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Elíptica

19/5/2019

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 O terrível demónio da solidão já havia sido instalado que nem vírus informático, no seu âmago.
Em tempos de infância.
Proibido de sair de casa por pai tirano, via-se reduzido a ter de imaginar e inventar situações para onde exercitar uma atenção confinada por paredes.
Deu por si certo dia, oferecendo bolachas gravadas com símbolos do Zodíaco, a fantasmas, certo de que a solidão em redor levaria a que o mundo por fim, se manifestasse directamente a ele, num momento de ‘cumplicidade’.
Ao mesmo tempo, envergonhado com esta ingénua sacanice, de pedir situação de excepção ao mundo, só para não sucumbir à essencial solidão e ao sem sentido.
Nenhum fantasma lhe arrebanhou alguma bolacha da mão.
E no entanto algo de grandioso, tratando o mundo por tu, e acreditando na existência de algo não visível e perturbador, como é uma realidade que se esconde sob a apreensível pelos sentidos.


Ela por momentos retribuiu o olhar, e no fundo preto ele reconheceu ternura tal, que não se pode ter para vítima ou que se possa fingir. Ele viu amor, por parte de uma alma que exigia ser amada de volta em toda a dimensão da sua própria capacidade de amar e de sentir.
E por amor denota ele a capacidade de resistir ao sem sentido numa entrega incondicional a algo em comum que apagará a solidão enquanto condição de se estar vivo.
Entretanto naufragado por sua vontade num qualquer ilhéu pequeno demais para aparecer na carta náutica, olha para o céu estrelado e sob a pele de satélite tenta retirar informação que já detém.
O fofo conforto de um sofá é mais apelativo a partir da fase de epifânia em que o ser choca de frente com a recta final da sua mortalidade e com as suas escolhas passadas e consequências presentes..
O rabo acostuma-se à almofada esponjosa do sofá e começa a chamar-lhe casa, aguardando apenas que o tempo passe sem grandes sobressaltos.
Ganha-lhe amor até, ao rabo, que desprovido de olhos não pode reflectir senão o amor que se tem por si mesmo.


Flávia coloca sua disponibilidade para foder pornograficamente com quem quer que apareça, via uma qualquer aplicação de engate.
Afogar a dor com sexo. Afogar as mesmas escolhas e consequências, saindo impoluto o ego no final da lavagem auto.
Sou tão awsome mas fodo-me em cada etapa do percurso, saboto-me e projecto a culpa nos outros.
Faço merda, sou impulsiva. Sou frustrada, afinal é porque tenho humores. Sou insultuosa é por causa do período.
Faço bluff, o outro tem a culpa de ter 5 cartas mais altas.
O ego que fode a cada sístole, e defende a cada diástole, sai impoluto no final da lavagem auto.
Não é possível assumir responsabilidade, é preferível fugir em frente, entregar a novos extremos de emoção como forma de se distrair da solidão.
Três tristes tigres unidos numa elíptica só porque assim o decidi.
E todos em extremos opostos, sob a arbitrariedade da minha escolha e um Universo que não tira bolachas da mão de ninguém.
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