Os pés dela batiam-me na cara ao ritmo com que lhe perfurava com estocadas penianas, o baixo-ventre. Pela minha mente apenas passava a ideia de que isto era uma guerra civil. Olhava para o seu rosto, de lado porque a comia de costas, e não conseguia deixar de ver o rosto do seu pai, que me mostrara num álbum prévio, que geralmente as gajas mostram como forma de criar ligação emocional com os detentores de pila prestes a usá-la, nelas. Basicamente, e reza a história, dei comigo a ver os traços masculinos do seu rosto, que me lembravam o progenitor, e a pensar que estava a comer res extensa nascida mulher. Não um ser de natureza diametralmente oposta à minha, repetidamente feita para me magoar, mas uma tonta em avulso, flagelada com os mesmos defeitos que o tonto eu. Não é nada pessoal, são palonças porque as elevamos em demasiada estima. Desmistificando a gaja, deixamos de exigir dela que seja divina. E sai uma palmada na nádega. A transpiração caía em bica pelo meu rosto abaixo, e o pensar na ideia de ver a cara do pai com feições femininas retirara o foco de a fazer vir a ela ou esporrar-me eu todo. E subitamente, uma aflição moral me aflige, a expressão ‘dormir com o inimigo’, e a aflição de as julgar de forma demasiado bruta e egocêntrica, isto é, baseada no impacto negativo que algumas tiveram em mim. Que a maldade e estupidez no outro, são pouco mais que falhas de carácter, que a maioria esconde, para gerir a imagem aos olhos dos outros. Todos somos filhos da puta inconscientes e cegos na nossa consciência, que trabalha incessantemente, para nos ludibriar no que concerne à origem das nossas intenções, quando agimos. A decisão é tomada, assumida, e depois o ego trata de encontrar a história, o ângulo, onde na narrativa que contamos para nós à noite, ao travesseiro, as decisões são sempre as melhores, com as melhores intenções, e como todos sabemos, delas está o Inferno cheio. Tenho eu andado a dormir com o inimigo, isto é, tenho eu negado a individualidade delas, apenas para me proteger? Encarando-as como uma contraparte que se contrapõe a mim, aos meus interesses, estarei a vedar-me à verdadeira intimidade com outrem? Murcho, e ela vira-se para mim, como que magoada por eu ter perdido a tesão que dura há cerca de meia hora. Resquícios do que os conas chamam de ‘masculinidade tóxica’, onde um gajo é olhado de soslaio se a pila se farta de reter sangue para prazer da contraparte. Abraço-a e faço-lhe festas no rosto, e continuo a perseguir a minha ideia. Não só são tão determinadas biologicamente como nós, como parecem ter menor consciência das raízes profundas dessa determinação. Valha-nos Deus, se trazemos alguma ciência à mítica ‘mística feminina’. Prestidigitações que visam mistificar com tinta de choco. Está investida em mim, e tenta-me agradar com coreografias aprendidas em outros teatros, belisca-me os mamilos, que detesto, porque algures no seu passado, algum parceiro gostou ou pediu. Pelas palavras, reacções e posturas, percebemos o grau de mágoa que tentam esconder. Pela tentativa de controlar a forma como a vejo, pela personagem proactiva que desempenha para dar a ideia que tem uma personalidade forte, também ela testemunha para mim, que dorme com o inimigo, com um representante de outros que a magoaram. E protege-se com contramedidas que visam evitar o torpedo no casco. Todos dormimos com o inimigo. Por medo, ou controlo, o que é o mesmo. Ninguém passa cheques em branco. Todos reagimos ao comportamento contrário, por trauma, cansaço, ou vingança serôdia e estúpida. Abotoa-se a mim, e sorve-me o falo, e continua a apertar-me o mamilo com o braço esticado. Ela esquecera-se de mim. Andámos na mesma faculdade, e rejeitou-me numa abordagem minha há 20 e tal anos. Estava a principiar a carreira de actriz, e envolver-se com um neurotípico, parecia-lhe uma regressão. Tinha de manter os dentes brancos e o hálito fresco, por desempenhar papeis em novelas que requeriam trocas bocais com outros actores, com a língua a servir de cartão de visita, e o beijo reduzido a um simulacro mecânico de afecto. Dormir com o inimigo, foda-se. Mas eu sei, de certeza absoluta e comprovada, que estas gajas deixam de nos respeitar, se as queremos tratar como seres humanos, e não como o ‘inimigo’. E não nos respeitando, são incapazes de nos amar, de nos ver com valor, na igual medida em que um corpo decaído já não permite desejo saudável. E assim aconteceu com ela no mundo madrasto das novelas. Não tendo ascendido a estrela, foi obtendo cada vez menos trabalho. Teve de começar a trabalhar em escritórios da metrópole, e como ninguém se prestou a ficar com ela, afogava cada vez mais as mágoas, em cada vez mais vinho. Eu estava a mudar o pneu do carro, que mo furaram em frente a uma tasca. Aposto que foi o filho da puta do dono, que considera o lugar de estacionamento público como seu. A troca de pneu durou mais tempo, porque o carro não era meu, o macaco estava enferrujado, a tal ponto que o parti, exercendo força de braços nele. Da esplanada vieram-me ajudar uns sexagenários, provavelmente aqueles que me furaram o pneu. Logo avisando para não me demorar com o macaco emprestado, que estavam prestes a ir-se embora. Perante a minha atrapalhação, perguntaram-me se eu alguma vez mudara um pneu. Fiquei ofendido por dentro, mas ri-me. Ter pipo de cerveja também não ajudou à destreza. Preferi pensar na diferença geracional entre estes que me ajudavam a resolver um problema, e a geração mais nova que passava por mim, sem que ocorresse algum pensamento de camaradagem. Não que eu precisasse. Mas a predisposição para a acção, impressionou-me. Esta malta mais velha, com mais fibra, construiu o Portugal que originou por fim, os conas e os bananas. É a queda do império. Um parafuso escorreu pela rua inclinada, e uns sapatos vermelhos de mulher, apararam a fuga. Era ela, e não me reconheceu. Fiz por manter a conversa e 5 dias depois estava a deixar a minha mão marcada nas suas nádegas. Olho para ela inserido numa longa fila de flirts e amores infelizes, e não consigo pensar que estamos em guerra civil. Divididos pelas dores lancinantes decorrentes do mercado da carne. Geração após geração, a foder-nos uns aos outros. E a nós próprios.
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