja cego surdo e mudo se alguma vez se podem dar ao luxo de admitir que cometeram erros. Não, há que projectar culpas para longe de si, saem sempre limpas no fim. Ah meti os cornos ao namorado porque não era feliz. Matei-lhe o peixe de estimação porque limpou a pila ao cortinado. Desapareci sem satisfação da vida de alguém porque era melhor assim. Nunca a culpa é suposta, quanto mais assumida. Tu, Pedro, és um de muitos que se deixa consumir por esta ideia de amor fusional em que o masculino tem como definição agradar e aplacar o feminino. A ideia de amor Disney em que dois cachorros chupam esparguete do mesmo prato. Elas são as verdadeiras pragmáticas. Tu olhas para um problema, para a ponte a fazer sobre o rio, sobre a forma de caçar a gazela, e tens de ser o idealista que imagina ou sonha com a solução. Os homens são idealistas que se gostam de ver como pragmáticos e as mulheres as pragmáticas que se mascaram de idealistas. Nada há de místico na sensibilidade ou intuição feminina. Uma gaja senta-se comigo à mesa e consigo ver os seus olhares em relação à cor dos meus sapatos, se combinam com o casaco, se a sola é demasiado grossa, se os sapatos são de valor. Consigo perceber na conversa se afere quais as minhas opções sexuais, se tenho uma vida sexual de abundância ou se sou um rebarbado condenado a focar a minha atenção apenas numa, porque mais ninguém me deseja.» «-Foda-se João, odeias as mulheres.» «-Não, não odeio ninguém, odeio esta mentalidade Disney, que traz infelicidade a gajos e gajas. Mas a elas dá o valor supremo de decidirem com quem fodem e com quem têm filhos. Afinal é o corpo delas, o útero e o pito. Mas depois exigem que outros, os homens, sejam obrigados a partilhar. Afinal o corpo é delas, mas a carga genética do homem só vê a luz do dia, se ela deixar. Se ela deitar fora o corpo era dela, se ela decidir ter a criança, aí a responsabilidade já é dele também. Odeio é o duplo critério, isso é que odeio, e não é de agora, é desde criança. Nos jogos de futebol no recreio, tínhamos de deixar as meninas jogar connosco, e alterar as regras do jogo. Tínhamos de ser meigos para elas, afinal os rapazes podem e devem tudo, podem sofrer que não morrem, podem ser destroçados emocionalmente porque são descartáveis. Andam aí putas que semeiam o caos e a destruição emocional, destroçando homem após homem, mas só nos ralamos com o bullying em relação às crianças. Um gajo que seja um cabrão é um gajo que não respeita a sociedade, uma mulher de igual têmpera, alguém com carácter vincado. Passam pelos buracos da chuva.» Percebi que o ar de desespero que ouvia na voz de Pedro, me deixava a mim desamparado, não podendo ajudar mais do que com palavras, o meu amigo neste momento. «-Eu não odeio as mulheres Pedro, odeio é as feministas.» «-Por acaso uma amiga dela no trabalho é feminista… E desde que se começaram a dar mais, foi quando ela começou a dar-me mais para trás.» «-Essas putas, para elas a revolução é um trabalho sempre adiado. A partir do dia em que digam que as mulheres têm o mesmo poder, ou influência dos homens, deixam de poder dizer de si mesmas que são as bem intencionadas feministas que lutam pelo bem da sociedade. Deixam de poder inflacionar o valor da mulher, isto não é uma luta pela igualdade, mas pelo anulamento do valor do homem, quanto mais baixo cada homem valer no mercado sexual, mais escolhas tem a gaja na pool de pilas disponível. E como dizem umas às outras que cada uma merece o universo e os arredores, não se contentam com a mentalidade de passo atrás, já que não vem o Jason Momoa, venha o Joaquim Mendes, que é talhante ali no bairro. Preferem morrer sozinhas a copular com um homem que consideram inferior, por criação de espectativas irrealistas. O mercado sexual é mundial, como podes concorrer tu, com o executivo de topo bronze de solário e cuecas de seda genuína, que a convida para o Dubai, a ela como a uma camponesa da Ucrânia que tenha smartphone e Instagram. Não podes concorrer com isto. O teu problema agora vai ser a raiva, eventualmente vais perceber que tens estado a viver uma fantasia condicionada pela sociedade, que faz da mulher – o maior predador de recursos, do planeta – o prémio da existência de um homem. E já agora, deixa-me que te diga, não gosto quando dizem que isto é ódio, é apenas querer entender. Detesto que se possa criticar os homens, que são isto e aquilo, mas quando se diz algo menos agradável em relação ao sexo oposto, tal só pode ser expressão de sentimentos negativos ou trauma emocional, parafraseando alguém que não Voltaire, sabemos quem nos controla quando sabemos quem não podemos criticar. Se defendo que as mulheres se condenem a ficar com homens que não desejam? Não, de todo. Devem fazer e acontecer de acordo com a sua liberdade, o seu corpo, isso não me diz nada nem me interessa. Quero é que deixem de criar os rapazes como raparigas defeituosas e deixem de condicionar toda uma cultura a sobrevalorizar a relação amorosa. Ensinem os gajos a ser menos dependentes das gajas. Uma gaja largou-te, bom para ti. Só estás assim, porque achas que não existem outros 3 biliões de portadores de vulva, com quem te possas envolver. Tu próprio te queixavas que ela não tinha vida própria, não tinha passatempos ou aspirações que não receber o ordenado ao fim do mês para comprar roupa e cosmética com os quais aguça as suas armas, mostrando às outras que tem ascendente sobre os homens e assim subindo nas hierarquias cor de rosa. Se só trazia para a mesa o sexo que te rala a ti?» «-Foi a forma como me tratou João, não pensei que merecesse e que ela fosse capaz.» «-Pedro, ela perdeu-te completamente o respeito a partir do momento em que se considerou melhor que tu. Só nos filmes é que elas se apaixonam por gajos abaixo do seu nível, percebido. No fundo revelou a sua personalidade, porque lamentas perder uma pessoa assim. Manteve-se contigo até perceber que podia dar o salto. Elas não são más, do ponto de vista natural é assim mesmo, querem o melhor macho, portador da melhor carga genética, que conseguem encontrar. Isto é que tem de ser espalhado, os gajos têm de interiorizar isto. Não existe espiritualidade além desta dinâmica, meios e afluência, a forma como as fazes sentir, nada mais. Almas gémeas e merdas semelhantes são apenas fantasias para desequilibrar o jogo. Tudo é sobre sexo, menos o sexo, que é sobre o poder. Achas mesmo que se um gajo não ficasse parvo e paneleiro dos olhos, na savana, se metia à frente do tigre dentes de sabre, por causa de uma gaja? Ó ala que se faz tarde. Criar os homens a acalentar a ideia de ligação amorosa como expressão fusional, romantizada, é o mesmo que os meter num duelo, armados de fisga, onde do outro lado a mulher está armada de bombarda com baioneta. Além da relatividade de ser injusto, é patético. Assim a Natureza solta-lhe um cocktail cerebral de neurotransmissores a que ele chamou enfatuação, mais tarde chamaram-lhe amor cortês e a Disney transformou-o em amor fusional. Quantas vezes não fui apanhado a chupar uma mama de gaja, feliz por estar ali, e dou com ela a olhar para mim, como que a analisar-me e às forças em jogo dentro de mim? Elas próprias sabem que o mito do amor fusional são úteis para os objectivos delas. A partir do momento em que copulas com uma, só o toque das peles, criam o ambiente químico no teu corpo para te ligares a uma, vê lá se a turca que me quis traçar, não insistiu assim do nada para irmos para um quarto de hotel?! Ela sabia perfeitamente, que após a primeira cópula, a minha nega enfraqueceria, porque ganharia sentimentos, e aqui tens a resposta, o homem tem de ir contra a sua própria biologia se não quer ser trucidado pelas cabras bípedes que por aí andam, e não pode esperar delas que o amem como ele ama a elas, idealmente. Claro que nem todas as mulheres são más, isto nem se trata de bem ou de mal, mas de equilíbrio. A minha filha, a minha mãe, as minhas primas e tias, as minhas amigas, amo-as a todas. E elas a mim, mas não há confronto de interesses entre nós, que ocorre quando existem interesses sexuais, entre mim e outra mulher. Ela quer o meu compromisso e saber que sou o melhor que ela consegue arranjar com o que a genética lhe deu, e eu só quero uma gaja que não seja tosca para os olhos, e que me dê garantias mínimas de que a procriar é a minha carga genética com que ela se compromete e não a de outro.» O silêncio dele fez-me ver que eu estava a falar de mais. «-Não consigo falar assim, nem concordo, se queres que te diga.» «-Claro que não concordas Pedro, passaste uma vida inteira a acreditar e a investir a tua auto imagem e energia nervosa, em crenças que reforçam a sacralidade da mulher, da mulher que também caga, mija, vomita, cospe, tem falhas de carácter, tal como nós. A aparência ora frágil ora empoderada, a cosmética, as roupas de vários formatos e cores, a imposição de uma crença sobre a suposta intuição feminina, o aparelho educativo povoado de mulheres condicionou os homens a procurarem sempre a aprovação feminina. Tudo o que eu te esteja agora a dizer, tu vês como grotescto e quase um ataque a ti mesmo, porque às tuas crenças. Eu percebo. Eu via-te com a tua namorada nos jantares de amigos, tinhas aquela confiança indisfarçável de que tinhas acertado na fórmula de captar e manter uma gaja, tinhas resolvido o problema reprodutivo, que é afinal o não ter útero, e dependeres de outro para procriar. Olhavas para os solteiros como se tivessem algo de menor em si, o ter uma mulher bonita ao lado traz um conforto existencial, que emana dessa resolução ilusória do problema da mortalidade. Eras um cagão mitigado, e agora, é como se caísses no grupo de falhados, como tu próprio os avaliavas, para te sentires melhor contigo mesmo. Esquece-a. Vai andar de mão em mão, e nunca deves receber quem te vê como acessório. Não te vingues, caga para ela, resolve a tua cabeça.» O silêncio à minha volta fez-me olhar para trás. Oito olhos me olhavam fixamente. Podes ir para casa, disse-me um orifício debaixo de um par desses olhos. Ouviram tudo o que eu estava a dizer. Quero lá saber. Saio dali rapidamente, e digo ao Pedro, para não fazer nada permanente para algo temporário, e que mais logo vou ter com ele para bebermos umas cervejas. Ele concorda. Desligo o telefone e um número desconhecido fá-lo tocar de novo. Quem será, pergunto-me ao atender. «-Olá, boa tarde, sou eu, a Anabela.» «-Qual Anabela?» «- A Anabela Gouveia, saiu agora aqui da esquadra, e eu fiquei com um cartão que ficou esquecido perto do guichet onde foi agredido, estava no meio dos cacos e como era branco, não o deve ter visto e deixou-o lá…» «-Está a ligar-me para quê?» «-Eu gostava de pedir descul…» «-Fale com a polícia, isto vai para tribunal, por causa de si parti a cabeça a um e devo ter deslocado o joelho a outro. Além do mais você agrediu-me, não me volte a ligar.» «-Desculpe, a sério, estou arrependida, eu não procedi bem, peço desculpa!» «-Está desculpada, não me importune mais.» «-Espere, eu gostava de falar consigo, para pedir desculpas pessoalmente.» «-Agora não posso falar, falamos depois.» Gosto sempre de adiar a cisão, prometendo união futura, como fazem algumas gajas. Acalma o que solicita o imediato. Numa espécie de choque ia cogitando, que lata, que é que esta gaja quer, foda-se. Enquanto me deixava engolir pela boca subterrânea que me levava ao metro que estava perto do meu carro, ia lembrando o quão jeitosa e bonita era afinal a pequena morenaça que me esbofeteara.
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