Parei, escondido sob um dos ângulos da arcada e fiquei a vê-la subir a escadaria que a levava para longe de mim.
Com a calma que contrastava com a penumbra que caía sobre a projecção de felicidade futura a dois, que se esvaía em mim, apenas amenizada por um sentimento próximo do êxtase por ter passado tempo com ela, só a falar, só a fruir da sua presença.
Fiquei a ver o cabelo fulvo, que descrevo nas minhas orações, sonhando um dia agarrá-lo junto ao escalpe para lhe segredar junto ao ouvido o meu nome.
Fixa-o aí dentro. Eu sei amor, que dá jeito ter uns cavacos de atenção na fogueira da nossa estima. Imola-me à tua vontade, sou insensível à dor anestesiado pelo saber que existes.
Penso com força em cenários que te tragam a mim na esperança de migrar para uma realidade em que a tua pele toque a minha e me vejas como quero que vejas, como eu te vejo a ti.
Tal como a antecipação do sexo liberta em si algum prazer, sonhar acordado sobre nós é à sua maneira a única e mais próxima forma em que estaremos alguma vez juntos, e não abro mão dela.
Como onda que esbarra na areia, sinto-te fluir ora para mais perto ora para mais longe, sem saber ou ralar se são apenas cavacos arrojados à praia que pretendes para a imolação.
Dá sempre jeito no meio de um remoínho, ter uma mão amiga que nos afaga o rosto limpando algum do sal que arde lentamente.
Hipnotizado pela tua espuma branca, vejo-me como activo amante em direcção a um escolho que não me deseja. Mas há um prémio de consolação, para ti a minha atenção, para mim o saber que és.
És o meu amor, és o meu fim. Não acabaremos num subir de escadas, nem com a distância entre ambos.
Sou eu que decido além da tua escolha prévia detalhada sobre o rumo do que se passaria entre tu e eu.