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Serra

12/7/2019

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A Serra, a Serra…
A Serra é turca. Conhecemo-nos por meio de uma aplicação de redes sociais.
É escultora conceptual para os lados de Istambul.
De algum gabarito por aquelas partes.


Descende dos judeus fugidos daqui dos tempos de D. Manuel.


Andava à procura de alguém que lhe mostrasse o país além da merda de lengalenga dos guias turísticos.
Eu disse-lhe e é verdade, mostro-te esta merda como poucos a viram.
Habituámo-nos a comunicar todos os dias, vídeo-chamadas e merdas do género.


Nas primeiras 6 ou 7 vezes em que falámos com imagem à mistura fez birra e fez-me rever a minha abordagem demasiado directa.
Fez-me relembrar que nem todos são como eu.
Que o Coffe and Baggel não é para engates na Turquia e que as minhas alusões constantes a sexo a incomodavam.
Ok Serra, reconheço-te razão, mas não no que sustentas. Disse-lhe.


Analisei os fundilhos das minhas calças, da minha personalidade a partir dos olhos de um outro, e posso reconhecer-te razão quando dizes que a relação que alguém tem com os contactos de derme, cuspo e esperma, difere do seu próximo.


Não te queria ferir a sensibilidade assim.
Após a minha contrição continuei exactamente como antes. O que importava é que eu havia reconhecido que ela não era uma qualquer, era séria.




E disse-lhe mais, Serra, tens razão sem querer.
Já conheci demasiadas tolinhas que pelos meus modos meigos e gentis, me tomam como assexuado amigo, aquele que qualquer gaja gosta de ter sabendo-o em tensão para a foder ao mesmo tempo que sabe que só se aniquilar por completo em abjecta submissão, e se a apanhar em total desespero, pode algum dia aspirar à cueca dourada.


E há muitos assim, que por uma migalha esperam algum dia comer todo o pão.
A minha brejeirice serve dois fins Serra, disse-lhe em inglês macarrónico.
Demasiada intelectualidade aborrece-me e por isso tenho de meter uma cona ou uma pila, para aumentar a endorfina de uma monotonia sem sentido, que caralho somos primatas com dois olhos, que sabemos nós do mundo. E o outro fim é para que nunca me possam confundir com um punhetas que dá atenção a uma tipa apenas para optar pela amizade travestida até ao ponto em que ela reconhece que ele é tão querido e fofo e amigo, que é bom que seja namorado. Isso nunca acontece, nem quero eu entregar o meu falo assim em território inimigo e sem apoio ou reforços.




Antes passar por porco ou rebarbado que por um anódino que se trai a si mesmo sob um pretexto de esquema para sacar a gaja. A gaja que se foda, não sou uma força a regatear.
Já o fiz e odiei-me mais que as gajas que me viram fazê-lo.


Olá Serra, desculpa lá a minha insegurança, mas já pensaste na minha pila hoje? Quê?Falar em pila ofende-te? Mas olha para cada pessoa na rua, saiu de uma pila. O sexo e o chavascanço são a mais omnipresente força telúrica, observável. Não me digas que a tua conceptualidade via esculturas nunca te levou a esta viela.


Quando fodermos, faço a depilação antes para não ter de suar para cima de ti, e podermos estar horas nisso.
Explica-me a tua exposição ‘Sleepwalkers’.


A sua descrição parecia ‘Hegel para crianças’, como se eu fosse incapaz de lhe apreender os intuitos.
Andamos como sonâmbulos na vida, e se isto é um sono qualquer, um sonho de algures onde estamos mesmo acordados.


E eu perguntava, de onde, de outra dimensão, de outra vida, de outro eu, e o que fazer desta onde o palpável se move pelo espaço a uma velocidade constante, e onde tudo o que nos engana é ainda assim existente?


Olhava-me como transeunte por jardim zoológico olha para a aldeia dos macacos.
A sua indagação parara no ponto em que suscitaria a pergunta perturbadora inicial, não aprofundara.
E se, bastava.


As consequências das merdas que propunha não lhe interessavam.


Vens cá a PT? Boa, apalpo-te o rabo e mostro-te por onde saíram os teus antepassados quando daqui foram expulsos.
Apesar das merdas de gaja, era alguém com quem se podia conversar de forma satisfatória, sobre vários temas. E o único pedantismo era com a sua arte, não com o resto.


O que eu entendia bem. Não leu um caralho do que eu escrevo, e por mim na boa. Eu é que tenho o mau gosto, explica lá essa merda que fazes, que queres dizer com isso.


Entretanto conheci Flávia e ocupou-me todo o tempo de antena mental.
Já lhe respondia no messenger a altas horas depois de saber que dormia.


Já só havia espaço para a minha Flávia.
Entrara como cria de cuco no ninho do meu coração e expulsara todas as outras.


Não fui esperar Serra ao aeroporto, e foi já a 2 ou 3 dias de ela voltar para a Turquia que a fui encontrar a Cascais, para com ela tomar café.
Fodeu-me a cabeça com razão por causa de não a ter ido encontrar mais cedo com a desculpa que o carro tinha uma cena com a chuva.


Num vagão da linha imitando bar, tentou dar-me as mãos para cimentar um elo que a minha Flávia obliterara por força de existir.
Que um novo mundo com tudo pago por mim aguardava nas costas de Ílion, Anatólia.
Foda-se, um sonho arqueológico ria-se para mim à minha frente.


A minha integridade debatia-se com o não magoar aquela alma. Sim, fazia-la na boa, alta, bonita, muito inteligente e sofisticada. Dizia-me, Ióão, i am in a point in my life where i dont know if i devote myself completely to my art or to building a family.


E eu, que queres que te diga, caralho. Não só teríamos de morar juntos a ver se te aturava, como tu com 40 anos mostras toda a bagagem que tens com a pouca experiência que não devias ter.
Fui deixá-la no hotel onde estava com a mãe e o padrasto.


Para a não deixar ir com sensação de que nada havia progredido, dei-lhe um beijo na boca, mais constrangida que padre pederasta num infantário em dia de festa.
Os lábios pareciam tetraplégicos dançando tango nos Alunos de Apolo.
Afaguei-lhe a cara mais por lhe reconhecer a condição humana que por carinho inerente.
Eu havia-lhe agradado. O mesmo script de sempre, de aspecto rulo.


O respeito que cativo, talvez…




Seus amigos sefarditas haviam-lhe dito que Portugal iria estar in, nos próximos anos.
Eu ria-me, esta merda não muda, dizia-lhe, olhava-me séria.
Contei-lhe a história desta merda a partir da luta de classes. Bocejou.
Que se foda.


Serra, também escrevo. E ela, que se foda.
Ok, uareva.
Fui ter com ela no último dia.
Encontrámo-nos no Martinho da Arcada.
A meio da tarde, onde lhe explicava por onde tinham entrado as águas do terremoto, agarra-me nas mãos e diz-me, desesperada, para não perder esta hipótese que a vida me dava, com tudo pago.


Aquilo na cabeça dela fazia sentido. Na minha asco.
Não a levei a mal. Nem quando insistiu para que a levasse para um motel para a foder.
Percebi que queria dar-me uma amostra, sabendo que após a mistura dérmica, se cria um vínculo fodido de dissolver.
Gajas do caralho, mas eu já sabia da poda.
Não há foda para ninguém, meti-a num táxi, beijo grande e até um dia destes.


Em direcção a Santa Apolónia, ia pensando, foda-se as gajas que entram e saem da minha vida.
Caso claro de alguém que o meu instinto disse vade retrum.


Em surdina, a ideia de que, apesar da ligação emocional, havia deixado Serra, com forma de lidar com uma química que lhe era desfavorável.


Que faz Flávia, assim que pode, vai falar com Serra, para a tirar, como cuco, do ninho.


O esforço que eu havia feito para me monopolizar como inadequado originário da rejeição, sucumbe sob a capa, de que os homens são todos iguais, este tinha mais uma e andou com conversas da treta.


Obrigado.
Menos de um mês depois, ambas já tinham outros mancebos no cardápio do seu restaurante.
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