Então disseste «-Conheces muito pouco acerca de mim, para fazeres esse tipo de análise, mas de presunções e pressupostos está o mundo cheio.»
A chapada.Não por castigo mas pela violência clara e unívoca de mostrar que por eu existir não se segue que aprecies a minha existência o suficiente para que tenha surgido algum esforço mais curioso. Mas és uma mulher que trata a vida por tu, subiu a pulso e com esforço e tás batida nestas mariquices, afinal os homens querem todos o mesmo e correm grandes distâncias para urdir sempre novos ardis. Outrora tentaria impressionar-te com a minha prosa testada pelos anos e pelas noites de pestanas queimadas. Agora só quero que assistas com a mesma distância e indiferença ao relato que surge para que me entenda e exprima. És a cenoura perfumada à porta de minha boca, que supostamente fará levantar o meu rabo e obrigar-me a escrever, comporta-te como tal. Escrever é o que faço, a única vocação que escolhi e assumi. Não és daquele tipo de pessoas gajas que perde muito tempo de volta de um texto analisando-o de fio a pavio, concedendo-lhe a boa vontade de ser deixado à solta dentro de ti para fazer estrago. Não, tu já decidiste a tua mundividência e só citas pedaços de textos de gente muito conhecida ou muito vanguardista elevada a ícone. Para ti as letras são para ensinar gramática.Algo de palpável no mundo duro da gente séria em que te moves. Nada de mal nisto.Há quem goste de soutiens, eu prefiro seios. É compreensível agarrares com tanta força a mundividência que escolheste e ornaste para ti. Vives na tua casinha de bonecas onde sopra vento,para lhe dar realidade intersubjectiva e validação ontológica.A forma como olhas para o mundo não visa abalar os teus alicerces. Fica-te bem dizer isso a admiradores e amigas, mas não, não te podes dar ao luxo de navegar à deriva no deserto.Não tens estrutura para isso, és insegura e gente depende de ti, e lutaste desalmadamente para fazer este presente do qual te orgulhas. Foste-me proposta como um desafio. E como náufrago desesperado procuro gente com personalidade como bóia de sobrevivência. Eu não acredito em desafios. Mas falaram tão bem de ti que decidi que seria bom ter-te como ponto de fuga para calar o macaco. Estava a contar contigo para me ocupares o pensamento. Mas cheiras sofreguidão a milhas. Fazes bem.Não conspurcar o teu mundo positivo e de alegria intermitente com gente que só te sorveria energia emocional, desinteressante e que nada coloca na mesa a não ser frases obscuras e de difícil compreensão. É verdade andam todos ao mesmo por mais variada que seja a conversa ou as armadilhas, ou as máscaras que colocam. E já decidiste faz muito tempo os limites em que se ordenam os homens que permites que estimulem o teu interesse. Quem tresanda fome não será alimentado.Ninguém me lançou bóia. A Providência parece fazer questão em ensinar-me sem atalhos, a lição que me está a ensinar. Há quem lhe chame dores de crescimento.Não o náufrago.Interpreta como se todo o mundo lhe virasse as costas num planeado intento de o castigar e fazer sofrer. Quando te abordei, o meu inimigo não era externo. Não, não era o mundo que me espezinhava embora assim parecesse. Era o meu sistema de suporte de vida psíquica. Como aparece no ‘Oldboy’, quando ris o mundo ri contigo, quando choras, choras sozinho. E eu só precisava de um bocadinho de engano, de me enganar com alguém disposto a ser ponto de fuga. E já reparei que gostas de dar corda ao futuro enforcado. Pior, sabes dar corda. A generalidade dos cachopos que compõem a tua experiência assim to providenciaram. Felizmente não és a única habilidosa no cordame. Eu já enrolei muitas vezes o pescoço em fibras de cânhamo. Sou extremamente orgulhoso e bem lá do fundo dos meus subterrâneos emerge esta força de auto protecção impossível de controlar, apenas se pode aprender a viver com ela. É ela que me tira as noites consecutivas de sono, que me aperta os mamilos do sofrimento só para ver se não adormeço. Credo, que dramático. Opera em torno de ficções, e bem analisada apenas pretende fazer subsistir o Ego. Mas claro que o mundo não ia colaborar comigo ou com as minhas necessidades, afinal, ansiedade destinada é destinada a ser cumprida. As tuas resistências, comportamento flaky, e indiferença geral foram no fundo a voz do professor da lição que aprendo, dizendo, caminha no deserto e sem atalhos ou paliativos. Por outro lado, espernear contra o destino é apanágio de estar vivo, e eu não sou cobarde em muitas coisas. Decidido a escalar o paredão onde se esmagam as ondas da tua indiferença salivante, coloquei-me a jeito de ser esmagado. Velha táctica, carregar de frente com a brigada de cavalaria napoleónica contra o teu desprezo ou desinteresse, e correr o risco de ser flanqueado pela superlativa demonstração de atenção não solicitada, o que me baixaria, como baixou, o valor que tenho defronte teus olhos.Para valores negativos e por isso obliteras a minha individualidade única e irrepetível com a tua presunção e pressupostos oriundos do juízo feito a priori, com as ideias feitas que deambulam dentro dessa bonita e torneada cabecinha. Por vezes tudo parece conspirar contra os nossos intentos.Que lição de humildade. Retirando a obra do macaco, o que fica é a mais profunda mágoa que é concebível. Mas também a certeza de que quem consegue sentir nesta ordem de magnitude e não sucumbir, é porque está destinado a ser imortal.
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