Durante gerações e gerações de homens, o fenómeno amoroso tem sido fonte de perplexidade apenas por uma mera confusão ou mal-entendido. A dicotomia entre sujeito e género. O interpretador masculino, com a sua racionalidade lógica (existe outra?), privilegia a interpretação da realidade como se esta fosse uma máquina. Quando avalia a peça «mulher», transpõe para a mesma uma forma igual de pensamento, por comparação com a sua, mas com o cheque em branco infinito, de a «mulher», ser como ele a pensar, mas também algo de melhor ainda, por causa da sua suposta ‘intuição’. Esta é a essência da ‘deusa’. A primeira vez que tive de lidar com esta ideia, tinha 16 anos, e alguém me disse «-Elas também cagam. E cheira mal.» Não consegui não pensar nisso. Eu sei, apodicticamente que a mulher caga e mija, ergo, é humana. Mas por saber, não quer dizer que tenha interiorizado. A gaja, leia-se, humano do sexo feminino, continua a aparecer aos meus olhos, como um pouco acima da condição de mortal. A grande diferença entre percepção racional e idealização, que exprime a forma como gostaríamos que as coisas fossem e como elas são de facto. É o grande trunfo delas, irem para a guerra sabendo que o inimigo se derrotou antes do combate. Só assim pode ele submeter-se. Um elemento nele funciona a favor delas. Aprendem isto muito cedo. Olham para um homem e conseguem cheirar o sangue da fraqueza, de tudo aquilo que podem usar a seu prazer e capricho. Às vezes vou dormir mais cedo, porque corro o risco de sonhar com ela. Sonho com ela dia sim, dia não. Tenho 50% de probabilidades de viver com ela em sonho, que sonhar acordado viver com ela. De lhe fazer festas no rosto quando sei que me trai copiosamente. De lhe dar beijos na bochecha onde sei que outro ejaculou horas antes, apenas evitando o cabelo, a pedido dela. Odeio-te. Odeio-te apenas por me forçares a dar razão ao vulgo por distinguir amor e paixão. Prefiro-te em sonhos, onde apenas lamento a tua ausência. Mais suportável que a realidade da tua presença. Sei que o sonho tem viés. Mas depois de limpo de ódio, ressentimento e raiva, o que resta é só a prova de uma coisa. Que de nós os dois, eu sou o humano. Tu, um cliché.
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