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Corre uma brisa fresca à noite X

21/7/2022

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Acordámos de cara um para o outro e com os dedos enregelados imitando o padrão ondulatório das ondas, que durante umas duas horas nos agrediram pese embora a passagem de transeuntes e nudistas, que ao verem dois cadáveres sendo estuprados por ondas marítimas, preferiram manter-se na sua vida.
Ela acordou primeiro e ficou a olhar para mim.
O Sol já não queimava, perto das 20 ou das 21 horas da noite.
Quando abri os olhos, vi o rosto dela, e por detrás o Sol Poente, a 45 graus da Linha de Cascais lá ao fundo, no outro lado do cemitério de navios onde ganho a vida.
Fiquei a olhar, antes de abrir a boca, pois foi um daqueles momentos epifânicos em que sabes, que a memória os guarda e nunca se repetirão.
Ela riu-se e perguntou, oi pssst, qué passa hombre?
Eu ri-me também e disse que se passava nada. E lambi-lhe o nariz.
Ela riu-se, colocou-se em cima de mim, ondulando com a sua bacia sob o meu quadril.
Meia hora depois menos 29 minutos, fiquei teso, e ambas as expirações quentes e ofegantes, ela própria chegou os seus ‘boxers’ ou que raio de nome aquilo tem, e me convidou a entrar nela.
A posição ortogonal em relação aos esparsos transeuntes no areal acima, com cães, namoradas, mulheres, sós, viam dois corpos na linha de água, que, entretanto, se retirara um pouco por causa da baixa-mar, mas não conseguiam compreender o movimento, suspeitavam, mas não tinham provas, e a passagem de transeuntes e nudistas, que ao verem dois cadáveres sendo estuprados por ondas marítimas, preferiram manter-se na sua vida.
Longe vão os tempos em que eu era interrompido no coito em pleno areal, por transeuntes que alegavam o interesse das crianças em não ver actos sexuais nos seus passeios. Hoje com Netflix e outros serviços de streaming, admira-me como não me agradecem por manter alguma discrição.
Mas eu respondia-lhes sempre, aos objectores, incentivados pelas esposas cobardes, ó amigo, aqui mesmo na Fonte da Telha, eu quando tinha 8 anos vi um velhote a beber vinho branco de um garrafão com a tomateira de fora, e num sítio por onde toda a gente passava, e ninguém disse nada, incluindo o meu pai, portanto quem é o caro amigo para me dizer alguma coisa? Por ser para uns não é para outros?
Que merda de justiça é esta?
Porque tenho eu de ver tomateiras sexagenárias e ninguém pode ver eu com uma cachopa, recatados no acto de fazer o amor?
Ó caro amigo, se eu tivesse 220 centímetros dos pés ao cocuruto e 140 quilogramas de hipertrofia muscular, vinhas aqui tentar impressionar a esposa com a tua coragem?
Pó caralho, abelha.
Só mesmo eu, para ter uma gaja cebola por cima de mim, e estar a lembrar merdas da minha infância. Dava jeito por vezes, ela já se tinha vindo, e estava à minha espera pela volta de cortesia.
«-Queres que te coma todinha?» perguntava eu retoricamente, mordendo os dentes ao ponto de os mesmos rangerem, e apertando-a contra mim em tom de ameaça contida.
E ela respondia «-Come-me toda, não tenhas medo, não sou feita de papel. Podes comer até não quereres mais.»
E eu dizia, «-Como-te toda minha puta, até te conseguir fazer sair a cabeça com a força das minhas ejaculações.»
Ela vinha-se.
Invariavelmente.
Há pessoas assim. O pior é que eu acreditava no que dizia. Sempre que eu me vinha, olhava para o seu pescoço com medo que se rasgasse.
Coloquei a palma da minha mão entre as covinhas que ela tinha nas costas, entre a bacia, aquelas covinhas que algumas mulheres têm ao fundo das costas, e tratei de me satisfazer despudoradamente e de consciência tranquila, pois ela já se tinha deliciado duas vezes.
Comigo controlando a distância e o torque, rapidamente me vim para dentro dela, que me abraçou com mais força e beijou, repara, não me observou vindo, não.
Participou comigo no acto de vir. Revelou inteligência e não mera simpatia por uma analogia que conhecia.
Que merda é essa dizeres que te queres unir espiritualmente a uma mulher e não conheceres todos os passos de dança?
De negares a ‘animalidade’ como lhe chamas, enquanto verdade última, transindividual, que facilmente aceitas noutras circunstâncias, excepto naquela onde te humilhas perante a deusa?
Invariavelmente vim-me, e apertei-a de tal forma que os seus ossos estalaram.
Em vez de fugir, apertou-me de volta, contente por eu me sentir feliz com ela, como ela se sentia comigo.
Dei comigo a pensar onde terminaria a inevitável fase de enamoramento onde a contraparte só desejaria o fim deste ritual.
Mas ralhei comigo mesmo, não estragues os momentos presentes, com momentos que não chegaram, ainda.
Ordem recebida, zero distorções.
Rebolámos na areia molhada à boleia de beijos intermináveis, e ofegantes de espaços ainda mais íntimos para cessar a ansiedade dos separados corpos.
 
Onde queres ir jantar, perguntei eu, quando vi que sua pele estava engelhada e arrepiada com a brisa semi nocturna.
«-Qualquer sítio, contigo, mas como falaste de Munique…»
«-Munique? Isso é em Outubro!»
«-Eu por mim ia já!»
Ri-me, mas olhei para ela e vi que estava a falar a sério.
«-Em Outubro vamos, não te preocupes!»
«-E eu lá chego a Outubro…»
A forma como disse isto, assustou-me de tal forma que lhe perguntei que se passava. Levantou-se e foi passear pelo areal. Não a persegui.
Nem entendi sequer.
Aproveitei para olhar as ondas, e relativizar as minhas relações passadas perante esta.
De como todas perdem a cor ante a seguinte. Isto se o indivíduo for capaz de acreditar.
Eventualmente regressou de onde quer para onde foi, e disse-me, «-Vamos a Munique, já.»
Ante que eu pudesse dizer o quer que seja, virara costas, pegara nas coisas, e dirigia-se para o carro.
Quando cheguei ao carro, ela estava no lugar do condutor.
«-Despacha-te.», foi o que me disse.
Eu não estava a gostar do tom da coisa, fugia do meu controlo, e, no entanto, submetia-me.
Ela tinha um plano, uma ideia.
Parámos em Tires, antes que me respondesse ao quer que fosse.
Que tens, que se passa, onde vamos.
Também não podia voltar para trás ante alguém que a nada se negara do que eu havia proposto ou feito.
Era uma questão de orgulho próprio.
Antes de entrar no Falcon 7x, ainda olhei em redor à procura de uma dica em cartão prensado, a dizer o que fazer a seguir.
Já com o bimotor no ar, é que me respondeu que íamos a Munique, e que não me deixaria nunca estragar este momento dela.
A minha ira, e indignação, esbarravam na minha tentativa de a entender.
Mas que merda é essa que não respondes, não falas no carro, e não me perguntas sequer se quero ir agora.
Ela respondeu, sem que eu fizesse as perguntas.
Sentou-se ao meu colo e pediu, ‘-Não me faças perguntas.’
Beijou-me, disse que o avião era de um amigo do pai, e que em Munique tínhamos 24 horas até voltar ao aeródromo de Oberpfaffenhofen.
Mas que caralho, pensava eu.
Sentia estar numa peça de teatro da qual desconhecia o guião.
O que se passou em Munique, ficou em Munique. Sei que subi o avião de gatas.
Cheguei à casa dela em Sintra, ao tal quarto, de gatas também.
O cilindro aéreo da aeronave, foi em todos os cantos, preenchido pelos nossos corpos transpirados e ébrios.
Ainda no táxi uber, íamos colados um ao outro, em vias de provar que no final de cada orgasmo não sai um líquido de cor fluorescente como nos finais dos rolos de fita-cola.
Chegados ao quarto, dançámos por horas ainda inebriados pela cerveja de trigo do Sul da Baviera.
Nenhuma objecção ou pergunta me surgia no cérebro, de modo a fazer perguntas.
Uma força em mim, revelava que não era tempo de fazer perguntas, mas de captar estímulos na memória para quando à hora da morte, saber que não vivera em vão.
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