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​As gajas das (es)c(a)usas  I de III

26/10/2020

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I
Acho graça a esta expressão.
Na falta de melhor, serve. Gaja das causas. Gaja das escusas. Gaja das desculpas.
As nádegas da Rosalinda batem com força em meu baixo ventre em mais uma sessão de coitus a tergo na casa dela, que ela gosta de marcar para as 6as feira.
 
 

Trato-lhe da saúde pélvica enquanto não aparece um prospecto mais de acordo com os seus critérios ou planos de vida.
Para justificar o facto de gostar de mim na cama, acha que me dá o biscoito quando promete de forma sempre adiada uma possibilidade remota e futura de namoro, se os astros se conjugarem e se eu jogar as minhas cartas correctamente. Ela julga que é isso que eu quero.


 
 
Nitidamente pensa que sou mais um rebarbado que precisa de uma relação com outra pessoa, para se validar. Com uma mulher, bonita. Como se aceitação que vem da imagem de um par de pernas abertas, ou de levar uma mulher atraente pelo braço para que outros vejam que somos desejáveis, fosse uma necessidade minha.
É a lógica dela, muito comum, até, mesmo para pessoas que consideras evoluídas e sofisticadas mentalmente. Ah macacos retirados da savana, mas a savana não sai deles.


Rosalinda vê-me como o panhonha que vem quando ela chama, e promete, também para justificar para si, a inconsequência desejada dos seus actos. Uma outra também pagou uma onça de carne com uns livros e dvd’s, é o preço da sua consciência. Tipo, toma lá, serviste o teu propósito no meu esquema de coisas, não digas que vais daqui. Não consigo ter pena de ti, portanto todas as minhas acções são permitidas. Vade retrum ó consciência moral. Ó moço, benvindo à idade adulta, é outro dos chavões por onde se orientam, para fugir a um e mesmo facto, o de que não passam de anões da ética, até que alguém apague a luz do baile.


 
Gostam de acenar com a cenoura da promessa de exclusividade de utilização de gónadas, para deixar o gajo à vontade, aliviado no seu cérebro reptiliano, sobre a probidade de comportamento sexual que indicia que qualquer investimento emocional e material garantirá exclusividade de reprodução de carga genética. As feministas viram isto ao contrário no seu esforço permanente de vitimização, e chamam-lhe ‘ciúme’ e ‘posse’. Aparentemente um macaco da espécie homo sapiens, não tem o direito a desejar que qualquer esforço seu seja de acordo com a sua vontade em garantir o seu legado genético. Só o da fêmea importa.


 
Sabendo isto de forma intuitiva, acenam com a possível garantia de vulva regular, e de performance vulvar continuada, como nos primeiros 6 meses.
A Rosalinda é mais fina, sabe que uma adesão emocional de qualquer gajo que pareça idealista, o faz dar mais fundo sentimental e entrega no acto, numa espécie de mantra da cueca que é o «-É mesmo isto!», o que faz a experiência mais interessante e recompensadora.
E o facto de saber que deixou mais um pelo beiço.


Ela vê-me assim, porque sou calado, e acedo, acedo sempre, sem questões ou fingindo que estou ocupado. Ela é levada a acreditar que assim procedo por causa de uma sede de relacionamento e mentalidade de carência. Não por outra pesquisa à psicologia humana, na qual me calo para a estudar.
Vamos sair? Estou lá a qualquer hora ou a qualquer dia.
Ela desmarca? Finjo uma ligeira irritação e amuo, para não desconfiar que me é indiferente.
Nas sessões de música ao vivo, agarro-lhe a mão e roço meu rosto no dela, o que a deixa incomodada com a súbita intimidade, a roldana na sua cabeça da desqualificação, começa a rodar.


Ao lembrar-me disto, da sacanice sem consciência, ou seja, se pecado é saber que se peca, então és inimputável, e as minhas lamúrias, estéreis.
Epá, mas absorto nessa emoção de não aceitar o mundo como é, dou-lhe uma palmada na nádega com demasiada força, que deixa o contorno da minha mão marcada como nas abóbodas das cavernas paleolíticas.


Olhando para o flanco do seu rosto, que consigo ver estando atrás dela, sentiu bem a pancada, um esgar de dor que se transmuta por sua força de vontade em fingimento de prazer, vocalizado com um gemido.


Mas vinga-se, com um golpe de cintura em marcha atrás, que me atinge em cheio nos países baixos, fazendo-me inclinar para a frente, desvio-me para um dos lados, a esquerda, para não aterrar em cima dela e desfazer a posição daquele traseiro delicioso, privando-me da visão do mesmo.
Inclinado à esquerda vejo o chão e as botas de cano médio dela, com as biqueiras apontadas uma para a outra.
Ela é abrutalhada, e a falta de jeito compensa com entusiasmo, e alheia à minha dor continua à procura do seu orgasmo, comigo dentro dela, convidado que se deixa na sala de estar enquanto se bebe conhaque na cozinha.


A raiva que originou o golpe de quadril, a malevolência até, fazem com que se venha imensamente, dançando em espasmos que se contraem como pétalas de rosa murchando.
Eu acompanho a coreografia, pois uma pancada na tomateira anuncia um conjunto de vagas de dor, que desaparecem da mesma maneira como aparecem.
Enquanto aspira os ácaros da sua almofada rosada, eu não consigo deixar de olhar para as suas botas, parecidas com as de Ângela.
Do que me fui lembrar.


Estraguei, este serão.Completamente.
Já não subo ao meu clímax, quanto mais deixar Rosalinda extenuada para segunda feira.
Enceto um monólogo comigo mesmo, sobre este momento tão desejado na puberdade, uma gaja nua com o carro encostado à praça, e que não se negaria a uma sessão de repetições. E aqui estou eu a relembrar merdas do passado.


Foca-te.


Decidido, dou-lhe uma palmada na outra nádega.
Ela exclama «-Eh, fora de tempo!» com uma expressão facial de alguém a quem cuspiram na sopa.
Percebo que tem razão, estou com a mão pesada e esta palmada também deve ter doído.
Disfarço dizendo «-Não me chamaste misógino ao jantar? Cala-te senão levas mais.»


Dou-lhe um beijo na boca que acompanha o beijo a 50 %, os outros 50% à procura de uma resposta além do choque em relação ao que eu disse.
Ao mesmo tempo, achando graça, e sabendo que me estou a marimbar para as reacções dos outros, agarra-me a mão da lambada última, e rodando no seu centro, puxa-me para a abraçar enquanto me vira as costas, ficamos em concha.
Já sei que se prepara para descansar, achando que o meu ballet doloroso de minutos antes, havia sido o meu orgasmo, o que a libertava na etiqueta, para dormir.


Sei que quando fecha os olhos gosta de imaginar que está com o seu homem idealizado, com todos os pontos de checklist que ela e a suas fúteis amigas elaboram ao jantar, como forma de impossibilitarem relacionamentos umas Às outras, pois nenhum sapiens sapiens vivo corresponderia ao que é exigido.
Mas por um erro de análise sua, sou o temporário que preenche os vazios.
Não me ralo.  Já fui usado como vibrador bípede anteriormente.


O conhecimento que me advém destas experiências suplanta a opinião de que o objecto de estudo tenha de mim.
Abraçado a ela, não quis deixar de lhe espicaçar um pouco as certezas, deixando-a na dúvida se de facto sou o que pensa que sou.
Sussurro-lhe ao ouvido: «-Além de que um misógino é apenas um gajo que odeia as mulheres tanto quanto se odeiam umas às outras.».
Indignada tenta virar-se e esbracejar, mas os meus braços e pernas envolvem-na não a deixando mover-se, e quanto mais se move mais presa fica. Faz-se de zangada, mas havia decidido não se zangar, mas não conseguia não reagir.


Beijo-lhe o pescoço e as costas, e volta a acalmar quando regressa a certeza de que sou um conas, e que o seu aparelho judicativo, afinal não se enganara.


II


Enquanto ela ressona baixinho lembro porque parei ao olhar para as botas, lembrei-me do episódio de Ângela, eu e o Renault Laguna dela.
Ao descrever a minha falta de vontade de prolongar o envolvimento emocional, ela chora copiosamente com as mãozinhas juntas, e os pés, as botinhas juntas uma virada para a outra, no esforço que fizera para vir arranjada ter comigo.


Lembro-me de ter ficado com a garganta seca e ter amaldiçoado a existência. Eu sei que o amor de Ângela por mim era apenas para se certificar que o Mundo lhe havia atirado um osso de remissão de todos os desgostos passados. O seu esforço para controlar essa segurança, havia-me afastado dela.
Incapaz de se amar a si mesma, começara a reagir às minhas provocações para que deixasse de fumar e praticasse natação.
Achando que isso era eu a rejeitar quem era, como se fosse ela o seu conjunto de hábitos, reagia contra o que achava ser um contornar do amor incondicional que lhe era devido por outros, como compensação de ela própria ser incapaz de o fazer.


Como se chama o sentimento de querer toda a felicidade para alguém, mas que não seja connosco?
Esfacelado, e jogado ao chão mais uma vez, lembro ter pensado que ia arrumar o gajedo numa prateleira e dedicar-me aos meus projectos.
Faço-lhe uma festa no rosto, peço para que não chore, ela beija-me com ranho e lágrimas quentes escorrendo pelo rosto.
Tira-me as calças e encaixa-me nela, enquanto os vidros embaciam.


Vejo-me reconduzido a golpes de quadril ao desgraçado tablier do Renault Laguna, que me observa o vaivém das nádegas, enquanto a beijo e penetro, contra o banco do pendura.
​
Nos momentos em que a inteligibilidade nos abandona para o corpo preparar mais uma descarga orgiástica, é quando somos felizes.
O profundíssimo desgosto faz-me chorar, molhando as costas de Rosalinda.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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