Lembrei-me de certa vez, enquanto aguardava pela minha namorada da altura, na zona da restauração do Colombo, (ou seria do Vasco da Gama?) de olhar para as caras das pessoas que passavam, e julgar que estava a ver o rosto de Deus. O Seu rosto, é o rosto de nós todos reunidos. Ideia parva, eu sei. Tenho um amigo que escolhe propositadamente ‘as malucas’. Todos aqueles indivíduos mulheres, que de uma forma ou outra apresentam traços de neuroses, psicoses, traumatoses, pancadoses. É um fiel crente de que maluca na cabeça equivale a maluca na cama. Eu discordo, em parte. Não é bonito olhar o abismo, e percebi isso enquanto ela me chupava a pila e repetia ad nauseam, que a minha pila era pequena. Já anteriormente me tentara menorizar dizendo que sou baixo, apesar de ela ter 165 centímetros de altura e parecer uma anã ao meu lado. Calo-me, escuto, observo, analiso. Concordo e amplifico. Que tenho de usar banquinho para a comer de costas. Que me pode usar todo o dia às costas, e chamar-me ‘mochila’. Aproveita o facto de eu estar sentado no carro, teso, mas com metade da dita, espreitando para fora. Que sabes João, eu gosto de pilas grandes, e o meu primeiro namorado tinha uma que parecia a cauda da Godzilla. Direito à jugular. Crente de que tudo o que sente é correcto, acha que me abana, que me provoca uma reacção emocional, tocando nos pontos tradicionais da frágil masculinidade. Concordo e amplifico. Digo-lhe para ver os pontos positivos da minha micro pila. Nunca mais precisará de comprar palitos para palitar os dentes. Que tem a higiene oral garantida, que lhe permitirei usar a minúscula coisa como fio dental. A redução ao absurdo, cala-a por instantes. Não arranha com os dentes. Pára algumas vezes para olhar bem para o meu falo, como que matando saudades de algum velho conhecido de quem se esqueceu das feições. Volta ao ataque bocal, quando exclamo meio murmurando: ‘-Que bom.’ Não posso censurá-la moralmente. Ou melhor, não devo. A estupidez da coisa é tal, que sei que na cabeça dela faz sentido. Mesmo que eu retribuísse infantilmente, fazendo pouco de algum seu atributo. Se lhe dissesse que por vezes passo alguns momentos a avaliar se o seu feitio emana de alguma deficiência ou trauma, ou de uma original idiossincrasia individual. Goza com o facto de eu morar com a minha mãe, que quer homens independentes, não conhecendo de mim muito mais que o carro onde estamos, e a personagem que represento para ela. Um chorrilho de lugares-comuns, repetidos até à exaustão nos escritórios, nos refeitórios e nos filmes de Hollywood. Apesar de tudo, o broche agrada-me e sei lá porquê, dou por mim mais entregue a lembrar Luísa, que a celebrar a rega do meu nabo ressequido. Luísa era a mulher de um amigo meu, que o rebaixava sempre que tinha hipótese, de maneira a que ele não a largasse. A coisa ficou pior quando ela ficou mais gorda, após o filho de ambos, e ele acabou por a largar, não pelo aumento de gordura, mas porque atingiu o ponto de saturação em relação ao que hoje pomposamente se chama de ‘assédio moral’. Pura e simplesmente era uma cabra, por insegurança. Há sempre uma desculpa, não é? Certa vez, descendo pela avenida que ladeia as Amoreiras, após recolha do seu marido que tinha estado internado no hospital, fez a avenida toda, a conduzir e a queixar-se de que ele não a satisfazia na cama, tinha o sexo pequeno, isto e aquilo. Senti-me desconfortável, mesmo sabendo que exageram quando apanham os melhores amigos do marido, a jeito de ouvir. Eu já farto, e não estava casado com ela, perguntei porque é que me contava assuntos do foro íntimo, que não me interessavam, e que me custava estar a ouvi-la falar assim do meu amigo. Indignada, mas em silêncio, passou o resto da viagem a tentar seduzir-me para a sua causa, vendo que a sua manipulação não surtira efeito em mim. Baixo, pequeno, menino da mamã. Que mais irá ela usar, por insegurança, ou manifesta má formação. Que diriam de mim, as imaginárias pessoas a quem eu dissesse que tinham a cona esbardalhada, as mamas descaídas, ou a vida afogada em mágoas por culpa própria? Que diriam de mim as pessoas, se eu esfregasse na cara das indefesas fêmeas, o total âmbito da sua responsabilidade, a total ausência de método de pensamento que não determinado pelo momento, ou a incapacidade de entrega e crença, em amores após os 30 e poucos anos? Que eu era um cabrão, evidentemente. Porquê tolerar então, esta malta, que a encoberto de ser fêmea, anda por aí a sentir que faz bem, cuspindo vergonha tóxica para os outros? Daquela vergonha que por mais que esfreguemos com palha de aço, não nos sai do corpo e da mente? Cujo resultado, é algumas vezes, o fim do túnel, cuja claridade é o flash do disparo da pistola com a bala em têmpora mole. Sim, de certeza que as estatísticas revelam alguns casos de gajos que se mataram, por terem sido desqualificados, pela pila pequena, pelo feitio plácido, pelo falo flácido, pela reduzida estatura, pelo azar genético? A nossa vida é um eterno, até à morte, recreio de escola, aparentemente harmonioso, mas que ao olhar atento aparece como um cruel terreiro, de terror, violência, manipulação, hierarquias. O contexto não muda, só as aparências. O tratamento ostensiva e directamente hostil, das mulheres que não nos desejam, como castigo aprendido na escola primária em que as meninas não brincavam com uns, e brincavam com outros, guardiãs da aprovação e atiçadoras, por vezes, dos que tinham na violência, algum papel útil no seio da pequena macacada. Assim estava esta, a repetir padrões serôdios a partir do seu sentir. Sob o sentir bem, tudo se justifica. O macaco interno ou a roda de hamster, a encontrar racionalizações para a decisão tomada a priori e sobre critérios inconscientes q.b. para o indivíduo. Ao apelo de um colega de trabalho, a justificação da traição porque o marido ou namorado não lhe deram a atenção devida. Encornar a esposa, porque não lhe dá sexo há um mês e portanto, por ter necessidades, há que recorrer a transitários externos. Todo um reino de desculpas, que nos vedam a imagem de nós mesmos como marionetas, e, de um ponto de vista moral, cabras e cabrões. Os comportamentos de desqualificação dos outros, como ferramenta inata para o corte emocional, numa rapsódia de deve e haver existencial, onde todos, todos fingimos, perceber e jogar bem o jogo. Isto não é um lamento, apenas um murmúrio de desejo, que fosse diferente. Especialmente, que não se debitasse até ao vómito, as loas ao ‘amor’, com música barata e sofrível, onde se declara a um outro, que se é a alma e coração, como se isso espremido fosse algo mais que outra forma de bajulação exagerada do sentimento de apreço que vamos sentindo uns pelos outros. Como se a tipa com filhos, alguma vez tivesse lugar liceal para o novo amante, que lhe disputa o coração com o ex marido, os filhos, os cães e gatos, os pais, os amigos…seja qual for a ordem que sofrem todas estas variáveis. Coração quarentão, é um túmulo adiado. Mas, como, pelo mal e pelo bem, me recuso a deixar de rir com a situação, as tentativas de me mandarem abaixo, passam ao lado, pelo menos o suficiente, para não deixarem de ser algo mais que argumentos para textos. Esgotado o reportório, perguntam-se como me mantenho de pé. Como posso ser tão confiante, mesmo após as críticas, os ataques de vergonha. Como não vacilo, onde tantos outros, após olharem directamente para a Medusa, ficaram petrificados. A resposta é simples, não jogo com os critérios delas. Bem fodido estaria. E aí lembrei-me de Flávia, que fazia broches bem melhores, e não é cabra. Ela dizia não entender porque não recebia o apreço, o valor que achava merecer, por parte dos homens, porque sabia pintar paredes, escrever argumentos, construir cenários cinematográficos e rebocar muros. Ela e eu sabíamos a resposta a esse desabafo. Mas não o dizíamos em voz alta, para não a magoar. De modo que a questão se mantém, para tu que me lês. Podes responder, porque foste tão cabra para mim? Que fiz eu concretamente de tão errado, que merecesse as putarias infantis que praticaste? Que crime justificou o castigo? O que te leva consistentemente a ser uma puta de merda para mim, e a esconder continuamente a mão que flagela o chicote da minha pena sob o teu juízo? És simplesmente trapalhona, ou uma má desculpa para ser humano? Ou pura e simplesmente um animal dotado de razão, mas não praticante, meramente entregue aos instintos? Ambos sabemos essa resposta. E é nela que se baseia o teu silêncio. Qualquer notícia de mim, é um lembrete para ti, do quão estúpida e má és ou foste. Uma nódoa nesse vestido branco, que o teu ego pinta para ti. Os homens não são muito melhores, não penses que isto é sexista. Somos cabrões uns para os outros. E facilmente nos esventraríamos a pedido, das nossas donas. Mas não partilho afectos com homens, partilhei contigo, e por isso é tão incompreensível, como conseguiste ser tão cruel e imbecil. Juro que não entendo. Teres o esforço de ir além, na estupidez, como que se ressabiada comigo por já não te atrair, como se a culpa fosse minha, réu, sob holofotes do carrasco e juiz, tu. Enfim, concordo e amplifico. Deixo que se enforquem com as suas próprias personalidades. Finjo-me de parvo, morto. E observo. Avalio o indivíduo que acha que ainda estou encadeado pelo brilho do efeito da sua beleza nos olhos do meu desejo. Além da pantomina, observo-as quando não estão a representar, distraídas. Fazem parte da vida, vês?! Como uma paisagem que se desenrola à minha frente. Uma paisagem que me chupa a pila.
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