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Sobriamente ébrio

25/4/2022

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Ela joga a cartada do «-Amo-te.»
Apenas com a convicção suficiente para não passar por má fingidora.


Chamam-lhe ‘intuição feminina’ e dão-lhe alforria de coisa mágica, de dom inato a qualquer possuidor de vulva.


Não é mágica, nem exclusiva do feminino. É mera observação de linguagem corporal e mais uma ou outra pista escondida, como entoação de voz, ou forma de olhar. Tal como qualquer gajo sabe detectar a postura agressiva de um oponente, também ela lera na minha postura corporal o meu distanciamento, a minha voz seca e não melosa, e toda uma postura que prenunciava uma ruptura. Pressentindo isso, tentava manipular-me emocionalmente para adiar a ruptura, de forma a ser ela a fazê-la posteriormente.



Quantas vezes caí eu nisto. Vale a pena apenas para ver como a pessoa é na realidade, e não no fingir dela, e na minha idealização.


Se odeio as mulheres, não de todo, amo-as com toda a força do meu ser. Mas deixei de comer gelados com a parte frontal do meu crânio.


Percebi que a minha idealização amorosa resultava quase sempre numa ruptura decorrente de uma teimosia minha. Ou me amam pelo que sou, ou não faço o mínimo esforço para engodar. Estou aqui para ser adorado, não para conceder paz à realidade das coisas.


É fácil enganá-las, comê-las e cuspi-las para a beira de uma estrada, literalmente. Mas porque conheço a minha mãe, tias, primas, sou incapaz de o fazer. Faço uma cortesia civilizada, como os combates aéreos da Ia Guerra Mundial, de não anular os egos das gajas que comigo cruzam caminho.



Às vezes é preciso encaixar um murro bem no queixo. Dou-me a esse luxo. Mesmo sabendo que cada amor que morre leva parte de mim, aquela parte responsável pela idealização, única forma que temos de engolir seres humanos do sexo oposto com personalidades de merda.


Por personalidade de merda, denoto o ser humano do sexo feminino que se acha merecedor de tudo e mais alguma coisa, por causa do valor inflacionado da sua vagina. A tua vagina não vale muito, os gajos é que têm 17 vezes mais testosterona que as mulheres. Ah cabrão do ego, essa força que faz identificar o indivíduo com a simetria corporal que desperta algum desejo no sexo oposto. Não tens algum mérito por ser bonita. Tens uma janela de tempo, que a Mãe Natureza te deu para enlouquecer um random homem, de modo a comprometer-se no teu bem-estar e da potencial prole. Mas elas continuam um pouco por todo o lado a posar no Instagram, para o seu corpo como que exprimindo para o observador que o que ali está é um pináculo de vida, um produto gourmet para consumo com exigência. Ainda hoje passei por uma ninfeta, na volta da minha corrida diária, como todas as ninfetas, que percorrem a pé uma qualquer estrada, demasiado arranjadas para a ocasião, desatentas porque toda a sua atenção está no ecrã do telemóvel, dando resposta a todos os pretendentes de Penélope, que lhes solicitam atenção e favores sexuais a troco de atenção e encómios. Desde puto que me lembro de não dar o biscoito, o prémio do meu olhar para quem o usa apenas para se sentir bem consigo mesma.





A Mãe Natureza passa-nos uns filtros de merda pelos olhos, que nos cegam para as personalidades de merda das gajas com quem nos cruzamos. As gajas não são todas más. Aquelas com que me tenho cruzado é que deixam a desejar, tal como eu, pois eu não me isento da mousse de dejectos a que se chama ‘desgostos amorosos’.



Esta é a única altura em que posso ferir o ego de uma mulher, quando eu decido a ruptura. Se for ela a iniciar, o quer que eu diga sobre ela, a sua maneira de ser, defeitos e erros, será exclusivamente interpretado como ressabiamento pela ruptura, o que só inflacionará ainda mais o seu ego preenchido pelo vento de várias propostas atraentes de outros competidores.



Se uma gaja te descarta, não lhe apontes os seus defeitos, o seu feitio bovino a roçar o bpd, a sua falta de graça fora das sessões semanais de arranjo de cabelo, unhas e pele na esteticista, o seu comportamento intragável com as tipas do pans e company, a sua indigência cultural. Nada do que lhe apontes tem efeito, vai interpretar que estás a ver se a magoas por te descartar.

É uma luta perdida. Deixa-las ir.



As únicas falhas de carácter que assumem, são as que tentam esconder de toda a gente.



Levantou-se, deitou-me o vinho à cara, e foi-se embora, numa cena teatral que deve ter imitado de algum filme.



Enquanto todos me olham no restaurante, sorvo o vinho que me escorre pelo rosto, e imagino as vinhas regadas a sangue dos antepassados.



Ligam-me para o smartphone. A Rosário matou-se.



Quando consigo mover alguma parte minha, decorreram uns 30 minutos.


Anteontem estive com ela, e ela parecia bem, mas por algum motivo eu já sabia que nada estava realmente bem.
No funeral, no Alto de São João, memorizei a campa.



Era a noite de maior pluviosidade do ano. A terra ainda estava tenra, só faltava estar quente. É fácil abrir um caixão. Não sei quanto tempo chorámos os dois à chuva.

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