Havíamos combinado em frente da estação do metropolitano das Picoas. Olá tudo bem e seguimos de mão dada. A dona da pensão tratou-a amistosamente e pelo primeiro nome, o que me deixou perplexo o suficiente para me atrasar uns segundos ao sacar do cartão multibanco. Ela segura-me calmamente no antebraço e com uma gravidade de senador romano abana a cabeça dizendo que era por conta dela e nem havia espaço a regatear. O saco de ombro dela, negro, trazia meias de renda e uma garrafa de espumante que sobrevivera da última passagem de ano. Como só se bebe naquela altura, e o resto do ano não se lhe toca, ela achou por bem trazer para o efeito da festividade. Uma cópula. Claro que na sua mente lixiviadora de mulher nunca é uma mera cópula. É sempre algum acontecimento mágico alinhado pelas estrelas e cometas, pelo menos para consumo externo. É que ela quer-me convencer, que é algo com significado. Quer-me desequilibrar, acentuando o carácter místico do tirar as cuecas por contraposição à forma rude como o vejo, simples, sem rodeio. E quando desequilibrado vejo de facto o significado, é quando ela age de forma rude, sem rodeio, e directa ao que quer e lhe interessa. Bate-me quando desaperto o meu cinto. Somos românticos incuráveis fingindo que somos pragmáticos, e elas pragmáticas incuráveis fingindo que são românticas. Aquela merda que eu sentia nas aulas de português analisando a lírica de Camões era o quê? -«João, que achas?» Olhei para ela e reparei que tinha colocado as meias de renda que eu mencionara ao de leve nas paredes de texto trocados por sms. Podia ser levado a pensar que aquilo era para mim. Mas o estar queimado ou a desconfiança, que se tornou uma segunda natureza disseram-me que era apenas mais uma peça da charada que ela montava para se convencer a si mesma. Vês, quando uma mulher coloca determinada quantidade de esforço numa acção ou decisão tomada, como que por milagre toda a consequência das suas acções é irrelevante pois o sacrifício ou esforço em determinado período salvificam tudo o resto, que se justificará a posteriori. Este esforço todo era para poder depois, lá para a frente, poder justificar a si mesma o quer que seja que estava delineado e decidido desde o início. Eu mirava-lhe os quadríceps bem torneados se como numa metalurgia parida no Céu. Os pés bem feitos em que os dedos simétricos e ordenados por tamanho num crescendo nunca ultrapassando o maior que se segue. Os tornozelos nem demasiado finos e abruptos nem demasiado matacões a toda a largura do calcanhar. Os gémeos, visíveis, nem mirrados nem prensados em curto espaço a partir dos joelhos como murro com martelo da mão em mesa protestante. Imaginei o sémen do pai e os óvulos da mãe, a gestação deste ser e as feições de quando era criança de colo. Imaginei os sofrimentos e os choros solitários no confronto com o mundo, no caminho do seu crescimento enquanto pessoa. O silêncio desconfortável fez-me lembrar que ela embelezara o corpo, eu teria que fazer o meu papel. Voltei a colocar as lentes do tarado sexual, ou melhor, do rebarbado com alguma classe pois cita Hesíodo para não parecer muito javardolas. Ela olhava-me com alguma surpresa, por certo contrastando a minha reacção com a de outros em experiências anteriores. Surpresa por me pressentir assim, desapegado e divorciado do meu próprio tempo presente. Sossegou apenas quando o inquilino voltou à minha alma e lhe agarrando o rabo, a puxei para mim, penetrando-a constantemente num beijo prolongado, a boca com a minha língua que usava em dupla função de missionária e animal de carga que traz a saliva de território inimigo para análise laboratorial e fruição. Afinal eu era homem, na sua ideia, facilmente previsível com o estalar de dedos de um corpo seminu. É bom morar em território confortável e reconhecido. As minhas mãos misturavam a força necessária com que lhe arrastava a derme em festas ao longo do corpo, numa verdadeira celebração eucaristíaca ao deus da carne. Há qualquer coisa de gutural que me funde a consciência, quando agarro as carnes de uma gaja que me dá alguma tesão. Mas a puta da divagação voltou no momento mais incómodo, quando lhe lambendo ao de leve o lóbulo da orelha, me lembrei da ideia anterior, porque se dera ela ao trabalho de se embelezar e corresponder a uma fantasia por mim comunicada se o seu desejo quase inexistente por mim dava o sinal oposto daquele que ela pretendia passar. Não me perguntou qual o autor de ficção científica que mais gosto, porque gosto de música perturbadora, como Brahms e merdas, ou por todos aqueles pormenores que supostamente me diferenciam ainda que superficialmente de todos os restantes portadores de pila que ela podia ter escolhido em meu detrimento. Não é congruente, não é lógico e por isso os meus radares internos soam, ou seja, eis a condição humana, mais uma hipótese que tens para a estudar usando a tua líbido como cenoura defronte da tua boca. Senti uma alteração na energia, e verifiquei que estava há demasiado tempo com a língua dentro da orelha dela, que já devia ter o tímpano afogado em saliva minha. Não consigo perder-me ao mesmo tempo em pensamentos e em chavascanço. Aliás, sou viciado em luxúria precisamente porque é o melhor que há a cessar o macaco interior que tagarela nunca se cala filho da puta cabrão que me rouba constantemente o momento presente. Limpei-lhe a orelha com a mão, diluindo o cuspe pela minha palma. Agarrando-a pela nuca e inclinando-a para a cama, para lhe dar um beijo que selasse o momento em que duas almas se uniriam pelo corpo acessório, ela adivinha as minhas intenções e opera outro desequilíbrio obedecendo ao seu plano. O champanhe. Champanhe nada, espumante barato, mas só a atenção dela, não merecia que eu fizesse algum reparo. Ao beber pela taça vi nos seus olhos que reconhecia um mau planeamento da peça que estávamos a representar, ela toda aprontada para deslumbrar numa matiné porno, eu com apenas as calças e o tronco nu, sentado sobre a minha perna dobrada numa ponta da cama, com um à vontade que lhe pareceria a ela como o de alguém sempre expectante das cenas que se vão imediatamente desenrolar, sempre numa óptica de observador. Isso acentuou a sua necessidade de alguma forma cobrir os seus seios com um cruzar de braços ou com um abraço frontal a si mesma terminando a palma da mão algures sob a omoplata, com o cotovelo cobrindo as maminhas que olhavam órfãs para mim, que me arriscava a repetir a minha precocemente ejaculada primeira vez, mais analítico que presente no momento, de novo o cabrão do macaco primordial tagarela que é incapaz de suster o fluxo de pensamentos que emergem à consciência. -«Sabes João, tu assustas-me.» -Porquê? - perguntei eu. -«Não sei.» Oh caralho. As vezes que já ouvi isto. Sei perfeitamente porquê. Porque pressentes que eu estou constantemente a analisar para além da peça que representamos. Tu sabes, reconheces-me no olhar. Sabes que não me entrego, porque no fundo não consigo fingir além de mim, preso na nossa encenação que não trato como outra coisa. Não lhes consigo dar as mãos e partir para uma fantasia de mundo com paredes de algodão fofinho cor-de-rosa, porque sei que assim que embarco nessa ficção é quando olho para a mão que me levando para ali, de repente desaparece e fico sozinho, num mundo cuja rápida entropia leva a que o algodão amareleça e caia de velho, falso, cosmético, revelando o cru cimento que jaz por detrás da carne da ilusão prévia. É isto que as assusta. Que coloque cera nos ouvidos como Ulisses disse aos camaradas, ou que me amarre a um mastro qualquer. As duas coisas ao mesmo tempo não, embato com os cornos nos rochedos e sou devorado pelas sereias. Ou não ouço e mergulho no que dizem, ou amarro-me no único ponto seguro para as poder ouvir. Não há escolha e tenho cataratas de texto a falar disso mesmo. Ela explica-me o que a levou a ceder-me o favor da sua intimidade. Que foi uma camisa que usei que lhe lembrou o avô querido, e uma expressão que usei em conjunção com a camisa, que foi um pedaço de texto que as fez pensar 4 horas, ou que foi uma outra desculpa qualquer que arranjam para mascarar com algodão o cimento de uma escolha feita abaixo do limiar consciente. Amarrado à minha análise, finjo acreditar e faço-lhe festas perdido na perna branca que estende até mim para me tocar. Sei bem que tem namorado, embora ao início me tenha dito que não tinha, mas depois voltaram a falar, e isso coincidiu com um período em que me dava menos trela e atenção portanto deduzo que tenha sido um período de pazes conjugais, seguido de novo período conturbado, cujo extremo descambara no nosso frente a frente nus. Não me meto com pessoas comprometidas ou casadas, sabendo. Epá, não é apenas por imperativos morais. Havendo tanta gaja para aí disponível, sinto-me reduzido neste tipo de cambalachos. Mas também não me chego atrás quando sinto que há algo de especial entre ambos, eu e ela. Desculpo-me imaginando uma situação em que sou confrontado pelo tipo traído. Tens razão, fui incorrecto contigo, e acredita, se pudesse evitar, evitava. Não consideres pessoal, pois não te conheço ou quero conhecer. Mas isso não desculpa a minha responsabilidade. Se te faz sentir melhor, tens direito a dares o teu melhor, um sopapo, sem resposta minha. Um. Vejo-me a erguer os braços e a dar-me à percussão adivinhada. Como se uma órbita inchada ou um dente cuspido pagassem a traição. O cabrãozeco do meu ego vem logo em meu auxílio, dizendo, pá, estes gajos não têm vergonha, metem-se com as tuas, tu metes-te com as deles, olha a x,y ou z, que deu trela ao tipo elegante no trabalho e te largou sem apelo nem agravo, em direcção à Terra Prometida lá pelo sol poente. Vê lá se o gajo se preocupou contigo. É guerra, diz-me o ego. Guerra de quem se alivia com o corpo de outro ou de quem anda à procura de alijar genes à geração que se segue. Eu não queria jogar essa guerra, mas sou fraco. Não, espera, mete muito fraco, nisso. Sem que me dê conta ela está em cima de mim, lambendo-me a maçã de Adão, e entrei nela que está encharcada, e a cama abana por todos os lados. As mamas dela batem-me no queixo sempre que se inclina para ir tocar no telemóvel deduzo que seja para ver as horas. Vai ver as horas três vezes seguidas, o que faz soar as sirenes internas. Por momentos aproveito a teta que me bate no queixo e finjo que a lambendo, viro o pescoço, espreito pelo canto do olho e vejo que o que ela vê no ecrã do telemóvel é a foto dela sentada no colo do namorado, a ele abraçada e feliz. Que caralho, penso, que pensar disto? Uma intuição clara e incisiva, estou a ser usado para uma vingança. Lembrei-me de Susana que traía quem quer que fosse que iniciasse ‘relação’ com ela para que o remorso de ter feito tal, a domasse com culpa, e assim sentir-se devedora sem sujeição a uma monogamia minimamente medíocre. Ela subindo e descendo em mim, abana a cama, e eu olho os quadros nas paredes, absorto de mim, reparando na textura das paredes de cimento, e ela acelerando diz-me que está quase a terminar mais um capítulo dos buracos onde, literalmente, me meto. Vem, vocaliza, abraça-se a mim. Sinto-me decrescer dentro dela. Faço-lhe festas nas costas, beijo-a, ela sente-se contente porque a charada corre como planeara. Marcou golo, chegou ao destino. Será muito mais afável com o namorado, sentirá remorsos e pena, porque não merecendo o que lhe acaba de fazer, é o tónico que ela precisa para se motivar a salvar a relação. Eu sou só mais um elemento que nunca consegue ver como passível de sofrer, afinal sou um sedutor e sei qual é o jogo, e sou alguém com traços de sociopata na forma desapaixonada como analiso o que me rodeia. Começo a sentir nela uma vontade de sair dali, só não concretizada por causa do discurso anterior sobre a camisa do avô, que de tão óbvio e incongruente, me levaria a desconfiar e é fulcral para a charada dela que a minha crença se mantenha inalterada, para lhe poder dar biscoitos de auto-estima no futuro, e para não pensar mal de si mesma correndo o risco de eu revelar a charada, e dizer que ela é má pessoa. Aproveito a tensão que refiro, e disse-lhe que agora é a minha vez. Ela finge espanto por uma virilidade em acção, e de facto dou-lhe uma foda sem sabor, onde o falo hirto trabalha independentemente da minha cabeça e mãos, que vogam pelo seu cabelo e pele não como um amante deseja outro, mas como uma espécie de observador alienígena com abismos de mágoa e compreensão no coração afaga outro ser perdido na sua condição humana. Fica contente por reconhecer-me território já desbravado, afinal vou atrás do meu orgasmo, e não lhe topo a charada nem ela a minha. Uso-a para aprofundar os meus oceanos de mágoa e lamento e ela para se vingar de um namorado que ainda não conseguiu reduzir a menos que nada. Ainda. Posso vir-me dentro dela. Susana achava que era prova de que eu era especial para ela, a muito poucos dava essa honra. Mas não quero. Inundo-lhe o umbigo com o creme pérola, enquanto ela me olha como observadora alienígena fascinada fleumaticamente com a minha condição humana. Eu é que me lembro sempre de procurar as toalhitas, e limpar. Elas pensam sempre que sou fofo, quando o que não quero é rebolar no meu esperma e ficar peganhento quando ele seca. É que preciso, depois de vir-me de lhes dar miminhos, a calma da endorfina só bate aí uns 2 ou 3 minutos depois do clímax. Nesse tempo dou-lhes beijinhos e digo coisas doces como sereia que convida para escolhos, num hábito que começou faz anos, como forma de me mostrar meigo e melhor que os outros, tornando-se depois uma segunda natureza na minha liturgia da cueca. Havia um elã dela para mim. Mas parado, nos bastidores daqueles olhos, por uma decisão racional em não deixar o sentimento progredir além do por ela permitido. Seus olhos queixavam-se a mim de que ela sacava de todos os pretextos do livro, para me desqualificar e não permitir assim que eu lhe penetrasse no coração e me instalasse como inquilino único nessa nossa casa, vivendo no meio de discos de música clássica, contos não publicados e espalhados em papeis espalhados, e restos de comida das sobras de fazermos amor por dias a fio. Ela é médica. Eu escrevo umas coisas, investigo outras, e ando na vida com um espanto não compatível com determinada realidade objectiva que decido criticar. O seu namorado mete mochila às costas e viaja a sítios assépticos publicando as fotos artísticas no Instagram, como quase toda a gente faz hoje em dia vivendo vidas em redes de codependência de atenção e validação. Como que se a vida ‘louca’ ou dinâmica fosse a única passível de ser vivida. Uma barba demasiado bem composta e o emprego técnico, com camisas engomadas e calças de sarja ou chinos e sapatilhas de pele em bronze de solário, revelam a sofisticação ou a tal zona de conhecido que deixa a maioria mais à vontade. O acesso à cueca da paciente médica, não surge por cor dos meus lindos olhos. Sou teimoso e no final da tour de force fui a hipótese que sobrou. Estava lá, estava disponível, passo por inteligente, o que é sempre um extra para uma gaja que quer provar a si mesma que é mais inteligente enganando um gajo que sabe mais que ela. A arrogância da sua profissão, não evidente, claro, que isso não é cool, foi sendo por mim aliviada, afinal conheço os nomes de alguns órgãos e tendões e nervos. Conheço alguns procedimentos e mais, sou deveras interessado neste tipo de coisas, o que granjeia algum respeito pela minha curiosidade. Já a tinha visto em perfil do Tinder, mas não podia revelar alguma vez que sabia que andava à procura de alguma coisa, as gajas ofendem-se com isto. Conhecia-a numa formação que fiz. Senti haver ali algum feedback de interesse dela, mas felizmente, sinto isso em quase todo e qualquer rabo de saia que olha para mim. Mas soube logo que eu não era gajo para ela, muito menos para apresentar aos pais. Um gajo instrumental sim, final não. Só podia adoptar a táctica do condor, vogar lá no alto e mergulhar nela numa altura de fraqueza. Não é ser águia, veni vidi, vice, que é o que eu prefiro, mas falta-me o que se destaca no radar desta moça. E soube-o quando desabafou incautamente, sobre a marca e modelo da stationwagon do instrutor da formação em que nos conhecemos. Ora eu sou gajo e não ligo muito à marca de sapatilhas ou do relógio do outro, mas a cachopa avalia o potencial alheio pêlos objectos que cada um exprime a sua individualidade industrial ao mundo. Em vez de me retrair o meu orgulho tornou-a desafio. Para cabra materialista, cabrão idealista orgulhoso. O difícil foi vencer o preconceito, a decisão prévia de me ter rejeitado do lote de potenciais escolhas. O meu trabalho seria superior ao do trolha que reboca uma parede. Paciência e engolir orgulho de escuteiro, passo a passo. Focar no objectivo melhorando o processo. Pelo meio ia desabafando. Das coisas que o namorado lhe fazia, muitas das quais me faziam ver nele um gajo inteligente e com experiência em lidar com mulheres que exigem muita manutenção. Das crises que ela provocava na relação de molde a culpá-lo e fazer admitir culpa tal que modificasse o seu comportamento. Tens de pensar o que vais fazer ou se achas bem o que fizeste. O tipo, imagino, devia partir a cabeça procurando o fio de Ariadne da culpa que sentia sem remetente da mesma. Algumas vezes dizia-me que me mandava sms com ele ao lado ao que eu achava estranho que uma mulher «minha» fizesse, pelo menos sem consequência que só podia ser eu sair de cena e acabar-se a brincadeira do braço de ferro. Percebi naquilo que dizia e fazia, que estava a fazer trabalho de sapa, moldando, torneando o gajo como que num torno metalúrgico parido no Inferno, de forma a que ele se tornasse no projecto que ela idealizara, e que achava que lhe dava a segurança que precisava aos 35 anos. Muitas vezes eu nem sabia o que pensar do gajo, se teria compaixão pelo tipo, se ele é que controlava a situação. Numa das várias vezes em que me deu boleia com o carro dele, disse-lhe que adorava metafísica. Olhou para mim como se eu fosse um crente das espiritualidades de cordel que por aí pululam. Eu percebia que ela não precisava de extrair recursos dele. Mas também percebia que a sua ascensão social lhe criara o gosto por maiores peixes no lago. Médica chefe ou especialista de qualquer coisa exige tipo condizente com o estatuto. Ah é programador, ou engenheiro de qualquer coisa. Não tem impacto. Metafísico muito menos. Se ele bancasse as contas em casa, seria muito mais fácil de entender. Assim, ou ela era muito solicitada no meio sofisticado dos tratadores do corpo, onde até a nossa conhecida Célia se sentira elevar para o 4º ou 5º Céu, cuspindo de alto para mim em toda a linha excepto como potencial dador de biscoitos, ou o dinamismo hipergâmico estava mais uma vez em acção. Desamarrei-me do mastro calculante e ajudei-a a vestir-se. Separámo-nos onde nos encontrámos e prometemos manter contacto. O contacto dela tornou-se mais esparso, já o esperava, a vingança cumprida, eu seria só uma comodidade a manter perto o utilmente suficiente, mas longe o confortavelmente exigível. Em banho-maria, portanto. Sabia que ia passar uns tempos, melhor ou pior disfarçados por ela, com menos atenção. Investiria numa retoma, com o camarada do outro lado. Os seus períodos de atenção comigo iriam variar de acordo com os graus de harmonia com o tipo. Em caso extremo talvez me desse a benesse de ter acesso à cueca, usando a terminologia que eu lhe dera para usar comigo, como notas de banco manchadas para serem reconhecidas. Confirmando o meu discurso com as expressões que eu utilizo, nas alturas em que me quer usar ou manter por perto de novo, prova esta médica o seu materialismo pouco metafísico, continuando a achar que eu sou terreno por si conhecido, ficando já longe o susto inicial que lhe provocara. Não me posso queixar da escolha que fiz e pela qual o orgulho me faz pagar, continuamente. Não é provar que sou mais esperto, nem sei que isso significa. É perceber o puzzle, por vezes repetido, da forma como ela, a mulher, vai combinar os mesmos elementos da charada para conseguir o que quer e propõe. Pelo caminho sei que não posso tomar isto a peito. Como observador alienígena sei que nenhuma é minha, é apenas a minha vez. A mulher que trabalha todo o dia com corpos desfeitos, dá-me o vislumbre de como se faz uma alma. ![]()
0 Comments
Leave a Reply. |
Viúvas:Arquivos:
Outubro 2024
Tori Amos - Professional Widow (Remix) (Official Music Video) from the album 'Boys For Pele' (1996) - todos os direitos reservados:
|