Os olhos.
Os olhos. Tinha fantasiado dar corpo ao fascínio que sinto por ela, penetrando-a lenta e ritmicamente olhando seus olhos no fundo preto onde me perderia, e ela olhando os meus. Até ejacular como se a minha caixa torácica fosse implodida por dentro com espasmos de cargas explosivas avulsas. Virmo- os dois, olhando no mais fundo das nossas almas e corpos. A luxúria foi tal que só exigia mais e cada vez mais, como se fazer amor não fosse um acto de carinho mas uma guerra de cerco destruindo as muralhas um do outro para podermos viver unidos, finalmente em paz e êxtase. Dentro da minha camada cortical uma voz perguntava, '-Cerejinha, que olhar em pulsão estilhaçante é esse, oscilando entre duas forças que se aniquilam, aniquilando a ti?' Quando todos morrermos estas pulsões que sentimos como motores sónicos pelas estrelas, serão anedotas em honra do Nada. Reverberamos em mundos fechados a estímulos repetitivos, nada de novo debaixo do Sol. Cada mancebo convencido que é o melhor e mais inesquecível na cama, cada donzela convencida que é a mais apta para adoração. Mas somos mais que ansiedade de perfomance, não somos? Fomos em determinado momento no tempo, tal como determinado momento no passado em núpcias de intimidade, verdadeiras almas laboriosas no derrube dos limites que o corpo impõe, para se poderem unir. E como te disse no dia do nosso abraço eterno, para vires ter comigo terias de te engolir toda e partir do zero, querendo realmente mergulhar no que sou. Satisfaço-me com a alegria que emana de ainda conseguir gostar assim, de reverberar como cristal recentemente arrefecido saído do forno. Os teus estilhaços afagam-me da mesma forma que afogo meu falo na tua vulva que o exige. Passo lentamente a mão pelo teu rosto, e digo-te que que te quero muito e que queria muito lamber as cicatrizes das tuas guerras. Entrar nessa cabeça e entrar em luta contra todos esses demónios que nos espreitam daí, estrangulando-os, partindo-lhes os braços, deslocando omoplatas, ou partindo colunas. Mas sei que me dirias que não sou superior a ti, e eu não conseguiria extirpar o pensamento em hierarquia, dessas palavras. Resta-me a intenção, e o lamento pelo kuzushi constante, instrumental ou não. Pouso os lábios entre um teu olho e o nariz. Beijo-te suavemente e com todo o carinho que te tenho. Enquanto houverem Golens entre nós, nunca nossas almas se abraçarão. Disseste '-O horror, o horror...'
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Tori Amos - Professional Widow (Remix) (Official Music Video) from the album 'Boys For Pele' (1996) - todos os direitos reservados:
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