Já sei, já sei.
Um anjo visitou-me no sono e me disse que não devo temer. Choro quando me embebedo porque é quando solto os grilhões racionais que no limpo campo que então se me apresenta, mostram que não sou rasteiro como a relva onde a malta leva os cães a cagar nos jardins públicos, mas sombrio como as florestas escuras no leste da Alemanha. Foda-se o peso que me saiu de cima. Por intuição percebi que o conas afinal é uma peça de teatro que represento por figura do meu alter ego, de forma a convencer-me a permanecer vivo e activo. Que significa então essa sabedoria fatal nietzscheana que me revela o mundo como um exagerado logro que componho só para permanecer vivo e engatado? Os movimentos de sua cabeça correspondem a sensações na minha zona do baixo ventre, não é a mais hábil, mas lá por isso é esforçada, tenho a pila murcha mas nem por isso percebe que não é apenas por fricção mecânica que vamos ser felizes um com o outro. Trouxe o jipe aqui para a serra e a lua minguante está de acordo com o meu Gervásio. A minha namorada é melhor que ela, se bem que com menos espírito, mais monhofonha. Sei que amanhã vou andar com remorsos, a pensar que a minha namorada não merece, nem os pais ou família dela com quem me sento ao Domingo para comunhar na unidade sagrada de primata. Juro que não quero desiludir a Célia que me chupa o falo como forma de me convencer que sabe foder e tem desejo por mim. Mais mais ainda falo com os meus botões e lhes digo que nenhuma mulher contará ao mundo que eu, a deixei a anhar. Ordeno ao lá de baixo que se erga, e torno-me mau para merecer a erecção. Concentro-me nos pormenores que me podem excitar e bloqueio todos os que me tiram tesão, o formato dos pés, as unhas mal urdidas, os pés mal feitos ou as mamas disformes. A cara envelhecida, o corpo semi decadente, o espírito semi carcomido. Carne é carne e macacos me mordam se esta gaja não vai levar algo daqui. Faço questão de lhe mostrar que o índice de gordura corporal está dentro dos limites em meu corpo e a cada investida a cabeça dela bate na janela do carro, enquanto raposas e texugos passeiam na várzea de Loures. É tão fácil ser homem…conhecem alguma gaja que não lubrificando, se diga dela que não é gaja suficiente? Pois. Alguma gaja foi contigo compreensiva, por lhe teres negado fogo, por algum motivo por lhe teres não dado prazer? Pois. Que te diz ela? Que quer pichinha, que és um frouxo, porque só a tua combustão como cinza ao vento, permite que ela sai voando como traça pela vereda da noite. Se tu fores o frouxo, nunca será ela a gaja incapaz de te dar tesão. Continua a chupar-me, penso que agora é só uma prova de teimosia. Começo a chorar olhando o vidro embaciado. Por causa das pequenas peças de puzzle que me mostram o que seja a condição humana. Sinto a língua dela tornear o prepúcio, e até cospe – vejam lá- para o falo, acompanhando com um movimento da mão. Ui, luxo, ternura. Afago-lhe o cabelo, e passo a mão pelo rosto para que pense que há carinho de agradecimento pelo fluxo eléctrico de prazer interpretado pelo meu cérebro, à conta da sua estimulação mecânica. Ali anda ela de volta da minha pila com a sua boa vontade, e eu a chorar copiosamente por causa das dores do mundo. Lembro-me de Salamina, dos que morreram no mar, sacrificando a sua vida não apenas por liberdade, mas pelas gajas que estão em casa com os filhos. Foda-se, quem se lembra de Salamina a meio de um broche? Porque penso em merdas depressivas em cada acto de karaté alentejano? Porque o sexo é a forma como me distraio da demasiada lucidez que julgo ter. Foda-se. Fico embevecido…demasiada lucidez, eu? Mas não consigo dar-me algum tipo de valor ou crédito? E porque não? Não existem pessoas que logo á primeira percebem o quer que seja? Porque não será toda a minha vida uma fuga à relatividade da existência, que aprendi de antemão? Duas coisas, a minha voz interior negativa, sempre pensando que o outro é melhor que eu, e uma instância superior a mim me dizendo que é melhor fechar os olhos para descansar de tanta luz. Mas que de tão grave me faz chorar? Morreu alguém? Em concreto não, mas vamos morrendo. Ela de joelho com os mesmos no chão do carro onde já tantas outras estiveram antes, tentando mostrar que dá o litro e que a devo tomar regularmente. Eu, presa desta natureza de fornicador, nós por irmos morrendo aos poucos, presas de uma maior estranheza em relação a tudo. Os do passado que morreram mortes violentas, e os do presente que nem sabem porque morrem. Não vou deixar que se sinta mal consigo mesma, e beijo-a, sabe a pila, imagine-se porquê. Ao beijar volta a tesão e virando-a de costas, espeto-lhe uma palmada na nádega esquerda, que fica lá marcada a mão. Só me lembro da palavra «arrêté».
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