Não há outra forma de o dizer. Estava bêbedo. Ela encostada num nos cantos do seu lava-loiças, fazia o twerk e dizia ‘-Anda, come-me como a uma puta!’ Eu estava enamorado pela cerveja de marca, que o seu ex marido enólogo guardava na casa dele, onde ela se sentia à vontade de entrar sem ser convidada e espoliar, sempre que queria impressionar os seus engates de tinder. Eu limpava a minha consciência pesada de beber a fuga de outro gajo qualquer, com o esforço de querer acreditar na narrativa dela, que vinha a caminho, sobre o facto de que o gajo é sempre um poço de defeitos, que se deixa para trás por alguma angústia na vida, afogada no porvir, em restaurantes caros e pila aparentemente regeneradora, engatada nos ginásios e nas aplicações de engate. Por detrás de mim, os aviões de turistas pés descalços vindos do caralho mais velho que os foda, para usufruir como lagostas cozidas, da paisagem da mais bonita cidade da Humanidade, Olisipo para os amigos. Vi as camones a subir a Rua Garret e apertava os meus tomates, como que a acalmar dois pitbulls da cueca, para não me animalizarem, face a face com carne branca rosada pelas mordidas do Rei Sol. Dentro de uma farda da Prosegur, olhava para o tecto quando explicava a francesas e americanas onde tinham de procurar a lingerie e as suéras para coping com o astro-rei. Fez love bombing, que é uma forma destas putéfias se gaslightarem a si mesmas. Investem tipo carpet bombing, todo o seu afecto simulado, para no final das contas, poderem dormir com a sua própria consciência, sentindo que deram tudo, ainda que fingido, e que do outro lado abusaram da sua pureza. Pois esta, ao tocar na mesma tecla de sempre, depois ia-se queixar às amigas, que eram todos iguais, isto é, que faziam arrepio da sua individualidade, cagando para os seus sentimentos. Ó amiga, se os teus sentimentos são falsos, que tens tu de te queixar da manipulação alheia? Soa-me a desculpas por seres insuficiente. Insuficiente para o tipo de homem que queres e que achas que tens direito. E agora pergunto eu, se cada gaja acha que tem direito ao príncipe encantado, não tenho eu o direito de achar que mereço uma gaja que goste de mim, que seja boa na cama e fora dela, e que ache que eu sou o prémio e não uma qualquer ficção mediática? Sou eu menos humano, comparado por uma portadora de vulva? Tenho direito a ter gostos e preferências? Ou por ter uma pilinha XL, faço parte de uma classe opressora que tem de ser castigada? E a verdade é que não me dava tesão. Pelo menos não tanto como Rose, a brasileira de São Paulo, que se separara do marido informático e a quem eu enchera o chão do quarto de preservativos, em 12 horas de foda. Questa merda?! também tem de me dar tusa a mim. Ou sou apenas um objecto? Foda-se, olha lá. Que eu tendo barriga de cerveja e de branco moscatel, para poder viver com a memória dos meus mortos, também sou um bicho com direito à individualidade e aquela angolana marada dos cornos, convencida que era um catch, por ser magra e de tetas grandes, foi a segunda ao ver em 40 anos, aqui o je não ter tesão para a foder. Porquê? Porque não me dá pica. Teve de refilar e pedir-me insistentemente até onde o seu amor próprio o permitia, para ir ter com ela. Ah, pasme-se o público. Sim, se um gajo não tem tesão, não é sempre culpa dele, fisiológica. Pode ser a gaja que não ‘vale um caralho’, adoro esta expressão. Tipo, amiga, vales para mim, o suficiente para uma descarga de adn, mais que isso…não. Satisfeito o corpo, a alma pede para fugir, o mais rápido que as pernas consigam. A maior constante do meu currículo horizontal. Quando a clareza pós coito bate antes do coito, dá em falta de erecção. Com a idade, e o reconhecimento decorrente da observação das mesmas dinâmicas, dos mesmos trejeitos, dos mesmos fingimentos, ano após ano, cama após cama, gaja após gaja, que abdica de ser quem é para ser o que acha que o gajo quer, ou o que acha que deve ser de acordo com o que vê nos catálogos de roupa e propaganda feminista…vamos percebendo que é sempre a mesma mulher. Não o indivíduo x ou y, mas um reflexo pardo, do que seja a ‘mulher do momento’. Bicho do caralho, a mulher. Passo a expressão. Como eléctrico dos antigos, daqueles que ruminavam por Algés, tem as antenas sempre ligadas à catenária da moda presente, sempre em cima do último estilo de roupa e de depilação a laser. De postura e de como agir no seio do seu grupo imediato de ‘amigas’ codependentes que vivem bem no mesmo charco, ou chafurdam no mesmo de forma a aguentar os casamentos, poucos, que não conseguem largar. Entendo que para o gajo médio, isto pareça um enigma. Coisas de gaja, pensará para si. Sabe no seu íntimo que são futilidades, são merdas a que não dá valor, mas que tem de respeitar embora não respeite, como forma de honrar o contrato emocional que lhe dá acesso a descargas de adn. Ó amiga, vives em função da apreciação que vês nos olhos dos outros quando te olham por detrás das roupas novas e engomadas, e da postura testada e confirmada, que sabes garantir que falem bem de ti depois. Vives mais dentro da tua cabeça calculadora, que em função dos demónios que te levam por exemplo, a apanhar pielas nos casamentos e funerais, como forma de não pensar. A foder sempre que há uma oportunidade, como forma de não pensar e não pensando, não sofrer. Olhando de frente para a merda, porque se recusa a dançar com uma perspectiva com que não consegue lidar, onde não sobressai, onde se sente tão falso, como a natureza feita em oposição, que toma desde cedo para si. Tentava cativar-me para permanecer, comprando lingerie que considerava moderna, mas que a meus olhos, só exprimia o quão parada no tempo ficara. Eu dizia, quero que faças ahegao, que eu lambo-te o cuspo e o spandex. Teve de ir ver à wikipedia, exclamando que não achava graça nenhuma à coisa. Revelando claramente que eu, era um condicional num par da sua cabeça. Tudo calculado, até onde se vai, de onde não se passa. Mais que chatear-me por não fazer comigo, o que fizera com outros, dava por mim a pensar na forma como o tempo marca as pessoas, como gado por ferro incandescente, que se tenta adaptar com maquilhagem da queimadura estilizada. Não há escapatória, com a morte ali à esquina. Mais um gole de água do esquecimento. Também eu lhe lanço a minha persona, a que me dá menos trabalho a manter, por sair automática, e que faz durar o peixe, leia-se, as fodas, o mais possível, porque não sei quando virá o próximo abastecimento de esquecimento em forma de gaja. E na maior parte das vezes, saboto-me a mim e aos dois, pois sei que não é ‘ali’ que devo estar, e que só ‘lá’ estou, por causa da droga, da droga que vem na antecipação da foda e na clareza pós copulatória. Quando o demónio da pressão para foder, se acalma, e tenho um vislumbre aproximado de quem sou, sem ser uma máquina desejante. Eu estava-me a cagar para o ahegao. O que queria era alguém a quem eu dissesse que ia assaltar um banco, e esse alguém sem que nada fosse dito, fosse por si ligar o carro para cometer o crime. Sem reservas e plenamente embarcada no meu oceano. Por isso raramente toco em carne da minha idade ou mais velha. São, na minha experiência, fúteis e manientas com a sua futilidade. Camuflam a sua incapacidade de paixão sob a palavra ‘maturidade’, que são dignas e já não fazem as tolices que fizeram na adolescência. Que o acesso à sua intimidade é uma via sacra na escadaria do Bom-Jesus de Braga, feita de pequenas cumplicidades que não passam de testes lançados a mim, para ver se mereço que se envolvam emocionalmente comigo. São, na minha experiência, pessoas gastas ou fingidas, que me vêem como bóia na sua deriva de náufrago. E eu não quero essa merda. Rio-me até, quando atraso o sexo, dou com algumas a perguntarem-me se gosto de mulheres, pois querem espevitar-me atacando o nervo que acham que me manipula, da minha masculinidade. ‘-Adoro mulheres. Não de todas.’ Sem intenção que se esforcem mais para me agradar. Mas de facto, porque é verdade. Invariavelmente saem as promessas. «-Vou-te fazer um broche que vais ver se não voltas a gostar de todas as mulheres.» Rio-me e beijo-as no rosto, e não me dou ao trabalho que ouviram as palavras que eu disse mas escutaram os sons das cabeças delas. Como eco distorcido pela massa encefálica, que bate sozinho nas paredes do crânio, e nos lugares-comuns em que acreditam e lhes dão a falsa segurança de achar que percebem algo do mundo, dos homens, das coisas. «-Eu não sou uma mulher qualquer João, eu dou aulas há 20 anos, na universidade.» Responde uma, à minha provocação de que os doutoramentos não são mais que especializações fatelas, que dão segurança aos inseguros. Ela diz que não, que são coisas que as pessoas escolhem porque gostam. Eu digo, sabes que, é como fechares-te num canto isolado da ‘sociedade’ e viveres numa espécie de casulo. Escrevo num papel um número e peço-lhe para converter para binário. Diz que não sabe nem tem de saber, não lhe interessa. Que conveniente, penso. Cortar da consciência, todos os recantos em que não somos bons, ou que ignoramos. Capitães das nossas jangadas à deriva. «-Então? Demoras muito?» A cerveja acaba-se na garrafa, e tiro as cuecas que coloquei, para não poluir os bancos da cozinha onde amanhã os filhos dela irão jantar. Twerka-me encostada ao baixo ventre e bem sabe que não consigo resistir a uns lábios apanhados de través.
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