Esgrimia com a mão, para a frente e para trás, arrebanhando o meu prepúcio como se fosse um microfone a quem contamos a vida. Assumia cara de puta e falava para ele como se outra pessoa que não eu estivesse no quarto. Cara de puta é como quem diz, cara de mulher desejosa de sexo além de planos congeminados para obter algo da interacção que não a interacção. Porra, tenho de largar a cerveja, bebo demais e o meu eu ébrio mete-me nestes cambalachos que depois por teimosia interna levo até ao fim. Continuava com o maquinal vaivém manual a ver se eu me satisfazia como labrego no cio, e me agarrava a ela pleno de satisfação, cansaço e alívio de a ter encontrado como paliativo de um desejo jabardão que é sinónimo de liberdade. Mal ou bem já tenho uns anos desta merda e cheiro agenda a léguas e braças e o que seja. Estive para lhe dar uma bofetada como aparece nos filmes, mas o meu eu maior disse-me que não, não era aquele o meu estilo. Apenas a avisei de que sou insaciável e amanhã ia estar assada. Fez-me prometer que cumpria a promessa. Ok amiga, foste avisada. Passadas 6 horas, e não 24, já me estava com a conversa costumeira, de onde vamos daqui, e quero passear contigo de mão dada numa praia do Pacífico à luz do Sol poente. Arrotei o caldo verde e a cerveja que lhe meti por cima e disse-lhe com as minhas mãos afagando o seu rosto, que não entrasse por esse registo que eu não ia ter nada com ela. Entrega-te ao momento que é o que temos. Não faço parte do teu, ou de ninguém, puzzle. Tal como quem observa uma puta de uma traça que sabemos que andou a roer o nosso melhor casaco, assim observava eu aquela alma tentando dar à bomba de um qualquer navio já naufragado, para me convencer da pureza das suas intenções. Com tanta observação e introspecção perdi a tesão e puxei-a para mim, abraçando-a. A boca cheirava a pila no seu esforço teimoso de convencimento. Então não estás a gostar, e não sei quê, ainda fingindo um esforço de querer ir para baixo completar o serviço. Não a deixei, e a apertei contra mim, deixando cair o meu queixo nos seus cabelos, e adormecendo no embalo do seu aroma. Tentou mexer-se, quero que te venhas, e eu disse, como quem quero e venho-me quando quero, e tudo está sujeito à minha vontade. Talvez tenha acreditado, pois ficou quieta e abraçou-me também. Senti como estava e verifiquei que estava seca. Eu disse-lhe: «-Chora para a mão que já dá para ficares molhada.» Só eu sei que foder é a melhor maneira de fugir ao desgosto. Ela acedeu, iniciando um pranto em que as exalações orais de desespero me provocaram constrangimento. Abracei-a o melhor que pude e a aflição passou dos seus monossílabos para mim, e fui forçado a perguntar o porquê de tal desamparo. «-Ó João então não vês que o meu tempo já passou…» Tinha razão, ainda aprazível à vista, era contudo um sarcófago onde mais ninguém queria passar mais que uma noite. Tão enganada como eu. Eu na validade suprema do amor enquanto um bem por si mesmo, ela, de que o Verão interminável se perpetuaria além dos quarenta anos. Lamento por ti, mas devo perguntar, onde estavas tu com a cabeça. Convenceram-te que o poder e a sexualidade não têm prazo, mas tu aceitaste e decidiste jogar na roleta russa. Quem assume a responsabilidade? É melhor para ti assacares as culpas aos que em ti pernoitaram? Acaso escolheste algum como morada duradoira? Tanto empoderamento e afinal não assumes a responsabilidade de nada? Ou viveste como se não houvesse amanhã, como se não tivesses de prestar contas a ti mesma, no ocaso da tua vida? Afinal não sou o único que foge. Que se entrega de má consciência enganando-se a si mesmo, às paixonites com pouco significado, para poder suportar o significado de uma existência insuportável, do ponto de vista da lucidez. A arte da fuga era mais fácil nela, e como tudo tem um preço, ela pouco ou nada sabia do que fosse introspecção. Não sabia lidar consigo, falar consigo, avaliar as suas decisões e motivações. O seu âmago era o gemüt kantiano, qual cachorro que persegue o vestígio da sua causa sem saber ao certo o que percebe. Acordo noites sem conta, para lembrar que o sonho que estava a ter era com ela, o meu corpo repugnado embala para a vigília, a minha alma de tão impregnada dela, não consegue arrumar os contornos do seu rosto nos corredores das memórias esquecidas. Como agora. Acordei e vi o Sol poente lá fora. O Céu está laranja, e o alaranjado provoca-me uma nostalgia de desenraizamento, fora de mim, do meu tempo, comovido por uma visão do tempo de existência totalmente liberta de si mesma. Vejo o anedótico da nossa condição, o sem sentido, e não posso senão jogar-me nos braços da comatose por vias do sexo. Depois de chorar adormeceu. Começo a brincar com a mão no meio do rabo virado para mim, e em breve uma área com maior calor e humidade parece ganhar vida própria. Ainda meio a dormir vira-se para mim e retribuindo o favor exala murmúrios que logo de seguida afoga com vergonha de cheirar mal da boca. Mas no fundo não era isto que eu queria. Não gosto de sentir que fujo. Mas não me sinto em casa ao pé dela. Não pertenço aqui.
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