Porquê meter este álcool todo pa carola, entendo agora porque morreram alguns alcoólatras que conheci. Os primeiros instantes das sinapses turvas provocam a única sensação de euforia que consegues sentir. Agora que não amas ninguém, e por isso bebes, já não sentes palpitações de ansiedade com o tempo que não passa antes de ir visitar o teu amor, e estarem na fase de enamoramento em que o sexo ainda é uma celebração e não um ritual. Por instantes, suportas estar vivo e esquecer o pensamento constante das rejeições passadas, daquelas que te fizeram mal, na tua ideia, ou que caminharam desastrosamente pelo fino tecido dos teus sonhos walk gently sem qualquer arroteio de consideração quando deixaste de ser útil. Ou quando reavalias os erros do passado, e tens o dom de assumir alguma responsabilidade na pouca felicidade que agora tens. Mais um trago. Mais uma fuga, para longe do tratamento de ódio que acabas por dar a ti mesmo por não teres sido forte o suficiente nos momentos chave. Quando a tolice dela exigia O corte abrupto. Quando percebeste que já se havia retirado da relação pela qual continuavas a lutar sozinho, convencido que é isso que as pessoas dignas fazem. Toca o cabrão do telemóvel. Sempre nestas alturas. «-Vens ter comigo ou não?» Já me tinha esquecido dela. Tenho uma foto no Bumble, tirada no WC da FCSH, e não sei por que motivo, não me larga mandando mensagens. Estive para desinstalar a app, mas acabo sempre por a deixar, pois às vezes quero ver rostos bonitos ou gajas entrevadas que exigem o melhor do mundo, só porque ser mulher é um prémio. Sortudas. Até tenho que fazer, mas ficar aqui neste canto escuro a ler documentação polaca do século XV, que a nada levará pois o universo parece ter virado o rabo para mim. E eu não gosto do rabo de gajos. Há gajos e gajas que parecem ter nascido com o rabo virado para a lua…não aqui este teu amigo. A mim, é a lua que me vira o rabo. E logo a mim, que nem ligo muito a rabo. De modo que a seguir aos meus sonhos, só se seguem desilusões. Deixa lá ir ver se esta vale o esforço de sair do degredo, e fingir que me deixo ainda levar por aventuras meio amorosas de música pimba. Sou javardão na mensagem, mesmo a ver se a ofendo e me liberto da promessa de a encontrar ao vivo. Não responde à provocação e espera-me à hora que me tinha dito. Estou vinte minutos atrasado. Estaciono o carro debaixo da ponte e faço o bonito caminho a pé, mas noto que neste dia pandémico até o frio está desolador. Uma aridez no ar, e uma secura no coração das pessoas, que teimosamente não usam máscara no calçadão. Mensagens dela a dizer que se vai embora. Vejo-a ao longe, encostada a um pino de passeio, ao Sol, está a fazer bluff. Pergunto-me onde me vim meter, não quero relações com ninguém, estou emocionalmente indisponível, embora nunca negue as cavacadas que Deus me lança ao caminho. Se acontecerem acontecem. E também sei que para sair do torpor, é preciso jogar, não se ganha a sorte grande sem haver jogado primeiro. Manda uma segunda mensagem a descompor-me, mas consegui colocar-me atrás dela, tal como da tontinha da Sónia há uns 2 anos, e fiquei a mirar-lhe o rabo, a cumprimentá-lo telepaticamente ameaçando-o de todo o tipo de velhaquices futuras. Não gostei. Ou compensas com a personalidade ou não é pelo rabo que me encantas. Olha para trás e vendo-me continua a reclamação de a ter feito esperar 20 minutos, e que exigia uma desculpa. Exige para aí. Ah mas nunca um homem pode deixar uma mulher à espera. Para trinta anos, tem uma mentalidade atrasada, digo ao meu botão. Convido-a para tomar café na esplanada, e ela indica na direcção oposta. Tão cedo e já a exprimir quem ela quer que manda. Está mal-habituada, a gajos que lhe mentem, dizendo que não são casados, mas que a tratam impecavelmente, exageradamente bem, só para a aliciar na fantasia. E elas caem. Impressionante como caem. Caem que nem tordas. O que é que queres? Um chá. Peço um chá e um gin tónico, pago, pois, sei que cheguei atrasado á minha forma de pedir desculpa quando me exijam que peça. Sentamo-nos a falar e lembro que não havia nenhum esforço a fazer, eu já decidira que a não iria comer, portanto não tinha de desempenhar nenhum papel, apenas absorver informação para mais um texto, até que uma epifania goza em pleno no meio da minha cara, eu envolvo-me com mulheres, de forma indirecta, para poder escrever. Ou pelo menos para poder escrever de forma sincera. Tal como bebo, bebo para ascese a estados de consciência além das minhas determinações neuróticas. Não, não é só para esquecer, pensas que era só fuga? Não. É para arrepiar caminho além dos meninos e meninas dos dóidóis. Vês, ao crescermos vamos acumulando, de acordo com a nossa personalidade e sensibilidade, feridas psicológicas. Dos menos sensíveis, dos mais traumatizados e violentos, e implacáveis que nós. Ou tu pensas que a Susana é ‘normal’? Essas violências, entram na nossa psiqué, e alojam-se tomando conta do imóvel. Tomam conta da casa e com o tempo tornam-se a nossa voz interior. A vítima passa a ser a colónia do disfuncional agressor. Tu não és mau, ou má, foste foi colonizad@ por gente disfuncional. Gente que fingiu amor ou amizade, para se aquecer contigo ardendo na fogueira. Pensava nisto brincando com o cubo de gelo do gin, quando ela falou mais alto exigindo que eu estivesse presente. Perguntei-lhe porque não estava com os namorados passados e andava entretida com o Bumble, onde só os traumatizados de guerra persistem. Explicou que acreditou demasiado nos homens, e a mesma lengalenga do costume. Perguntei quais eram os seus defeitos, e só me enumerou qualidades, que se entrega demasiado e acredita nas pessoas, e etc. Perguntei-lhe de novo, quais.os.teus.defeitos? Não me soube enumerar um, e eu disse para mim, está o filme feito. Percebendo a ‘irrazoabilidade’ do que dissera, pergunta-me aceleradamente, se havia algo de mal com ela. Não, respondi eu, recriminas-te com 19 anos, quando começaste a namorar, com o que viria a ser o pai dos filhos, quando não tinhas experiência. Ah mas eu devia saber. Pára, disse eu, com essa exigência contigo mesma, não tens que ser perfeita, ama-te mais um pouco. Mas eu sei, diz ela, que tu achas que as mulheres são umas cabras sem introspecção. Foda-se. Como sabes isso? Perguntei. Havia cheirado o meu Facebook onde tenho os meus sites para a escrita. Aqui que ninguém nos ouve, eu não acho isso. Ou melhor acho, mas os homens não são melhores. Contei-lhe da minha experiência em Valenciennes, onde privara em contexto de trabalho, com homens de todas as origens sociais, especialmente malta que se encurralara em más opções de vida, e que só uma profissão assim, de levantar às 6 da manhã com o gelo a rugir no pára-brisas, e chegar às 18 pela tarde, meio bêbedo pois havíamos parado no Intermarché da zona… E que durante o trabalho, era uma luta a ver quem fingia trabalhar mais, e agradar aos franceses. E que certo dia levei cafés para toda a gente de certa tarefa, pois havia ido buscar para mim, e que ao oferecer café a cada um, boa parte deles me achou inferior, vergável ao peso da cortesia num mundo sem complacência. Foi algo de tão vívido que ainda hoje recordo. Não, Djan, nome angolano, os homens são também uns cabrões uns para os outros. Conheço alguns, que se as fêmeas dissessem que copulavam com eles, se me matassem, me matariam. Não, os homens são piores, ou pelo menos os homens com mentalidade de carência. Não te recrimines meu doce, não é ódio, apenas luto pela minha ilusão. Afaguei-lhe a mão e retirei-me dizendo que tinha de assistir a um seminário de zoom, onde recebi a notícia de que os meus esforços académicos ficavam atrás do networking das instituições. A tipa que dava o seminário em merdas 3d do património, era elogiada pelo docente responsável, e mal conseguia esconder o prazer da sua individuação, pelo tremer de lábios, só comparável, deduzo à superação de uma difícil tarefa como a conquista do Evereste. Deitei-me para descansar, não fui capaz de dormir, e mandei-lhe uma mensagem, para que não se sentisse rejeitada. Eu não sou o filho da puta que coloniza a alma de outros.
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