Fazia tempos que andava para fazer isto.
Não se está assim tão mal na profundidade oceânica. Em certas zonas do fundo até está quente e por lá nadam estranhas criaturas como eu. Deixar a superfície para patos e outros seres que se contentam com os restos à superfície, não vivendo nem num elemento ou noutro, mas num filho bastardo entre ambos. Ovalizado, negro e sem diesel ou baterias, fiquei no fundo sem saber quanto faltava para o fundo do fundo. Não sei, posso estar aqui equidistante quer do fundo quer da superfície, tal e qual como o coma dista da morte e da vida. Se calhar é aqui o meu lugar. Sem me esforçar a emergir, sem me deslocar para o fundo. Não me determinando. Sem me dar, senão ao longe, aos monstros abissais, sem fingir que aprecio estar no meio de todas as larvas de mosquito que não fogem para longe da superfície assim que detectam movimento entre a superfície da água e o céu azul que paira acima. Talvez não tenha passado tudo de um mal entendido. Em relação a mim. Porque renegar a minha natureza? Para ser torpedeado e destruído vezes sem conta e de novo afundar-me em direcção ao abismo. Ao contrário do vaso de guerra, caio sem vezes como estúpido que sou, no caminho do torpedo certeiro. Eu sinto-o chegar. Mas mando-me calar por dentro esperando que passe ao lado. Erro de avaliação sobre mim mesmo, acreditando que o amor supera tudo. Admito, rendo-me por fim, sem armistício em termos sustentáveis, confesso que estava enganado. As coisas são como são e tenho de as aceitar como amargo arsénico. Demasiada lucidez mata e eu devo tempo à terra. Tenho de ser mais honesto comigo. Não me enamorar por fragatas sendo eu submergível.
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