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Purgatório de um não baptizado III

17/11/2021

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A mulher casada dos enta é um dos mais trágicos e cómicos temas de estudo para os primatólogos.
A Sofia aborda-me assim do nada pelas redes sociais.


Oi como estás e panhonhices do género.


Ok, e como faço sempre, para terminar a conversa sem magoar os sentimentos da pessoa, torno-me vernacular, aludindo a expressões básicas de desejo pelo seu corpo e actividades lúbricas em comum.
Chupa-me o pirulito e engole, e afins.


Algumas terminam a conversa para manter a distância, outras continuam para obter o que realmente querem, validação.

Vês, não querem a tua pessoa per se. Querem ter a certeza do teu desejo genuíno para se sentirem melhores consigo mesmas.


Sim, é uma constante ao longo da vida, mas a matrona quarentona é alguém que se vê presa às opções das suas escolhas.


Algures nos trinta ouviu o anúncio no megafone, de que o centro sexual fechava dentro de minutos.


Atrás de si deixou n pretendentes, na senda de encontrar o ideal no amante que viesse a seguir. O grau de exigência aumentando na medida proporcional ao sentimento de merecimento, que como calculas, por causa do solipcismo, é já bastante elevado.


Aos 30, já não exerciam o mesmo feitiço que aos 20, e por isso começam a perceber que o tempo está a acabar.
Decidem então contentar-se com um prémio de consolação e não com a sorte grande.


Escolhem um tipo, que corresponda ao mínimo da sua checklist, para a fase que se avizinha. Já não é a hipertrofia muscular a reinar nos critérios, mas a capacidade de trazer para casa os meios.


O pobre diabo, sabe no fundo, que a única coisa que tem a seu favor, é essa capacidade de trazer para casa um ordenado. Mas, ei, sente-se um vencedor da vida, afinal uma portadora de vulva faculta-lhe acesso orgasmático, sente-se acima de todos os outros incels que a única acção horizontal disponível é a que conseguem por via do pornhub, acumulando papel higiénico amarelecido na mesa de cabeceira nocturna.


Perante a escolha entre noites solitárias a espancar o macaco e uma tipa execrável que se contenta com ele enquanto meio e não como fim, adivinha o que escolhe ele? Claro e andará à porrada contigo pelo direito de poder pernoitar com uma gaja que não o respeita.


Não se importará de te desfazer um maxilar numa manilha de esgoto se souber que isso lhe garantirá umas quantas noites de sexo sardinha, que é aquele em que ela jaz no leito ulisseano de perna aberta à espera que te despaches enquanto sonha com a sua paixão de juventude para suportar o teu bafo quente no seu pescoço e as tuas palavras de amor ao seu ouvido.


Assim era o Hilário. Esposo não de facto, da matrona que me contactara, trabalhando num armazém de peças auto. Detesto saber quem são os gajos, das gajas que os encornam.


Por motivos éticos, pois em 99% das vezes não encorno ninguém. Mas porque também sei que se souber quem são, já não posso chafurdar na carne morna das suas amantes.


Ela metia-se comigo, apesar dos meus silêncios, e eu notava que a partir de determinada altura, me considerava tão abaixo de si, que não conseguia compreender por que motivo eu não queria foder com ela.


O que acentuava o seu drama de validação, pois se eu, o mais baixo na sua escala, não queria lambuzar-lhe o ego com elogios, então é porque de facto, o seu tempo havia passado.


Insistia comigo, para ir passear com ela, para me mostrar os leggings novos, e mandava fotos de si em ligas, como se anzóis lançasse para o elogio.


Como não obtinha feedback, gabava-me os textos, que anuncio nas redes sociais, aliás, único motivo pelo qual as tenho.


E eu perguntava-lhe: «-Tens noção que eu escrevo sobre esta merda? As tuas tácticas passam ao lado.»


Podia perguntar-lhe o mesmo mil vezes, tal como as mil vezes que Susana dissera que me amava.


Estava tão convencida da certeza da sua intuição, de que eu era apenas um macho beta, um subproduto evolutivo incapaz de reproduzir, de ter valor, que o quer que eu dissesse era ruído ante a sua certeza cabal.


Às fotos tiradas ao espelho pandémico, eu dizia, que boazona, fantástico tenho de vamos x e y…


Já lhe facultava todo o tipo de validação a ver se me deixava da mão. Claro que dizia a mim mesmo que se no passado se havia feito melhor que eu, passando por mim na rua e falando por favor, não era agora como náufraga que iria receber uma bóia minha.


Sim, sou vingativo, e depois? Cristo é que dava a outra face. E macacos me mordam se morro agarrado a uma cruz.


Ora pensava de mim que eu passava a existir de acordo com as suas necessidades. Amas de forma oportunista minha puta? Pois nem para depósito de esperma serves.


Macerava-me a mim mesmo, por ter este tipo de pensamentos e lá ia aturando a postura de quem via o tempo perdido como o do Proust, ido de vez, e a avenida Morte aproximar-se a passos largos, sem dentes, sem forma de viver além do que sempre fora o seu maior bem, o aspecto físico.



Fizeste a tua cama, dorme nela, eu durmo na minha. Meia dúzia de punhetas por dia, e sinto-me semi feliz. Já tu precisas da aprovação de outro para poderes viver contigo mesmo. Chafurda-te aí nas consequências das tuas escolhas, apodrecida e convencida de que és o centro de gravitação da Humanidade.



A coisa ia apenas gerando textos, e alguns professores meus me ligavam dizendo que os meus textos estavam brejeiros, que tinham pena e esperavam mais de mim. E eu respondia, eu quero é que tu realmente te fodas, pois esta merda é o que de mais próximo existe do que está abaixo do verniz das coisas.



Se te queres iludir com quimeras, não me arrastes para baixo contigo.



Do outro lado da linha vinha o silêncio e a solidão que fazia vacilar e lá fui foder com ela, tinha os colhões cheios e sentia a falta de carinho humano.


​
À sua preocupação sempre constante de saber todos os passos do marido oficial, afinal não queria perder o boi que a sustentava, saí da minha narcolepsia e disse na sua cara ofegante, não te fodo, somos bem mais que isto.
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